Crítica sobre o filme "Fim dos Tempos":

Edinho Pasquale
Fim dos Tempos Por Edinho Pasquale
| Data: 07/11/2008
O diretor indiano M. Night Shyamalan virou “cult†(cultuado) da noite para o dia quando lançou o realmente muito bom O Sexto Sentido. Depois dele, veio Corpo Fechado que, diferente de muitas outras pessoas, eu gostei. Afinal, era uma história “livre†sobre, no fundo no fundo, heróis de HQs - pelo menos uma brincadeira com a idéia deles em “pessoas reaisâ€. O problema é que O Sexto Sentido foi uma unanimidade e Corpo Fechado não. O que ninguém suspeitava, na época - os filmes citados foram lançados em 1999 e 2000, respectivamente - é que M. Night Shyamalan estava apenas começando a descer a ladeira.

Ele filmaria, depois, filmes controversos como Sinais (que eu odiei e outros amaram), A Vila (que também não me convenceu, mas que outros curtiram) e, em 2006, A Dama na Ãgua (um dos piores do diretor até então, na minha opinião). Sempre existem opiniões divergentes - ainda bem!!! - mas, em geral, pode-se dizer que os filmes foram cada vez mais desagradando aos fãs e à crítica.

A Dama na Ãgua foi bombardeando por todos os lados. Assim, eu estava curiosa para assistir a esse Fim dos Tempos porque queria saber se ele tinha conseguido ir ainda mais ladeira abaixou ou se, finalmente, tinha se recuperado um pouco da sequência de filmes ruins. E a verdade é que, ainda que não seja um filme realmente bom, pelo menos eu achei ele melhorzinho que os anteriores.

Algo têm-se que admitir: M. Night Shyamalan sabe como prender a atenção da platéia e tem o talento para construir cenas realmente desconcertantes. O início do filme é excepcionalmente bom - pena que apenas o início. Primeiro, a sequência de imagens de nuvens e música impactante dos créditos iniciais. Me fez lembrar as antigas sequências iniciais de filmes russos e italianos. Gostei muito, aliás, da direção de fotografia de Tak Fujimoto e da trilha sonora do geralmente ótimo James Newton Howard.

Fora a sequência dos créditos iniciais, a parte do filme anterior a apresentação do professor Elliot Moore realmente é muito boa. Os sintomas que afetam as pessoas, primeiro o da perda da fala, depois o da desorientação física - com perda de sentido de direção e, por fim, do suicídio coletivo, realmente é impactante. Aliás, talvez o filme não seja recomendado para os corações sensíveis - ainda que, geralmente, o diretor siga o seu lema de não mostrar propriamente a ação que provoca a morte mas, ainda assim, ele acaba mostrando o “depoisâ€. A verdade é que essa sequencia inicial é o que motiva o espectador a assistir a todo o resto, porque realmente é impactante ver as pessoas caindo de prédios como se fossem folhas de papel ou mesmo ver a tanta gente buscando formas de se matar de algum jeito. Incrível e angustiante.

O problema do filme começa quando aparece o Sr. Moore. Há tempos já eu não entendo a ironia dos roteiros de M. Night Shyamalan. O que ele parece achar cômico e engraçado eu acho apenas patético. Então as primeiras falas do personagem de Mark Wahlberg - e muitas das que ele ainda vai soltar durante o filme - são realmente intragáveis. Exemplos? Muitos, mas para começar o diálogo dele com o aluno Jake (Robert Lenzi) realmente é de chorar. Se bem que, pensando agora, talvez ele tenha construído todo o absurdo da cena para dizer que algumas vezes as teorias mais aceitas, até no meio científico, podem ser ditas até por um idiota que não tem nenhum interesse na ciência. Será isso, uma grande crítica a base da nossa sociedade atual - que aposta na ciência? Huuuummmmm… se for isso, desculpe, mas discordo dele. Acho até que atualmente se dá menos importância para a ciência e mais para aparências e o consumo do que se deveria. Mas enfim, nem tentarei entrar na cabeça de M. Night Shyamalan.

O problema é que o personagem de Elliot Moore não vai melhorando conforme o tempo do filme passa. A cada fala - em especial nos diálogos com a mulher Alma - ele parece mais limitado intelectualmente. Mas ok, se o personagem principal não convence, pelo menos as sequências de angústia seguem interessantes. O problema é que elas são poucas. Grande parte do filme se desenvolve em uma fuga que parece não ter fim - e nem direção. Depois, quando finalmente fica evidente a razão dos tais “ataquesâ€, o filme se torna ainda mais risível. (NÃO LEIA SE REALMENTE NÃO ASSISTIU AO FILME). Ok que nos últimos anos o assunto da vez é o aquecimento global, a “merda†que a Humanidade está fazendo com a Natureza e de como as gerações futuras - e até nós, atualmente - vão pagar por tudo isso, mas daí a escrever uma história em que as árvores, gramas e etc. se comunicam para exterminar os humanos como reação aos nossos abusos é um pouco demais, não? Ok, é um comédia e não um filme de suspense ou terror. Ah tá, agora entendi!!

