Por Wally Soares
| Data: 14/08/2009
O novo filme live-action da Disney, A Montanha Enfeitiçada, é o estúdio caindo nas graças do conceito de refilmagem. O original, "Fuga para a Montanha Enfeitiçada", data à 1975, e não atingiu status de clássico. Teve, porém, uma sequência em 1978. Mais de 30 anos depois, o cinema mudou e os efeitos especiais atingiram ápices extraordinários. E é com esta noção que A Montanha Enfeitiçada trabalha em cima de seu enredo sobrenatural: os efeitos especiais comandam o espetáculo. O que não podiam fazer nos anos 70, o estúdio se esbanja hoje. Então o filme é recheado de efeitos especiais (satisfatórios, na maior parte das vezes), e nulo quando o assunto é mistério e magia. A Montanha Enfeitiçada pode ter um clima especial que remete à s ficções-cientÃficas dos anos 80, mas se limita a isso. A condução não traz nenhum efeito a não ser o da constante correria e frenesi. O que acaba trazendo à produção outro clima, este não desejado: o burocrático.
A história segue a chegada de uma nave espacial no planeta Terra e, com ela, dois irmãos – Sara (AnnaSophia Robb) e Seth (Alexander Ludwig) – de aparência humana e com podres sobrenaturais. Os irmãos vão parar no táxi de Jack Bruno (Dwayne Johnson), um ex-criminoso que anda sendo perseguido pelo chefão para voltar à bandidagem. Quando Jack acaba se envolvendo na fuga dos irmãos do governo americano (que insistem em encobrir qualquer evento relacionado à outro mundo), ele se vê obrigado a ajudá-los ao passo que eles surgem como a última esperança da humanidade. Jack então busca a ajuda da Dra. Alex Friedman (Carga Gugino), obcecada pelos estudos extraterrestres. Então o longa tem a vasta oportunidade de ser escapismo de primeiro. Existe o mistério quanto à origem dos alienÃgenas, todo a mitologia por trás deles e o envolvimento do governo nas questões relacionadas ao sobrenatural. Mas o roteiro Matt Lopez (Um Faz de Conta que Acontece) e Mark Bomback (A Lista – Você Está Livre Hoje? ) não ousa investir em nenhum dos elementos que renderiam uma sessão envolvente. Apostam, então, na ação.
E, como fita de ação, o filme tem o "benefÃcio" de ter a presença de Dwayne Johnson (Treinando o Papai) – que largou o apelido "The Rock" para se tornar um ator sério. E, olha, ele quase almejou isto com seu papel interessante em Southland Tales – O Fim do Mundo. Mas Dwayne Johnson ainda é o caricato ator de fitas de ação exageradas, ainda que surja neste filme com um pouco do carisma que trouxe à outra empreitada da Disney, o afável e pobre Treinando o Papai. A questão é que o delineamento do personagem não ajuda e, nem por isso, os diálogos superficiais. Quem surge no elenco com algo a oferecer é AnnaSophia Robb (Jumper) em mais uma boa atuação. Já seu irmão, Alexander Ludwig (Os Seis Signos da Luz) é totalmente inexpressivo. Carla Gugino (Watchmen – Contos do Cargueiro Negro) e Ciáran Hinds (O Corajoso Ratinho Desperaux) são boas adições mas, mais uma vez, são atuações claramente corrompidas pela mediocridade do texto.
A direção ficou à cargo de Andy Fickman, que dirigiu Dwayne Johnson no fraco Treinando o Papai, mas que havia feito anteriormente o divertido Ela é o Cara. Fickman sabe manusear os efeitos especiais (ainda que reserve um ou dois momentos de artificialidade), e consegue dar um bom ritmo ao filme. Dois elementos imprescindÃveis para cativar o público mais jovem (o alvo da produção). Em sÃntese, A Montanha Enfeitiçada é um tÃpico filme famÃlia da Disney revestido sob camadas de fantasia e ação. Então, ao chegar nesta conclusão simples, é preciso perdoar suas limitações em drama e personagem. De qualquer forma, ainda acredito que seja possÃvel – e vários filmes já provaram isto – que se pode fazer um filme famÃlia sem descambar para o usual e esquecer do verdadeiro valor cinematográfico. A Montanha Enfeitiçada surge diversas vezes ambicioso e Fickman pode em vezes acertar, mas o problema maior aqui é a frivolidade do roteiro. Então o filme nunca se vê alçando vôo, e fica preso nas suas limitações.
De forma descomprometida, é possÃvel encontrar em A Montanha Enfeitiçada uma obra de entretenimento fácil, que provavelmente conseguirá divertir seu público alvo com sua ação desenfreada e humor simplório (e efeitos extravagantes). Mas ele nunca vai almejar ser mais do que uma fita do gênero banal e esquecÃvel. Porque falta-lhe a magia, e falta-lhe uma linguagem própria. O filme bebe demais das fontes do cinema contemporâneo, e insiste nos mesmos frequentes erros que os filmes nos quais se inspira. Então você pode até tentar, mas será um trabalho árduo encontrar na obra burocrática algum elemento sóbrio, ainda que reserve seus ocasionais acertos. No final das contas, é pouco demais.