Há 5 décadas, quando São Paulo comemorava
seu IV Centenário, nossos cinemas estreavam 10 (dez)
filmes, cinco a mais do que estreou nesta semana de seus 450
anos. Como ainda hoje, as fitas dos EUA (seis) predominavam.
O musical “A Vida é uma Canção”,
da Fox, com Betty Grable. Um faroeste, “Os Mal Encarados”,
da Columbia, com o então galã e futuro diretor
John Derek. Três aventuras, “O Tesouro do Condor
de Ouro” (tinha Anne Bancroft em início de carreira), “A
Ilha dos Homem Sem Alma” e “O Forte da Coragem”,
passado na Argélia, com Yvonne DeCarlo. Completando,
a comédia “Fuzileiros da Fuzarca”, com os
chamados Anjos de Cara Suja, grupo de atores juvenis revelados
em “Beco Sem Saída”, de William Wyler. Estreavam
ainda duas fitas italianas. “Amor de Palhaço”,
baseada na ópera “I Pagliacci”, com Gina
Lollobrigida num de seus primeiros papeis e “A Rebelde
de Nápoles“ (Il Conte de Sant'Elmo). No Art Palácio,
estreava “Candinho”, produção da
Vera Cruz com Mazzaroppi, num extenso circuito de salas (posteriormente
os filmes de Mazzaroppi quase todos seriam lançados
nas semanas de comemoração do aniversário
da Capital). Estreava também o japonês “Adoração”,
um melodrama dos estúdios Daiei, no Cine Niterói
(de uma fase dourada do cinema nipônico, freqüentado
pela colônia e por críticos e cinéfilos
de SP).
O ano de 1954 foi por sinal, o ano de fitas como “Os
7 Samurais”, “A
Estrada da Vida”, de Fellini, “Janela
Indiscreta”, “A Condessa Descalça”, “7
Noivas Para 7 Irmãos”, a versão de “Nasce
uma Estrela” com Judy Garland, “Sindicato de Ladrões”, “Música
e Lágrimas”, “20 Mil LéguasSubmarinas”, “Sabrina”, “Robinson
Crusoé”, dirigido por Luis Bunûel e “Uma
Lição de Amor”, de Ingmar Bergman. Em 54
Ernest Hemingway, um dos romancistas estrangeiros mais filmados,
receberia o Nobel de Literatura.
Em 1954 foram exibidos e/ou produzidos 33 filmes brasileiros,
sendo 17 de São Paulo (e mais uma co-produção
com o Rio). Os filmes de 54: o documentário “São
Paulo em Festa”, escrito e realizado por Lima Barreto
(recém saído do sucesso de “O Cangaceiro”),
para a Vera Cruz especialmente em comemoração
ao IV Centenário, “Floradas na Serra”, pela
versão do romance de Dinha Silveira de Queiroz, com
elenco inesquecível (Cacilda Becker, Jardel Filho, Lola
Brah.,Ilka Soares e muitos outros), “È Proibido
Beijar”, “Na Senda do Crime”, o citado “Candinho”.
Fora da Vera Cruz tivemos “Nem Sansão Nem Dalila”, “Gigante
de Pedra” (estréia do diretor Walter Hugo Khouri), “Matar
ou Correr”, “Rua Sem Sol” (com Glauce Rocha),
este dirigido pelo crítico carioca Alex Vianym, para
citar os principais.
Um acontecimento importante de 1954 foi o I Festival (o único)
Internacional de Cinema de São Paulo, de 12 à 16
de fevereiro.Com uma extensa (a maior) delegação
de astros de Hollywood, mostras retrospectivas de cinema silencioso,
de cinema brasileiro, presença de Erich Von Stroheim
e até uma recepção para convidados, na
fazenda de propriedade do casal Francisco e Yolanda Matarazzo,
na cidade de Leme, interior de SP. O festival exibiu filmes
completados no ano anterior, incluindo “A Princesa e
o Plebeu”, “O Salário do Medo”, “Os
Boas Vidas” (I VItelloni), de Fellini e “Noites
de Circo”, de Ingmar Bergman.
Por Carlos M. Motta