Será filme ou videogame? Esse é um dilema dos blockbusters atuais, que sempre se sentem na obrigação de também darem origem a um jogo e por isso sempre têm seqüências altamente fantasiosas e movimentadas. Alguns porém não passam de videogames alongados (como Van Helsing e Riddick). Deste mal, Eu, Robô não sofre. Tem duas ou três seqüências altamente estilizadas e artificiais que parecem games (em particular a perseguição na estrada), mas em geral é uma antiquada história de robôs e conspirações em grande corporações. Fácil de assistir, mas também pouco memorável. É aquilo que chamam de filme pipoca, para ver e esquecer. O que não deixa de ser esquisito quando se pensa que é finalmente, a versão para o cinema do célebre livro de Issac Asimov que criou as três leis da robótica (que basicamente dizem que as máquinas nunca podem atacar os humanos). Assim nos créditos fica claro que a fita é apenas inspirada no livro. Preferiram deixar aprofundamentos para outra oportunidade, talvez preocupados com o fracasso de O Homem Bicentenário com Robin Williams, que também era baseado em Asimov e que mexia com temas existenciais. Aqui, nada disso. É ação e pronto.
Todo filme de robô se parece (Ok, Mulheres Perfeitas é uma exceção porque no final das contas - será que já se pode contar? -, elas não são bem robôs, têm apenas uns chips a mais!). Por isso, que vendo esta fita a gente se lembra de 2001- Uma Odisséia no Espaço; Minority Report (os efeitos são parecidos) e tantos outros (o filme também faz referências cinematográficas explicitas com Frankenstein, Drácula, Lobisomen e até Freaks). O fato é que o diretor Alex Proyas (O Corvo, Dark City) preferiu seguir seu gosto e criar um mundo totalmente artificial, nada realista. Assim achou ele fica mais fácil aceitar a Chicago de 2035 onde se passa a história. Will Smith, fortão desde Ali, é quem faz o herói (aliás, ele consegue dar um foco central à história convencendo como protagonista) Del Spooner, um policial que desconfia das máquinas (de tal maneira que a gente pense que ele também é um robô). Mas não estava enganado, quando desconfia que há algo errado na grande corporação que os cria, a American Robotics. Principalmente quando vão lançar um novo modelo. Tudo começa quando o cérebro por trás de tudo, o cientista James Cronwell se suicida. Ou será que foi assassinado? É o que pensa Smith, tentando também convencer a parceira do morto, Bridget Monayahan (O Novato, A Soma de Todos os Medos).
O fato é que há um robô da nova geração, que usa o nome de Sonny, que é muito suspeito e parece saber demais. Poderia muito bem se chamar A Revolução dos Robôs porque é justamente isso que sucede em determinado momento. Então o forte do filme são os efeitos digitais, eficientes mas, não especialmente novos (tanto que o ator Alan Tudyk serviu de base para fazer o personagem de Sonny mais ou menos como fizeram em O Senhor dos Anéis com Gollum). Mas já que os temas sérios são descartados resta a eficiência geral da empreitada (que inclui por sinal várias e até exageradas ações de merchandising) aparentando onde o orçamento de mais de cem milhões foi gasto. Até em algumas frases do roteiro (Vamos sentir saudades dos bons tempos em que apenas gente matava gente).
Ou seja, assistir não faz mal. Nem acrescenta muito.