Crítica sobre o filme "Weeds - 1ª Temporada":

Fernanda Furquim
Weeds - 1ª Temporada Por Fernanda Furquim
| Data: 04/02/2008
A série Weeds, foi criada por Jenji Kohan, roteirista de episódios de Sex and the City e Will & Grace. Não se trata no entando de uma sitcom, ou mesmo de um drama. Weeds se encaixa na classificação de dramédia. Com seu humor negro e satírico, a série desconstrói a idéia do sonho americano, já visto em filmes como Beleza Americana ou Pleasantville. Esta, não apenas desestrutura a idéia da sociedade americana perfeita, mas, também, a estrutura das sitcoms que até o final dos anos 60 explorava a perfeição familiar, com raras exceções.

Weeds traz uma jovem viúva (Mary-Louise Parker) que, ao perder repentinamente seu marido, precisa assumir o sustento da casa e dos dois filhos, um adolescente, Silas (Hunter Parrish), e um pré-adolescente, Shane (Alexander Gould). Sem ter tempo de se organizar ou pensar na vida, ela entra em mundo novo e desconhecido quando passa a vender maconha para os abastados moradores do subúrbio em que mora. A maconha sempre foi vista como uma droga aceitável, mais inofensiva, medicinal, e, talvez por isso, tenha sido aceita com maior facilidade pelos produtores e pelo canal Showtime, que exibe a série nos EUA. Tendo sido oferecida primeiro à HBO, esta dispensou a história por considera-la imprópria visto envolver situações relacionadas a crianças. O Showtime, por ser um canal que está neste momento buscando idéias e roteiros com conteúdo que possam chocar o público e, assim, conquista-lo, aceitou imediatamente a idéia da série.

No entanto, Weeds não trata da cultura da maconha como uma forma de vida ou de diversão. A idéia da série é justamente o que está por trás do seu uso, ou da necessidade de seu uso. A decadência do sonho americano. Desde o 11 de setembro que os americanos, chocados com os atentados terroristas se perguntam: por que nos odeiam? Apesar da oportunidade em transformar os árabes em inimigos públicos na televisão, embora isso também ocorra, as produções não ficaram presas à idéia de torná-los terroristas de plantão; como ocorreu nos anos 50 e 60 com os comunistas. Ao contrário, essa reação de incredulidade com os atentados levou-os a olharem ainda mais para si, ao mesmo tempo em que promoveu uma abertura nos roteiros televisivos para que personagens de outras raças começassem a existir de fato.

Desta forma, algo que já estava aflorando nos cinemas e na literatura, tomou conta da televisão americana. A decepção social aparece nas séries desde o final dos anos 60, em função da crise econômica e social daquela década. Nos anos 80, ocorreu uma recuperação que tapou o sol com a peneira na maioria de suas produções. Essa peneira começou a cair agora, no século XXI. Weeds traz a desmoralização social que vem ocorrendo há décadas, mas sob o ponto de vista do universo feminino. Universo este que sempre foi utilizado pelas emissoras para suavizar a realidade do mundo, especialmente nas comédias.

Em Weeds temos dois universos femininos, o primeiro representado por Cecília (Elizabeth Perkins), a mulher experiente que se acomodou na vida com um marido rico e tenta se manter socialmente, cuidando das aparências, tanto familiar quanto pessoal. Mantém suas filhas em rédea curta e por isso elas a odeiam. Seu marido não lhe dá mais atenção, refugia-se na maconha. Muito embora saiba que a esposa se posiciona terminantemente contra. Cecília fica doente nesta primeira temporada o que faz com que ela reavalie sua vida e seu futuro.

Por outro lado temos Nancy (Mary-Louise Parker), jovem que está recém entrando no jogo do mundo. Luta para permanecer no subúrbio, para continuar a ser igual a todo mundo, mas ela sabe que não é. Ao iniciar suas operações de venda de maconha ela se impõe algumas regras, necessárias inclusive para que a série seja aceita e acompanhada pelo público: ela não usa a droga, não aceita que os filhos a utilizem e não aceita vender para crianças, apenas para adultos, os quais, em geral, se apresentam como pessoas que vivem uma vida patética. Com isso ela entra no universo que existe por detrás do verniz social apresentado em capas de revista ou nas telas do cinema e televisão e cultuado pela vida no subúrbio. Ela conhece os hábitos e os vícios de cada um e a forma como eles agem para mantê-los. Mesmo assim, continua querendo fazer parte disso.

A maconha poderia ser vista aqui como uma metáfora do capitalismo americano. Uma referência ao dinheiro e a necessidade obsessiva do americano em tê-lo e utiliza-lo para melhorar sua qualidade de vida, a qual chega a um patamar que torna suas vidas sem graça.

Apesar da atitude liberal de Nancy ela não consegue se relacionar com os filhos que ainda sentem a ausência do pai. Está sempre ausente, não participa de suas vidas, não conhece os sentimentos e opiniões deles e vice-versa, não sabe nem ao menos o que acontece dentro de sua própria casa. É aí que entra o tio Andy (Justin Kirk), que chega para ficar. Ele descobre o segredo de Nancy e exige fazer parte do jogo. Andy representa a liberdade de expressão e a vida sem compromissos que Nancy busca embora não aprove.

A escalação de elenco da série é uma das melhores dos últimos anos. Algo difícil para o grande número de atores, tanto principais, coadjuvantes ou figurantes, que desfilam pelos episódios. Com textos enxutos e objetivos, edição ágil e diálogos inteligentes, a 1ª Temporada de Weeds traz uma ótima evolução de situações ao longo de seus dez episódios. Temos aqui a trajetória de Nancy caindo nesse mundo como quem cai do céu em uma rodovia congestionada, e rapidamente precisa se adaptar mesmo não entendendo como as coisas funcionam. É a metáfora da mulher moderna que precisa equilibrar sua vida profissional com sua vida familiar; que precisa conquistar seu espaço no mercado de trabalho; se posicionar diante de um universo ainda masculino e ao mesmo tempo lembrar que é um ser humano carente e necessitado de afeto e atenção. (Fernanda Furquim – confira seu blog RevistaTV Séries)