Crítica sobre o filme "Resident Evil 4: Recomeço":

Jorge Saldanha
Resident Evil 4: Recomeço Por Jorge Saldanha
| Data: 09/02/2011
É difícil analisar criticamente os filmes da franquia RESIDENT EVIL, baseados na famosa série de games da Capcom. Basicamente ela é uma propriedade do diretor/roteirista Paul W. S. Anderson e de sua “patroa†Milla Jovovich, que fazem neles o que bem quiserem. Nada contra Milla, que acabou se consagrando como heroína de ação nesses filmes. O grande problema desde o início foi Anderson, que atraiu a ira da maioria dos fãs dos games por se afastar da mitologia e cronologia neles estabelecidas. Para começar tornou a personagem de Milla, Alice - que não existe nos jogos -, a protagonista da série; e a partir do filme anterior a este, RESIDENT EVIL 3: A EXTINÇÃO, dissociou de vez os filmes dos jogos ao criar um apocalipse-zumbi que neles nunca ocorreu.

Anderson não é um diretor catastrófico do calibre de Uwe Boll, cuja especialidade é transformar outros jogos de sucesso como HOUSE OF THE DEAD e ALONE IN THE DARK em bombas cinematográficas, mas o que atrapalha é a sua insistência em também escrever os roteiros, usualmente ruins. Com Anderson empregando a mesma tecnologia 3D de AVATAR, RESIDENT EVIL 4: RECOMEÇO começa bem, fazendo uma homenagem à raízes japonesas do jogo. Na sequência dos créditos iniciais, filmada em câmera lenta na chuva, vemos o primeiro ataque de um zumbi nas ruas de Tóquio, para logo avançarmos no tempo até o ataque de Alice e suas cópias à sede da Umbrella Corporation. Todo esse segmento remete à estética MATRIX, com o diretor conduzindo com eficácia uma série de cenas de ação que levam o efeito bullet time à era da terceira dimensão.

Porém mesmo aqui já vemos os problemas que permeiam a produção: o diretor inicia com um segmento que, de tão frenético, deveria estar no final do filme, e onde abandona qualquer lógica em favor do impacto visual. Por exemplo, se todas as clones (como fica bem claro para o espectador), tinham em alguma medida os poderes de Alice, para que perder tempo dando tiros, chutes e espadadas nos soldados da Umbrella? Seria muito mais fácil se elas simplesmente arrasassem o QG com seus poderes mentais, e ponto final. Mas isso não acontece, e posteriormente as clones são facilmente destruídas pelo vilão Wesker (Shawn Roberts), que a bordo de uma aeronave dá uma injeção na Alice original e lhe retira os poderes. Esta parte inicial termina de forma ainda mais non sense: por estar ocupado com Alice Wesker esquece (!) de pilotar o avião, que acaba explodindo nas encostas do Monte Fuji. Mas - surpresa! - inexplicavelmente Alice escapa inteira, e tudo isso é só uma amostra do que está por vir.

Anderson diz respeitar os fãs de RESIDENT EVIL, mas se recusa a fazer o que eles querem: uma adaptação fiel dos jogos. Prefere inserir no seu roteiro personagens dos games como Wesker, a heroína Claire Redfield (Ali Larter) e seu irmão Chris (Wentworth Miller), e até mesmo recria fielmente algumas cenas do jogo mais recente, RESIDENT EVIL 5. Ele também emprega monstros do jogo, como os zumbis com tentáculos que saem da boca, os cães cujas cabeças de dividem pela metade e o mais incrível deles, o Executor. Este, com seus quase três metros de altura, no jogo RESIDENT EVIL 5 era o carrasco de um vilarejo da Ãfrica, que decepava suas vítimas com golpes de um imenso machado. A cena de seu confronto com Claire é boa, porém sua aparição em plena Los Angeles devastada, com seu machadão, cabeça encapuzada e tudo o mais, não faz o menor sentido.

No jogo, a aparição destes novos zumbis e monstros está inserida no contexto da história: aqui, são forçadamente empregados para “satisfazer aos fãsâ€, e no final resultam numa colagem de elementos que não combinam com a trama bolada por Anderson. Poderia continuar a apontar defeitos no filme (nem cheguei a falar na péssima e barulhenta trilha musical do duo Tomandandy), mas não vale o esforço. Até porque, se levada em consideração a minha avaliação, você notará que não achei o filme totalmente ruim. O fato é que consigo me divertir com estes filmes de RESIDENT EVIL porque não os levo a sério e os encaro apenas como descerebrados filmes B com razoáveis valores de produção. E pelo jeito não sou o único a me divertir com a mistura de garotas, zumbis e 3D, já que este foi o título mais rentável da série e seu final, totalmente em aberto, indica que em breve teremos um quinto filme, trazendo de volta uma interessante personagem que sumiu sem explicação após RESIDENT EVIL 2: APOCALIPSE. Só espero que, da próxima vez, Anderson deixe outra pessoa escrever o roteiro.