Crítica sobre o filme "Shakespeare no Cinema: Ran, Macbeth, Hamlet":

Rubens Ewald Filho
Shakespeare no Cinema: Ran, Macbeth, Hamlet Por Rubens Ewald Filho
| Data: 25/07/2019

Ran *****

Por muitos anos, Kurosawa pensou em fazer essa adaptação de \"Rei Lear\" de Shakespeare. Como de costume, desenhou o filme antes, plano a plano, imagem por imagem, como se fossem pinturas (o filme ganhou o Oscar de Figurino e foi indicado a Fotografia, Diretor e Direção de Arte).
O resultado foi sua última obra prima, um filme magnífico. Ran significa desordem, caos. Na adaptação, Kurosawa mudou o sexo dos personagens. Agora são três filhos, e por conseqüência, o maior vilão é a uma mulher que procura vingança.
Os primeiros 45 minutos são de uma secura intencional (imagens acadêmicas e estáticas, até difíceis de suportar). Mas sucede então a mais bonita cena de batalha da história do cinema: cinco minutos onde só se escuta música enquanto mostram imagens brilhantes, de tirar o fôlego.
Dali em diante, o ritmo melhora. O personagem da mulher vingativa é extraordinário e o final é emocionante. Toda a condição humana é dissecada nesta simples cena final.

MacBeth ***

Foi Hugh Hefner da revista Playboy quem produziu esta ambiciosa versão da peça clássica de Shakespeare (que raramente é adaptada para o cinema porque tem a fama de maldita e de trazer má sorte). Isso não foi obstáculo para o polonês Polanski, que amargava o assassinato de sua esposa Sharon Tate (esta fita foi depois de \"O Bebe de Rosemary\" e antes de \"Chinatown\").
É uma respeitável adaptação feita por ele e o crítico Kenneth Tynan, curiosa por trazer um elenco desconhecido (Finch faria depois \"Frenesi\" de Hitchcock mas nunca acertaria, Francesca que até aparece nua como Lady Macbeth é mais lembrada como mulher de Ralph Fiennes).
Rodado no País de Gales, criticado por sua violência, retorna em cópia mediana, provocando reações apenas moderadas. Excelente texto, encenação sem brilho ou maior talento.

Hamlet *****

Versão premiada da obra de Shakespeare, vencedora dos Oscars de melhor filme, ator (Olivier), direção de arte e figurinos (também concorreu como direção, coadjuvante - Simmons, adorável com Ofélia - e música). Ele fez propositalmente em preto e branco, cortando grandes trechos do texto (que teria cinco horas de duração se fosse completo). Assim, Horácio vira ponta, Resencrantz, Guildernstein e Fortinbras são totalmente eliminados. Os cenários são planejados como uma abstração, há um mínimo de objetos de cena e móveis, os figurinos não marcam bem uma época determinada. Mas Olivier utiliza muito a profundidade de campo, movimenta sua câmera através de corredores misteriosos, na hora dos monólogos alterna soluções (às vezes, fica como \"voz interior\", outros ele mesmo fala). A parte mais discutível é o próprio Olivier: ele é velho, composto e pedante demais. Mas como síntese de um clássico o filme impressiona, envolve e emociona. Principalmente por seu belíssimo visual.