Já bem explorado pela pirataria chega finalmente este estranho filme do alemão Roland Emmerich, que normalmente está mais à vontade produzindo e até realizando aventuras catástrofes como o recente 2012, O Dia Depois de Amanhã e os mais antigos Independence Day, Godzila, O Patriota, Stargate e Soldado Universal.
Este foi o primeiro filme gravado com a nova câmera Arri Alexa Digital de alta definição. O roteirista é o mesmo de A Lenda dos Guardiões e O Preço da Coragem. Ele escreveu o roteiro em 1998, mas foi atropelado por Shakespeare Apaixonado.
Emmerich o descobriu em 2005 e levou esse tempo todo para conseguir produzi-lo, com algumas modificações. E com seu próprio dinheiro! Já que o via como um projeto pessoal. Quando uma repórter criticou Orloff pelos erros históricos do filme, por exemplo o dramaturgo Christopher Marlowe que está no filme, na verdade já estava morto na ocasião em que os eventos narrados supostamente teriam acontecido. Ele se saiu dizendo que era deliberadamente uma homenagem a maneira em que Shakespeare escrevia seus dramas históricos tomando liberdades.
Mas o resultado foi um desastre absoluto de crítica e bilheteria (custou 30 milhões de dólares e rendeu pouquinho mais de um milhão!). Apesar de ter sido indicado ao Oscar de figurino! O fato é que o público não quis aceitar a história, que não é exatamente nova, discutindo a possibilidade, lenda e teoria de conspiração de que Shakespeare não teria escrito suas obras.
Há diversas correntes a respeito e o filme defende uma delas, que existe há mais de século, no caso o verdadeiro autor seria um nobre muito sofisticado e, portanto, mais adequado para realizar uma obra de tal envergadura. Por isso muitos acusaram o filme de ser preconceituoso, por Shakespeare ser pobre não poderia ter sido um escritor genial, tal coisa só um nobre seria capaz de fazer!
O New York Times o chamou de brincadeira de mau gosto com a tradição literária britânica, um travesti da história e um insulto à imaginação humana!! O ponto de partida é que o nosso amado William Shakespeare seria um vigarista e não apenas as peças, mas seus celebrados poemas seriam na verdade a obra de Edward De Vere, o décimo sétimo Conde de Oxford.
Essa teoria tem sido constantemente refutada, mas carece de respaldo até pela reputação do diretor que vive fazendo filmes sobre o fim do mundo. O começo como 10.000. a.C., ou seja, ele toma liberdades delirantes com os fatos e a história. Por que agora posar de justiceiro?
Embora o filme tenha certa pompa de realização, erra na escalação do elenco ao colocar Rhys Ifans como o Conde de Oxford, já que esse ator não consegue perder seu ar decadente e debochado, sempre com um sorriso cínico, impossível acreditar nele.
Essa figura melancólica não poderia por culpa de sua família realizar seus sonhos literários e assim passou uma vida inteira escrevendo as escondidas obras primas que levavam nome alheio. Quem faz Shakespeare é um rosto pouco conhecido aqui Rafe Spall (que é filho do ator Timothy Spall, dos filmes de Mike Leigh). Que tem o desafio de tornar o personagem numa fraude, frequentador de prostitutas, chantagista e eventualmente assassino!
O filme brinca também com elenco duplo, quando jovem o Conde é outro (Jamie Campbell Bower) e apresentava suas pecinhas no Corte, para o prazer da jovem Rainha Elizabeth I que eventualmente até terá um casinho com ela (Joely Richardson depois substituída pela própria mãe, a lendária Vanessa Redgrave).
Mais tarde o Conde faria peças históricas também para interferir em problemas do Estado (que não nos interessam aqui). Enfim, ele acha com certa razão que todas as peças são políticas! E somente alguém com essas ambições poderia ter sucesso (o que está querendo afirmar é que um mero artista, como Shakespeare ou seu colega Bem Jonson não poderiam aspirar a tanto).
Na verdade, como drama histórico o filme é cheio de meias verdades e simples absurdos. De vez em quando remediado por aparições de autênticos interpretes shakespeareanos como Mark Rylance e o veterano Derek Jacobi. E como já disse por uma bonita reconstituição de época. Não sei se tomei as dores de Shakespeare, mas o filme acabou por me irritar. Que é muito mais do que ele merece.