Crítica sobre o filme "Ao Entardecer":

Edinho Pasquale
Ao Entardecer Por Edinho Pasquale
| Data: 13/12/2008
Fazia tempo que eu queria ver esse filme. Não gosto de ler resumos de produções que ainda não vi, nem gosto muito de ver trailers e tudo o mais porque acho que “estraga†algumas surpresas. Com esse meu vício, me sobram basicamente três alternativas para escolher um filme: pelo cartaz do mesmo; pelos nomes envolvidos no projeto (diretor, atores, roteirista) ou pela idéia geral da história ou a indicação de uma ou mais pessoas. Pois, foi pelos dois primeiros motivos que eu estava louca para ver a Ao Entardecer: o cartaz do filme é lindo e, além do mais, traz uma lista de nomes hiper talentosos. Como não assistí-lo? Bem, só vendo os nomes do resumo do filme já se tem uma idéia do quanto somente o elenco é atrativo, não? Mas ainda tem outros nomes em jogo. Como Claire Danes como a jovem Ann (maravilhosa no papel, lidando no tom exato com o humor, o romance e o drama), Meryl Streep interpretando a Lila Wittenborn, uma das melhores amigas de Ann (sim, até essa poderosa está no elenco, tendo a sorte de dizer duas das melhores frases do roteiro), Glenn Close como Mrs. Wittenborn, a mãe de Lila e de Buddy (ela está bem no papel, mas não faz nada demais… ainda assim, tem um momento para poder gritar como poucas atrizes de sua idades sabem fazer tão bem).

O elenco, realmente é impressionante. Ao menos a lista de nomes poderosos. Adiciono a ele o de Hugh Dancy como Buddy Wittenborn. Eu não conhecia esse ator, mas ele está perfeito no seu papel, ainda que tenha que interpretar, na maior parte do tempo, um jovem “bêbado e francoâ€, o que é relativamente fácil… hehehehehe. Fora a brincadeira, ele está perfeito em seu papel e faz, a partir do momento da “confissão a Ann†na noite do casamento da irmã, algumas das cenas mais bonitas em termos de interpretação do filme. Quando comecei a ver o filme e os créditos, outro nome que não está no cartaz de Ao Entardecer me chamou a atenção: Michael Cunningham como roteirista… meu cérebro identificou o nome como o de alguém que me parecia muito bom, mas não pensei mais a respeito. Ao final do filme, lembrei de As Horas, livro maravilhoso que ele escreveu e que rendeu o filme As Horas (que eu adoro!). Puxa, ele como roteirista explica muito do filme. Do estilo até o tipo de reflexão que a história faz. Ainda assim, fui descobrir depois, a história não é dele. Cunningham assina o roteiro junto a Susan Minot, mas os dois se baseiam no livro de Minot e não em uma história dele. Ainda assim, percebi muitas características do autor de The Hours no filme.

A primeira semente de dúvida se tudo que vemos no “passado†de Ann é verdade ou não é plantada pela filha dela, Nina. Ela não acredita que a mãe teria tantos “segredosâ€, como o de que sua grande paixão teria sido um cara chamado Harris, um nome que ela e a irmão nunca haviam ouvido falar. Um homem que não foi nenhum dos dois maridos de Ann. Nina também fica perplexa quando a mãe diz que ela e Harris mataram a Buddy. Enquanto Connie vê essas frases soltas ditas pela mãe no leito de morte como algo fantasioso, Nina quer saber mais, quer entender a mãe para, quem sabe, sentí-la mais viva outra vez. A segunda semente de dúvida se o que vemos é realidade ou mentira é plantada pela enfermeira de Ann, que diz que nesses “estado terminal†as pessoas sonham muito e que ninguém sabe o que é verdade ou o que é mentira. Gostei dessa idéia, de que tudo podia ser mentira - ou verdade, mas o filme depois resolve esse impasse no final. Ao mesmo tempo que foi bacana resolver, porque daí saem duas das melhores frases do roteiro, penso que também teria sido interessante seguirmos na dúvida.

As atrizes, quase não preciso dizer, estão maravilhosas no filme. Especialmente as intérpretes de Ann - Claire Danes e Vanessa Redgrave -, as filhas de Ann - Toni Collette e Natasha Richardson -, e Meryl Streep, como sempre. A “maldita†não tem muito tempo no filme, mas fala duas das frases que são, na minha opinião, as melhores do filme. Cacilda! Aquilo me fez pensar… e é verdade. Nós todos somos um grande mistério, temos um milhão de segredos… faz um tempo que eu falo isso, que por mais que alguém acredite que conhece outra pessoa, não conhece nem 10%, porque só a própria pessoa pode saber por tudo o que passou na vida. Mas as frases ditas por Lila vão além desse pensamento… porque ela também diz que, no fim das contas, grande parte do que fizemos - e fazemos muito quando vivemos muito como a personagem de Ann - não interessa. Putz! Que frase! E é verdade. Muitas vezes gastamos tanta energia, tanta história e, no fim das contas, poucas coisas realmente importaram. Caramba!

O filme me impressionou. Ele é perfeito na parte técnica - desde a direção de fotografia até o uso de figurinos e de cenário - e também no roteiro. As interpretações, como eu comentei, estão muito bem. Enfim, é desses filmes para assistir e recomendar.

O filme também chamou a atenção dos críticos dos Estados Unidos pelos nomes envolvidos no projeto. E chamou a atenção da imprensa pelos famosos que teve em sua pré-estréia em Nova York no final de julho de 2007. Na lista de nomes conhecidos, esteve na pré-estréia do filme Rachel Weisz, Felicity Huffman, além da maior parte do elenco do filme. Fiquei sabendo, só depois, que Ao Entardecer tem uma curiosidade bem interessante: Mamie Gummer, a atriz que interpreta Lila jovem, é filha de Meryl Streep, que interpreta a mesma personagem envelhecida.

O diretor de Ao Entardecer, que fez um trabalho perfeito, é o húngaro Lajos Koltai. Segundo o site IMDb, ele só tinha dirigido um filme antes: Sorstalanság, de 2005, que ganhou o festival de Copenhagen. Esse filme anterior conta a história de um garoto de 14 anos que é enviado a um campo de concentração. Koltai não é fraco!

Ao Entardecer arrecadou pouco mais de US$ 12,4 milhões nos Estados Unidos. Pouco. Mas enfim, já desisti de esperar que filmes bons sejam sucesso de público. Ainda mais se não tem um grande estúdio por trás para gastar milhões em publicidade, como é o caso desse filme. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)