Crítica sobre o filme "Heroes - 3ÂŞ Temporada":

Jorge Saldanha
Heroes - 3ÂŞ Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 07/11/2009

Admito que ficou um pouco difícil de comentar HEROES, principalmente após os problemas decorrentes da greve dos roteiristas que truncou sua segunda temporada e das tentativas, digamos, “complicadas” de Tim Kring e demais produtores para recolocar as coisas no devido lugar. Dividido em dois volumes (“Vilões” e “Fugitivos”), o terceiro ano do programa permanece intrincado, e ainda com bons momentos – mas não raro os personagens e as tramas parecem estar perdidos, sem saber que rumo tomar. E neste sentido, os já referidos dois volumes são tão parecidos quanto água e vinho, e o espectador fica sem saber afinal qual é o estilo que melhor define a série.

Um dos maiores valores de HEROES, mas que também é o início de seus problemas, são seus personagens regulares. Há um excesso deles, o que leva os roteiristas a ter de escrever demasiadas histórias e arcos, que ao final acabam sendo resolvidos (ou não) de forma insatisfatória. O interessante é que originalmente a série não teria um elenco fixo, porém Kring acabou cedendo à formula dos personagens fixos, e a primeira temporada iniciou com nada menos que 12 deles – número que posteriormente aumentou. Esta terceira temporada destaca principalmente Claire Bennet (Hayden Panettiere), seu pai Noah (Jack Coleman), Hiro Nakamura (Masi Oka) e seu parceiro Ando Masahashi (James Kyson Lee), Matt Parkman (Greg Gunberg), Mohinder Suresh (Sendhil Ramamurthy), Tracy Strauss (Ali Larter) e o vilão principal Sylar (Zachary Quinto). Claro que também temos a problemática família Petrelli, formada pela matriarca Angela (Cristine Rose), Nathan (Adrian Pasdar), Peter (Milo Ventimiglia) e o pai que todos pensavam morto, interpretado pelo veterano Robert Forster.

Como que para compensar a lentidão da curta temporada anterior, o volume “Vilões” inicia em alta voltagem, e como o título indica traz uma galeria inteira de vilões com habilidades paranormais para confrontar os heróis. Isso leva à criação de parceiras impensáveis, como a de Sylar e Noah, que por obra de Angela se unem para caçar os vilões. Mais personagens são introduzidos ou retornam, como a elétrica Elle (Kristen Bell) e a rapidíssima Daphne Millbrook (Brea Grant). A coisa esquenta de vez quando se descobre que o patriarca dos Petrelli está vivo, também possui poderes e planeja usar um exército de vilões para realizar seu plano – dar poderes a todas as pessoas. Indiscutivelmente divertido, este segmento paga um maior tributo à grande inspiração da série – os quadrinhos -, porém às vezes há excessos (como os momentos “A Mosca” de Mohinder) que lembram a risível novela tupiniquim OS MUTANTES, que era uma espécie de versão hiper-trash de HEROES.

Já no segundo volume, “Fugitivos”, o ritmo volta a diminuir e nota-se a preocupação (não totalmente bem sucedida) de desenvolver uma trama mais sólida, que remete diretamente às origens dos poderes dos Heróis. Vemos Nathan de volta à política, e liderando uma equipe secreta do governo que caça as pessoas com habilidades especiais, consideradas uma ameaça. Sylar, por sua vez, antes de enfrentar a equipe de Nathan, sai em uma jornada pessoal a fim de acertar as contas com seu verdadeiro pai, que o abandonou ainda bebê. Aliás, um dos méritos da série é ter mantido Sylar como um dos melhores e mais complexos personagens da TV atual, com todos os problemas de seu passado, a busca por uma identidade e, obviamente, sua pura malignidade. Muitos disso se deve a Quinto, que dá ao papel a nuance e ironia que são características dos maiores vilões.

Apesar de todos os percalços encontrados pelo caminho, a série também tem o mérito de nunca deixar de mostrar que seus personagens (heróis ou vilões) são, acima de tudo, humanos, e portanto sujeitos a todas as fraquezas e falhas de qualquer pessoa comum. Ironicamente, isso é visto como um defeito por muitos, que prefeririam ver os personagens como super-heróis ou super-vilões idealizados. Eles esquecem, no entanto, que a Marvel já há décadas investiu na humanização de seus personagens, e ao fazer isso criou verdadeiras obras-primas que, merecidamente, transcenderam as páginas dos gibis e hoje são ícones de qualquer mídia. E é exatamente por isso que ainda mantenho minha fé em HEROES. Pelo menos até que comece a assistir a quarta temporada...