Certo, o motivo pelo qual as pessoas são mortas pouco interessa, na verdade. Os “fins†aqui não justifica os meios e sim o que é contado antes do “grand finale†é o que interessa. Ainda assim, nem tudo antes é interessante. Como eu dizia antes, a maior parte dos diálogos é dispensável, cômicos mesmo, e uma boa parte da fuga incessante também se torna meio chata. Mas enfim, pelo menos achei melhor que A Dama na Ãgua e que Sinais. Se o diretor não consegue fazer diálogos que não pareçam descolados do que se está contando, ele pelo menos continua ótimo na escolha de planos de câmera e dos recursos para fazer uma história ser assustadora.

Ah, e antes que me esqueça: gostei também de uma pequena “discussão†que o diretor faz sobre o egoísmo das pessoas atualmente… Afinal, de que outra maneira se justificaria a morte “gratuita†dos dois garotos que acompanham o casal Moore em uma cidade do interior dos Estados Unidos. Foi uma maneira do diretor dar um tapa “com luva de pelica†nesta sociedade que parece tratar a idéia de dar um tiro em alguém para se proteger como algo perfeitamente aceitável. Afinal, é “só†uma vida que está lá fora. Achei bacana o fato dele nem mostrar os assassinos, afinal, eles poderiam ser qualquer um destes proprietários de casa e de armas que proliferam por aí. Muitos podem ver as mortes dos garotos como gratuitas e desnecessárias, mas perto de outras que o filme mostra, até achei estas com algum sentido crítico.

Também achei curiosa a participação de Frank Collison com um fazendeiro um tanto hippie e um tanto “maluco†(no fundo o mais racional do filme até então) e de Victoria Clark como a sua mulher. Os dois estão bem em seus papéis. Além deles, atuam no filme em papéis pequenos Jeremy Strong como o soldado Auster e Betty Buckley como a solitária e neurótica Mrs. Jones. Aliás, pensando nestes e em outros personagens, parece que o diretor e roteirista tentou, no fundo, fazer uma crítica disfarçada de suspense e com pitadas de comédia do que seriam vários estereótipos dos típicos “norte-americanos†- especialmente daqueles do interior do país. Só achei que, para variar, a neurose de M. Night Shyamalan em incluir crianças na história ficou outra vez forçada. Afinal, para que serve mesmo Jess na história? E não me digam que é o voto de “esperança†do diretor no futuro…

Enfim, um filme que está longe de ser bom, mas que pelo menos achei um pouco melhor do que os últimos do diretor. E por isso, apenas por isso, ele não receberá uma nota tão horrível por aqui. E também, admito, porque gostei muito das cenas iniciais, até entrar em cena o casal Moore - chato pra dedéu, diga-se. Ou seja: o filme de 90 minutos é bom realmente pelos primeiros cinco. hehehehehehehe. Agora eu fui má. A verdade é que ele ainda tem alguns bons sustos e cenas angustiantes depois que valem a pena.

O filme teria custado aproximadamente US$ 60 milhões, o que não deixa de ser interessante. Afinal, o anterior A Dama na Ãgua, que teria custado US$ 75 milhões, fracassou nas bilheterias, arrecadando nos Estados Unidos pouco mais de US$ 42,2 milhões. E, ainda assim, deram a fortuna de US$ 60 milhões para M. Night Shyamalan brincar… No fundo, eles tinham razão. O diretor parece ser daqueles que o público detona mas que, no final, assiste. Digo isso porque Fim dos Tempos arrecadou, até o dia 20 de julho, nos Estados Unidos, pouco mais de US$ 63,7 milhões. Ok que ele não irá encher o bolso dos estúdios de dinheiro, mas pelo menos ele já se pagou… o que é algo. Melhor que o anterior…

Eu não sei vocês, mas eu me irritei muito com a interpretação de Zooey Deschanel… não sei, parece que ela está “dopada†o filme inteiro, com aquele olhar perdido e umas frases desconexas. Certo que tais frases também são ditas por Mark Wahlberg e por quase todos os outros personagens, mas Zooey me irritou em especial. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)