Sou admirador de longa data do José Wilker, não apenas como excelente ator, mas também consagrado diretor de teatro (atualmente em cartaz em São Paulo com uma montagem de Rain Man), de televisão (fez Sai de Baixo, precisa mais) e agora também de cinema. Ao contrário do que dizem os boatos de Internet (que já cansei de desmentir) somos amigos e ficamos mais próximo quando trabalhamos juntos no Telecine, chegando a viajarmos por duas ou três vezes ao Festival de Cannes. Ele tem um senso de humor inteligente e permanente, o que para mim já é a maior das qualidades. Adora cinema e continua a ser inveterado cinéfilo, importando os melhores filmes para sua coleção. Aliás, desde o ano passado, estamos juntos também como curadores no Festival de Gramado.
Acho que é preciso ser corajoso nesta altura do campeonato estrear no cinema na direção com este Giovanni, dar a cara para bater (eu confesso que não faria o mesmo e não pretendo dirigir, não me sinto competente para isso). Este é um voo solo a partir do personagem que ele criou na novela A Senhora do Destino (2004-05) de Aguinaldo Silva. Segundo me contou, contribuiu tanto para o personagem naquele momento, que fez um acordo de amigo com o novelista que o liberou para o cinema. Uma coisa que eu acho importante: Wilker trabalhou com a produção do amigo e velho companheiro de muitos filmes, o diretor Carlos Diegues (que aliás, faz pontinha!). O que permitiu a ele seguir as lições de Woody Allen. Depois de uma primeira montagem, ele retomou o projeto polindo e acrescentando o que lhe pareceu tornaria o filme mais perfeito (outra curiosidade o roteiro final é de Mariana Vielmond, filha de Wilker com a atriz Renée de Vielmond).
Giovanni continua a ser um bicheiro, mas em busca da respeitabilidade. Vive maritalmente com Andréa Beltrão (que faz o tipo da cafona, aliás, toda a direção é igualmente criativamente brega), pensa em entrar para um clube fechado (onde o Jô faz o diretor), tem acordo com os policiais (que na medida do possível o protegem) e com as escolas de samba (aliás, o filme se esmera em duas sequências, a de abertura que é um enterro que muda de figura com a chegada de passistas de uma escola e a do final, quando temos uma panorâmica de um ensaio de escola). A Fotografia premiada é do sempre competente Lauro Escorel.
Talvez a melhor coisa do filme seja, porém, o excelente elenco que Wilker reuniu no que vai desde veteranos que sabem tudo (Milton Gonçalves, Othon Bastos), as participações especiais que traz figuras consagradas como Andrea Beltrão, Jô Soares, Paulo Goulart, mas também gente nova que não conhecia (o rapaz que faz o pregador, o policial que deseja ser cantor) e pessoas que nem reconheci (o cantor do casamento no começo que depois fez o musical Priscilla a rainha do Deserto, meu amigo Thogun que faz um tipo diferente). E registre-se também que é o primeiro filme brasileiro que assisto em que se satiriza um pregador evangélico (sem ter medo de criticá-lo). Em Recife, Cacá Diegues chegou a afirmar que o filme não é somente comédia, mas um gênero novo que mistura vários (gêneros). Meu único problema é que não assisti a novela e tive dificuldade de reconhecer certas frases e citações, mas me diverti, ri bastante e torço que o filme faça sucesso. E que venham outros filmes.