Crítica sobre o filme "Solaris":

Eron Duarte Fagundes
Solaris Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 30/04/2004

Para que serve uma crítica de cinema? Para recomendar um filme? Absolutamente: neste caso bastaria ao jornalista dizer ao público leitor que vá ver tal filme, porque é bem feito, tem bons atores, conta bem sua história, diverte ou faz chorar, coisas assim bastante estereotipadas e superficiais. Por que é que algumas pessoas escrevem sobre cinema? Por que especialmente eu decido por comentar filmes? A quem me dirijo, que diabo me move? Gosto muito de escrever e gosto de pensar que as pessoas que lêem sobre cinema (que está bastante longe de se tratar de todas as pessoas que vão ao cinema) têm uma curiosidade intelectual muito grande, mesmo que ignorem quem foi o italiano Michelangelo Antonioni e o russo Andrei Tarkovski possam ser estimuladas a indagar sobre eles ao lerem o título deste artigo que busca analisar o filme do norte-americano Steven Soderbergh chamado Solaris (2002).

Em 1972 o cineasta russo Tarkovski levou ao cinema uma primeira versão do romance escrito pelo polonês Stanislaw Lem. Era um filme tão lento quanto metafísico, e sua lentidão vinha muito de sua metafísica que exigia planos-seqüência cheios de absurdos movimentos de câmara; um dos pontos altos da realização de Tarkovski era sua pesquisa de cores, e um momento belíssimo de imagem era o superplano aéreo do final da narrativa em que o desgarrado protagonista voltava à terra.

Mas o filme de Soderbergh (que já realizou obras mais pessoais do que este pastiche) parece beber mais na lentidão existencial de Michelangelo Antonioni; as relações do casal e as discussões sobre a existência de Deus não são as mesmas elaboradas por Tarkovski, tudo se aproxima muito do cerebralismo específico de Antonioni, de quem Soderbergh se revelou um epígono em sua prestigiada filmografia anterior (o pouco visto O estranho, 1999, tem características antonianas). De qualquer maneira, o Solaris de Soderbergh é uma obra a considerar, a existência de um cérebro num planeta cinematográfico (o cinema americano habitual) tão desprovido do dito.

Voltando à vaca fria, uma crítica de cinema autêntica é um mergulho no passado visando ao futuro.