Os festivais brasileiros recentes têm confirmado um fato: os filmes documentários estão melhores do que os de ficção. O que me parece na verdade uma tendência mundial. Mas embora o gênero atraia um público extremamente pequeno, quem sabe pode se expandir através de tevês por assinatura (no mundo todo), DVDs (até em escolas e palestras), ou seja crie uma espécie de circuito paralelo.
Em Gramado, o padrão de documentários era tão bom, que não vi todos. Mas apreciei particularmente este aqui, que foi um projeto muito pessoal da diretora Mara Mourão (“Alô?!” [1998] e o muito fraco “Avassaladoras” [2002]), já que o marido dela Wellington Nogueira, foi quem trouxe a idéia dos “Doutores da Alegria” para o Brasil. Conheci Wellington ainda no começo dos anos 80, quando ele me convidou para um projeto que não deu certo. Logo depois viajou para os EUA, onde foi estudar teatro musical, o que no fundo era um pouco prematuro para o nosso ambiente. Acabou se apaixonando pela idéia dos “Doutores” que o brasileiro conhecia apenas pelo filme “O Amor é Contagioso” (“Patch Adams” [98]) de Tom Shadyack, com Robin Williams.
Vencedor do prêmio do público e do júri, “Doutores” tem uma estrutura bastante cuidada, já que ela se preocupou sempre que os depoimentos nunca fossem estáticos, que tanto em São Paulo quanto no Rio, os participantes estivessem fazendo alguma coisa, esteticamente curiosa (caminhando a beira do Pão de Açúcar, andando de bicicleta, andando de pernas de pau numa casa bem iluminada, fazendo gestos num salão de festas no alto de um prédio antigo etc).
Enquanto cabe a Wellington falar sobre a parte histórica e didática. Realmente o trabalho que eles fazem - e de graça - é muito difícil. Vestidos de palhaços, atores profissionais (e pelo jeito, o grupo parece ter mais de 30) vão aos hospitais onde fazem visitas aos pacientes terminais (ou muito graves), em particular crianças, tentando de alguma forma alegrá-las usando técnicas milenares de palhaçada sem esquecer porções enormes de improvisação e intuição. Talvez o filme possa parecer um pouco alongado da metade para o fim, mas não há duvida de que tem momentos tocantes, principalmente quando registram o riso espontâneo das criancinhas que nem tem o menor motivo para serem felizes.
E por alguns instantes conseguem. Impossível não se emocionar, não se envolver. Procurem assisti-lo!. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 22 de setembro de 2005)