Crítica sobre o filme "Taxi Driver":

Jorge Saldanha
Taxi Driver Por Jorge Saldanha
| Data: 08/10/2007
É seguro dizer que Taxi Driver (1976), que consagrou o diretor Martin Scorcese, é um dos melhores filmes norte-americanos já feitos. É presença obrigatória nas listas de qualquer crítico, e seus méritos são indiscutíveis. Ele consegue agregar à típica produção de Hollywood aquela característica de obra com estilo pessoal, típica dos melhores filmes europeus. Paul Schrader, antes de tornar-se diretor, escreveu o roteiro descrevendo a progressiva degradação mental de um homem solitário, que ao final do processo resolve realizar um ato de desespero. É uma espécie de ensaio das razões que levam norte-americanos aparentemente normais (ou, pelo menos, pacíficos) a, de uma hora para outra, começarem a dar tiros nas pessoas.

Memoráveis são os monólogos que ouvimos enquanto o perturbado motorista de táxi dirige à noite pelas ruas, expressando seus sentimentos sobre a degradação urbana que presencia. Em um deles há uma citação ao ensaio de Thomas Wolfe God’s Lonely Man, que trata da solidão na existência humana. Mas as frases mais célebres do filme não são de Schrader. Na cena em que Travis pratica com suas armas na frente de um espelho, que pelo roteiro não deveria ter qualquer fala, o diretor Scorcese encorajou Robert De Niro a improvisar, e o ator teve a idéia de fazer Travis falar com uma pessoa imaginária. Como resultado, a seqüência onde Travis pergunta a si mesmo várias vezes “Você está falando comigo?†tornou-se a assinatura do filme. Aliás, a interpretação antológica de Robert De Niro foi um dos grandes trunfos do filme e firmou a parceria do ator com Scorcese – que, aliás, aqui faz uma ponta como um dos passageiros de Travis. Outros inestimáveis méritos da produção são a jazzística trilha musical composta pelo grande Bernard Herrmann, que faleceu logo após concluir as gravações, a fotografia de Michael Chapman, que soube transferir para filme o visual único e impressionista da paisagem noturna imaginada por Martin Scorsese, e o excelente elenco de apoio formado por Jodie Foster (à época ainda pré-adolescente), Cybil Sheperd, Peter Boyle e Harvey Keitel, que tiveram as carreiras alavancadas a partir de Taxi Driver. O clímax sangrento, que em produções posteriores revelou ser uma marca registrada do diretor, à época foi muito debatido.

O filme teve quatro Indicações ao Oscar® de 1976 (incluindo as de Melhor Filme e de Melhor Trilha Sonora Original) e não levou nenhum – o que prova que clássicos prescindem dessas premiações. Para finalizar, uma pequena nota para aqueles que acham que a discussão sobre a influência de filmes no comportamento violento das pessoas é algo relativamente novo: Em 1981 John Hinckley, que assistiu Taxi Driver várias vezes e ficou obcecado por Jodie Foster, disparou várias vezes contra Ronald Reagan, ferindo o então presidente e mais três pessoas. Apesar de todos terem sobrevivido, uma das vítimas, o Secretário de Imprensa James Brady, ficou permanentemente incapacitado. Hinckley, que com esse atentado quis chamar a atenção da atriz, para quem mandara anteriormente várias mensagens e não recebera resposta, foi colocado numa instituição psiquiátrica.