Crítica sobre o filme "Elsa & Fred":

Rubens Ewald Filho
Elsa & Fred Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/02/2015

Por uma série de razões só agora consegui assistir esta refilmagem de um sucesso argentino de alguns anos atrás que foi alias dos primeiros filmes dedicados à Terceira Idade e trazia uma bela interpretação de uma atriz uruguaia China Zorrilla (1922-2014). Esta nova versão transposta agora para New Orleans, bem mais fotogênica do que o resto da América (ao menos tem bondes e casas) foi feita pelo inglês Radford de O Carteiro e o Poeta. Mas não fez o sucesso esperado. Sua bilheteria nos EUA foi insignificante, certamente porque não souberam vende-lo como deviam e para o público certo. Até porque o filme comete o erro de criar personagens secundários em excesso (a ponto de que os protagonistas não tem  nem grande chance de mais e melhores momentos).  Mas a dupla central está em forma, Christopher Plummer irascível e mal humorado como de hábito (mas velho virou grande ator) e Shirley MacLaine muito mais discreta e eficiente do que se podia esperar (como disse talvez faltem aos dois as cenas necessárias, ao menos Plummer tem um bonito plano final).

Tudo é uma variante da Velha Dama Indigna de Brecht, quando uma senhora de idade incógnita, ainda disposta a aproveitar a vida, se comporta de forma inusitada (embora aqui a única coisa mais condenável seria fugir de restaurante sem pagar a conta). Mas é possível se acreditar fácil no romance do casal porque tudo é lindamente emoldurado pela paixão que a heroína tem por Anita Ekberg e La Dolce Vita. Assim o filme é uma homenagem, para mim justamente quando ela faleceu, recriando as cenas na Fontana de Trevi (hoje é proibido então tiveram que falsear) com ela e Mastroianni. Ajudado por outros veteranos, como o que pouco aparece, George Segal, o filme poderia ser mais engraçado, mais romântico, menos tímido. Ainda assim qualquer coisa que use La Dolce Vita como moldura de love story está com o coração no lugar certo.