Crítica sobre o filme "Transcendence - A Revolução":

Rubens Ewald Filho
Transcendence - A Revolução Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/06/2014

Este é o quarto fracasso seguido de Johnny Depp (após o decepcionante Sombras da Noite, Diário de um Jornalista Bêbado e o mega desastre O Cavaleiro Solitário) o que vem comprometer sua posição de astro que ganha 20 milhões por filme e se especializa em personagens bizarros. O que não lhe parece incomodar porque no momento tem pelo menos seis outros filmes grandes previstos (inclusive Into the Woods com Meryl Streep) e talvez mais um Piratas do Caribe. Aos 51 anos, não dá a impressão de que sua carreira esta abalada (desastres já teve muitos antes, lembre de O Turista). O resultado afeta muito mais o produtor Christopher Nolan (da série Cavaleiro das Trevas) que foi quem patrocinou a ideia de que seu diretor de fotografia de estimação iria dirigir,  enquanto Nolan assumia o ainda mais ambicioso Interestelar (previsto para estrear aqui em novembro) com Matthew McConaughey e Anne Hahaway. O fotógrafo aqui será o suíço Hoyte Van Hoytema que fez Ela e O Vencedor. O diretor deste filme aqui se chama Wally Pfister, é americano, e trabalha com Nolan desde seu primeiro êxito, Amnésia, passando por todos os seguintes. Nolan achou o projeto (da Lion´s Gate) perfeito para sua estreia como realizador (e ambos continuam defendendo o uso de película em 35mm, agora ameaçada de acabar. Ele rejeitou inclusive  usá-lo como intermediário). Enfim, o filme custou 100 milhões de dólares e teve de bilheteria nos EUA  22 milhões e 55 no exterior.

A gente já adivinha que é filme de fotógrafo quando aos 3 minutos de projeção ele apresenta num jardim uma gota de água caindo em câmera lenta de uma folha! OK, sempre bonito, mas que tem nada a ver com o resto. Johnny Depp surge com o cabelo revolto mas menos excêntrico que costume falando com sua mulher (Rebecca Hall, de Vicky Cristina Barcelona) num momento idílico. Logo depois já esta se organizando um atentado à vida do cientista Depp num grande auditório, mas o suspense é mínimo. Falam em curar o planeta, acabar com doenças como câncer e Alzenheimer. E entra o Doutor Will Caster. 11 minutos explode uma bomba (dentro de bolo de chocolate!) e mata a equipe. Salva-se Morgan Freeman. E Will seria atingido por um matador anônimo à queima roupa de um grupo contra a evolução científica. De qualquer forma é bom ficar sabendo desde já que o filme irá terminar com outra flor, um girassol e outras gotas d´água como fotógrafo gosta.

Falavam muito que era uma história a lá Frankenstein, um thriller futurista inquietante e provocador. Não o que eu assisti, que não passa da uma história morna, sem graça, que Depp interpreta como se estivesse em coma alcoólico, absolutamente apático. Ele relativamente baixo não combina nada com esguia inglesa que faz sua companheira. Enquanto o assistente deles, Max (Paul Bettany) está cada vez mais parecido com o José Wilker. Na confusão entra também uma equipe do FBI (liderada por outro protegido de Nolan, Cillian), o já mencionado amigo Freeman e naturalmente a vilã (a sinistra Kate Mara de House of Cards). O que podia ser interessante é que conseguem “upload” a consciência humana num sistema de internet de inteligência artificial de tal forma que ele poderia controlar tudo. Não é uma ideia nova, mas certamente poderia ser melhor explorada e desenvolvida. O roteiro do filme é banal, e ao contrario do que tinha imaginado, de que o fracasso havia sido porque o filme era complicado demais, ele resulta banal, com a velha lição moral de cientista louco, que a principio vai dando certo, limpando as cidades de crimes, até desafiar certas regras morais. Mas nem pense que isso é interessante ou provocador. Há pouca ação e nem o visual é interessante. Chega mesmo a cair em clichês de Zumbis e Robôs, que certamente deveriam ser mais empolgantes. Achei divertido o crítico americano que disse que Depp sintetiza sua interpretação pelo Skype.  Pseudo-ficção científica de segunda categoria.