Crítica sobre o filme "Incontrolável":

Rubens Ewald Filho
Incontrolável Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/05/2011
Em Portugal o título é (juro) Imparável, diz o IMDB! Aqui virou apenas Incontrolável que não é a mesma coisa, mas dá uma ideia do que é este primeiro bom filme de ação do ano! Para mim, uma surpresa porque faz tempo que perdi as esperanças no diretor Tony Scott (aliás, também no irmão dele, Ridley Scott, que ultimamente tem feito muita besteira).

Mas com Tony tem sido ainda pior, porque ele inventou uma narrativa de câmeras múltiplas (de diversas bitolas), com câmeras na mão (dando aqueles soquinhos), que tem resultado em filmes insuportáveis (como Domino - A Caçadora de Recompensas) ou que não rolaram (como O Sequestro do Metrô) ou que simplesmente eram violentos demais (Chamas da Vingança, estes dois últimos também com Denzel Washington).

Mesmo este Incontrolável não teve o sucesso esperado e merecido nos EUA onde não passou de US$ 80 milhões (R$132,8 milhões) para um orçamento de US$ 100 milhões (R$ 166 milhões)! Mas acreditem, tudo aqui funciona como deveria, mantendo o espectador em constante tensão, tecnicamente espetacular. Não apenas nas cenas de ação e descarrilamento, mas principalmente na forma em que fotografam os atores dentro das cabines do trem, os helicópteros da televisão, ainda mais se considerando que Denzel tem medo de altura e teve que quase sempre ser substituído por dublê enquanto o rapaz Chris Pine (Star Trek) teria sido feito realmente as cenas de perigo.

A história é inspirada em fatos reais ainda que apimentadas (a gente fica estranhando, porque eles criam um clima mostrando um trem de crianças em férias onde supomos que seria o clímax de tudo. Mas eles desaparecem). No fato real não havia realmente toneis altamente explosivos debaixo daquela curva perigosa. O fato real aconteceu em Toledo, Ohio, em 15 de maio de 2001, quando uma locomotiva saiu andando sem seu condutor, passando por três municípios antes de finalmente ser parada.

Aqui tudo é mais emocionante: ela realmente sai andando, só que em alta velocidade (mistura de azar com erro do “pilotoâ€) carregada com uma carga altamente perigosa e corre o risco de provocar um gravíssimo acidente, destruindo mesmo tudo ao redor de onde colidir. As primeiras tentativas de pará-lo não dão certo (mas as cenas são ótimas) o que leva dois ferroviários a tentar um lance arriscado: se engatarem no trem para assim diminuir sua velocidade. Se não é verossímil a gente nem percebe porque tudo é muito bem feito e o roteiro vai esquentando. Assim os diretores da Ferrovia estão mais preocupados com a repercussão do caso do que com a segurança real das pessoas (é incrível como os filmes atuais americanos refletem a descrença nas autoridades e no poder constituído).

Também há um drama humano: Pine é um jovem iniciante na prática do trabalho, comete erros porque estaria arrasado com um incidente que fez com que a esposa conseguisse uma ordem que o impede de ver ou chegar perto do filho. E Denzel é o veterano mandão, que depois se fica sabendo, já foi mandado embora da empresa e esta cumprindo seus últimos dias (ele também tem duas filhas trabalhando na lanchonete “Hootersâ€, onde elas vestem trajes sumários). E no papel da pessoa que controla a missão esta Rosario Dawson (que funciona).

É raro ultimamente eu me envolver com um filme de ação e respeitar não apenas o resultado como sua execução. Tanto que o prêmio Satellite o indicou aos prêmios de melhor de foto, montagem, trilha, mixagem e efeitos especiais (tão bons que a gente não percebe quando são digitais!). Quem gosta do gênero não deve perder. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de janeiro de 2011. Rubens tem um blog exclusivo no portal R7)