Crítica sobre o filme "Jumper":

Rubens Ewald Filho
Jumper Por Rubens Ewald Filho
| Data: 17/07/2008

O realizador norte-americano Doug Liman quer trafegar com idêntica naturalidade na porção industrial do cinema e naquilo que a indústria pode permitir à manifestação da inteligência narrativa. Jumper (Jumper; 2008) é o filme mais bem sucedido de Liman, uma aventura infanto-juvenil em que, se o espectador se desligar das noções costumeiras de inteligência ou bom-senso, pode desfrutar de um entretenimento forte e agradável de ver. Num de seus primeiros trabalhos, Vamos nessa (1999), Liman exercitava um curioso experimentalismo comercial, mexendo os pontos de vista que chegavam ao espectador; seu megasucesso Sr. e srª. Smith (2005) era artificioso demais e preenchido com demasiada facilidade pelos astros Brad Pitt e Angelina Jolie; em Jumper, desequilibrando todas as verossimilhanças, Liman equilibra a naturalidade jovem de suas fantasias.

Em Jumper o cineasta tenta propor à platéia uma viagem sem limites. O protagonista, David Rice, é um “jumperâ€, um garoto que desde a infância descobriu que é capaz de “saltar†de um lugar para outro do mundo num instante tão breve quanto o pensamento ou o desejo; as trucagens para esta situação fantasiosa são bem-feitas por Liman e sua equipe, a despeito da necessária ingenuidade de todo o aparato. Sem apelar para os excessos digitais hoje em voga, Liman filma em Nova York, Paris, Tóquio, Praga, Egito, não por escrúpulos realistas (seu filme é uma fantasia libérrima), mas por amor à autenticidade visual do cinema.

Hayden Christensen vive a personagem central, Jamie Bell interpreta o outro “jumper†com que Rice topa e Rachel Bilson está na pele de Millie, a namoradinha que corre mundo com seu “jumperâ€; é um trio de intérpretes com os inevitáveis tropeços da linha interpretativa juvenil, mas com uma naturalidade cênica que escapou a Sr. e srª Smith, o estrelismo estorvante de Brad e Angelina. Entre as aparições maduronas, o ator negro Samuel L. Jackson como um “caça-jumpers†(chamados paladinos) e Diane Lane (vista em Infidelidade, 2002, de Adrian Lyne, como a esposa que guampeia Richard Gere) como a mãe do protagonista (ela é uma paladina e abandonou seu filho para não ter de matá-lo) desempenham com desenvolta ironia seus papéis.

Se o espectador for generoso (quiçá generoso demais) poderá ver nos embates entre “jumpers†e paladinos a eterna refrega entre rebeldes ousados e os repressores ao longo da história; alguém chega a falar na Inquisição num diálogo do filme. Mas aí a metáfora é excessiva e a inteligência não a sustenta. É um divertimento esperto tão-somente. (Eron Fagundes)

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Era para ter sido o primeiro blockbuster do ano, mas resultou num tremendo fracasso de crítica, mesmo com a direção do outrora exigente e eficiente Doug Liman - que fez o primeiro ‘Bourne‘ e ‘Sr. e Sra. Smith’ mas tem a reputação de brigar com os estúdios. Em parte também por insistirem em colocar no papel central, aquele esquisito Hayden Christensen de “Star Warsâ€, uma figura antipática e fria, que nunca poderá ser ‘leading man’. Mas muito pior do que isso é o roteiro de David Goyer (de ‘Blade‘ e ‘Ghost Rider‘) e Jim Ulhs (de ‘Clube da Luta‘) que, tenta nos fazer crer nos absurdos vilões fanáticos religiosos e que tem grandes recursos para sair pelo mundo perseguindo incessantemente os chamados jumpers, apenas com o pretexto de que eles desafiam as leis divinas. Mas nada no filme faz muito sentido e mesmo os efeitos especiais são meio duvidosos.

As besteiras são de todos os níveis, como entrar no Coliseu romano com a maior facilidade ou viajar de avião com dinheiro sem ninguém perceber apesar dos problemas de segurança atuais, até outros de menor credibilidade como a própria existência do chamado jumper. Pessoas que por alguma transformação genética não muito clara, podem se teletransportar para todas as partes do mundo numa fração de segundo. Ou seja, um jumper, pula de um lado para outro.

David Rice (Hayden) descobre que tem esse poder e o utiliza antes de tudo para roubar dinheiro de bancos, sem que ninguém perceba nada (cá entre nós não é exatamente a melhor coisa que um herói poderia fazer). Assim fica milionário e leva a vida que pediu a Deus ate quando resolve retornar a sua cidadezinha natal, para redescobrir a única garota que gostava dele (Rachel Bilson, de ‘O. C.‘, cada vez mais parecida com Brigitte Bardot). Leva-a numa viagem pelo mundo, quando percebe que não é o único com esse poder (Jamie Bell, de ‘Billy Elliot‘ se junta a ele) e tem esses inimigos ferozes que virão espalhar desordem proporcionando as cenas de ação.

Curiosamente  o filme começou a ser rodado com outro casal central (Tom Sturridge de ‘Adorável Julia‘ e Teresa Palmer, de ‘Um Verão para Toda a Vida‘) mas foram substituídos depois de 2 meses! O que deve ter encarecido demais o filme (seu orçamento estimado é de 85 milhões de dólares e sua renda foi bastante boa chegando aos 72 milhões).

O final deixa aberto a chance de continuação mas não parece provável, a não ser que saia direto para vídeo. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 4 de abril de 2008)