Sou admirador da atriz Sarah Polley que tem revelado enorme sensibilidade como diretora em filmes como Longe Dela (como a Julie Christie). Ela tem um olhar especial, sensível, delicado, mesmo romântico, que já se exemplifica na primeira cena, ainda nos letreiros.
Michelle está preparando uns salgados na cozinha, os coloca no forno e na imagem seguinte está encostada no fogão pensando, vê alguém se aproximar, olha em direção a ele (mas de relance também encara o espectador). E assim começa uma história até banal, como algumas que já vivemos.
Uma mulher casada há cinco anos com um escritor de livros de culinária sobre frango (Seth Rogen, o de sempre) que se sente atraída por outro (Luke Kirby, um aspirante a pintor que vive de puxar riquixá na rua), que por azar é seu vizinho de frente.
É um triângulo amoroso e aquela cena de abertura irá retornar ao final com outro significado.
A história parece ser a de sempre, diferenciada pelo toque da diretora, que escolhe locações bonitas (Louisbourg /Nova Escócia, Toronto), acolhedoras (a direção de arte das casas, toda a ambientação de enorme requinte para um filme de custo baixo).
Ela realmente vai construindo uma história de amor com momentos de realismo (coisa que nunca se vê mais no cinema, seis mulheres, alguns de idade tomando banho depois da piscina, absolutamente naturais, banho de verdade, sem disfarces). E para mim o maior choque, quando a heroína vai viver o sonho do amor perfeito com seu amante, ainda mais num lugar fotogênico, um farol abandonado! Espera-se um delírio sexual com que ela sonhava com ele. Só que imediatamente também com triângulos amorosos com homem e mulher. Tudo rapidamente. O sonho não seria bem aquele.
Ao mesmo tempo, o contraponto é feito curiosamente por um parente alcoólatra que tem relapsos na bebida o que permite ela dizer algumas verdades, papel da comediante Sarah Silverman normalmente conhecida por dizer palavrões e que aqui passa certa humanidade. Cada vez vou ficando mais impressionado com Michelle Williams. Ela é pequenina, não especialmente bonita ou atraente, mas é tão corajosa, boa atriz, tão aberta a câmera, que deixa a gente ler todos os sentimentos em seu rosto. Realmente transforma um filme que podia se mediano em algo mesmo memorável.
Nem marido nem amante, me deixaram impressão especial. Mas acho que isso é parte da trama e da intenção. Agora o trabalho de Sarah suportaria uma análise