Admito que ficou um pouco difĂcil de comentar HEROES, principalmente apĂłs os problemas decorrentes da greve dos roteiristas que truncou sua segunda temporada e das tentativas, digamos, “complicadas” de Tim Kring e demais produtores para recolocar as coisas no devido lugar. Dividido em dois volumes (“Vilões” e “Fugitivos”), o terceiro ano do programa permanece intrincado, e ainda com bons momentos – mas nĂŁo raro os personagens e as tramas parecem estar perdidos, sem saber que rumo tomar. E neste sentido, os já referidos dois volumes sĂŁo tĂŁo parecidos quanto água e vinho, e o espectador fica sem saber afinal qual Ă© o estilo que melhor define a sĂ©rie.
Um dos maiores valores de HEROES, mas que tambĂ©m Ă© o inĂcio de seus problemas, sĂŁo seus personagens regulares. Há um excesso deles, o que leva os roteiristas a ter de escrever demasiadas histĂłrias e arcos, que ao final acabam sendo resolvidos (ou nĂŁo) de forma insatisfatĂłria. O interessante Ă© que originalmente a sĂ©rie nĂŁo teria um elenco fixo, porĂ©m Kring acabou cedendo Ă formula dos personagens fixos, e a primeira temporada iniciou com nada menos que 12 deles – nĂşmero que posteriormente aumentou. Esta terceira temporada destaca principalmente Claire Bennet (Hayden Panettiere), seu pai Noah (Jack Coleman), Hiro Nakamura (Masi Oka) e seu parceiro Ando Masahashi (James Kyson Lee), Matt Parkman (Greg Gunberg), Mohinder Suresh (Sendhil Ramamurthy), Tracy Strauss (Ali Larter) e o vilĂŁo principal Sylar (Zachary Quinto). Claro que tambĂ©m temos a problemática famĂlia Petrelli, formada pela matriarca Angela (Cristine Rose), Nathan (Adrian Pasdar), Peter (Milo Ventimiglia) e o pai que todos pensavam morto, interpretado pelo veterano Robert Forster.
Como que para compensar a lentidĂŁo da curta temporada anterior, o volume “Vilões” inicia em alta voltagem, e como o tĂtulo indica traz uma galeria inteira de vilões com habilidades paranormais para confrontar os herĂłis. Isso leva Ă criação de parceiras impensáveis, como a de Sylar e Noah, que por obra de Angela se unem para caçar os vilões. Mais personagens sĂŁo introduzidos ou retornam, como a elĂ©trica Elle (Kristen Bell) e a rapidĂssima Daphne Millbrook (Brea Grant). A coisa esquenta de vez quando se descobre que o patriarca dos Petrelli está vivo, tambĂ©m possui poderes e planeja usar um exĂ©rcito de vilões para realizar seu plano – dar poderes a todas as pessoas. Indiscutivelmente divertido, este segmento paga um maior tributo Ă grande inspiração da sĂ©rie – os quadrinhos -, porĂ©m Ă s vezes há excessos (como os momentos “A Mosca” de Mohinder) que lembram a risĂvel novela tupiniquim OS MUTANTES, que era uma espĂ©cie de versĂŁo hiper-trash de HEROES.
Já no segundo volume, “Fugitivos”, o ritmo volta a diminuir e nota-se a preocupação (nĂŁo totalmente bem sucedida) de desenvolver uma trama mais sĂłlida, que remete diretamente Ă s origens dos poderes dos HerĂłis. Vemos Nathan de volta Ă polĂtica, e liderando uma equipe secreta do governo que caça as pessoas com habilidades especiais, consideradas uma ameaça. Sylar, por sua vez, antes de enfrentar a equipe de Nathan, sai em uma jornada pessoal a fim de acertar as contas com seu verdadeiro pai, que o abandonou ainda bebĂŞ. Aliás, um dos mĂ©ritos da sĂ©rie Ă© ter mantido Sylar como um dos melhores e mais complexos personagens da TV atual, com todos os problemas de seu passado, a busca por uma identidade e, obviamente, sua pura malignidade. Muitos disso se deve a Quinto, que dá ao papel a nuance e ironia que sĂŁo caracterĂsticas dos maiores vilões.
Apesar de todos os percalços encontrados pelo caminho, a sĂ©rie tambĂ©m tem o mĂ©rito de nunca deixar de mostrar que seus personagens (herĂłis ou vilões) sĂŁo, acima de tudo, humanos, e portanto sujeitos a todas as fraquezas e falhas de qualquer pessoa comum. Ironicamente, isso Ă© visto como um defeito por muitos, que prefeririam ver os personagens como super-herĂłis ou super-vilões idealizados. Eles esquecem, no entanto, que a Marvel já há dĂ©cadas investiu na humanização de seus personagens, e ao fazer isso criou verdadeiras obras-primas que, merecidamente, transcenderam as páginas dos gibis e hoje sĂŁo Ăcones de qualquer mĂdia. E Ă© exatamente por isso que ainda mantenho minha fĂ© em HEROES. Pelo menos atĂ© que comece a assistir a quarta temporada...