Crítica sobre o filme "Desajustados, Os":

Rubens Ewald Filho
Desajustados, Os Por Rubens Ewald Filho
| Data: 31/08/2020

Marilyn Monroe

 

É um pouco cruel dizer isso mas é verdade. Se hoje ainda estivesse viva, Marilyn Monroe (1925-62) provavelmente estaria vivendo escondida e esquecida, em alguma casa de repouso, possivelmente com alguma doença mental, herança genética de sua família. A morte prematura em 5 de agosto de 62, quando tinha 36 anos, em circunstâncias misteriosas, foi o passaporte para a imortalidade situando-a território da lenda. “Morrer cedo e ser um cadáver bonito”, como dizia James Dean, outro caso de astro mítico de Hollywood, falecido prematuramente. Sua morte teria sido suicídio, acidente ou assassinato? Nunca vamos saber com certeza e por isso nunca irá terminar a fascinação pelo assunto. Marilyn se tornou imortal, um dos poucos ícones autênticos do cinema de Hollywood.

O que não deixa de ser irônico quando se pensa que quando em vida Marilyn nunca chegou a ser levada a sério. Nunca foi indicada ao Oscar porque nunca lhe perdoaram o começo difícil (hoje parece não haver dúvidas sobre sua bissexualidade e o fato de que foi “garota de programa” no começo de carreira). Nem achavam que fosse uma verdadeira atriz. Marilyn fez sucesso não por causa de um estúdio, mas apesar dele. Darryl Zanuck chefe da Fox nunca escondeu que não gostava dela e foi por causa da repercussão da imprensa e dos fãs que ela foi subindo em sua carreira até conseguir virar realmente estrela.

Deixa eu fazer uma parêntese. Nunca fui grande admirador de Marilyn, embora tenha acompanhado sua carreira desde sua ascensão. A princípio ela era muito fraca com a mania de abrir a boca (por alguém que lhe disse que ficava melhor assim) e fazer cara de loira burra. O que ela não era na vida real. Tanto que soube escolher os filmes certos, foi estudar no Actor´s Studio, lutou para ser respeitada (ainda que se casando com duas celebridades, o ídolo do beisebol Joe Di Maggio e depois o dramaturgo Arthur Miller, um dos maiores nomes da Broadway autor de ‘A Morte do Caixeiro Viajante” e que escreveu para ela seu ultimo filme “Os Desajustados/The Misfits, 61”). Fecha parênteses.

É inegável que a câmera adorava Marilyn e essa paixão era correspondida. Na rua era apenas uma loira qualquer, mas diante da câmera resplandecia. Esse talvez seja o segredo porque sua imagem até hoje continua moderna. Tem certas caras que caíram de moda, maquiagens, rostos, tipos, que hoje são datados. Mas não Marilyn. Não sei explicar o porquê, mas há algo nela que transcendeu sua época, a deixou ainda contemporânea.

Certamente não foi por ter feito grandes filmes. Tirando os dois com Billy Wilder, o simpático O Pecado Mora ao Lado/The Seven Year Itch, 57 e o genial Quanto mais Quente Melhor/ Some Like it Hot, 59 (votado a melhor comédia de todos os tempos) quase nada mais é memorável.

Em alguns teve melhores diretores (Os Homens Preferem as Loiras/ Gentlemen Prefer Blondes , 52 de Hawks, Adorável Pecadora/ Let´s Make Love, 60, de George Cukor, O Príncipe Encantado/ The Prince and the Showgirl, 57, de Laurence Olivier), mas seu melhor momento de atriz hoje é pouco lembrado, Nunca Fui Santa, Bus Stop, 56, de Joshua Logan. Não é muito cinematograficamente falando. Nem se compara com a força de seu mito. Não sou paranóico o suficiente para achar que ela foi assassinada pelo FBI por causa de suas ligações com os Kennedys (ela teria tido caso com ambos, John e Robert). Deve ter morrido mesmo acidentalmente por excesso de pílulas (o que já havia sucedido antes) de forma desastrada. Aqui, porém revela-se outra Marilyn (não se fixam muito na morte dela, as causas, ou a lendária historia dela com o Presidente Kennedy, ao mesmo tempo que ficava com Sinatra e Robert Kennedy). De uma inteligência inesperada, apontado como vilão o ultimo marido, Arthur Miller (1915-2005), que além de usá-la por questões de vaidade, zombou dela no roteiro de seu ultimo filme, Os Desajustados e depois na peça Depois da Queda. Ou seja, era um mau caráter.

Mas Marilyn saiu de cena na hora exata, antes de perder o esplendor de seus 36 anos. Não foi feliz na vida, mas conseguiu o que desejava depois de morta. O respeito, a admiração, a imortalidade.