10
de setembro de 2003
HOLLYWOOD
E SEU SISTEMA DE ESTÚDIOS
Hollywood
era uma região de Los Angeles que acabou simbolizando
toda a indústria do cinema americano. Originalmente é um
tipo de madeira (o azevinho) e denominava um tipo de rancho que
existia na região. A partir de 1912, os produtores de
cinema começariam a se mudar para a Região Oeste
dos EUA por várias razões, para escaparem as brigas
pelas patentes, da censura imposta pelas autoridades de Nova
York, mas principalmente por que naquele lugar chovia muito pouco
e havia sol constante, paisagens diversas, o que possibilitava
a rodagem das fitas sem ter que sair do Estado. O lugar também
foi escolhido porque ficava perto da fronteira mexicana (para
onde podiam fugir em caso de problemas). A paisagem permitia
também que fosse rodados por ali os faroestes, de grande
popularidade (com astros como Tom Mix, Bronco Billy, William
Hart) e, nas cidades, as comédias de pastelão.
O fato é que deu certo e Hollywood passou a englobar mais
um estado de espírito do que um local.
Não se sabe quem foi o publicista que teve a idéia
de criar o termo Star (Astro ou Estrela) para designar os atores
de cinema que se tornam famosos (o símbolo de algum chegar
ao status de Star, é quando o nome dele aparece antes
dos letreiros do filme, o que passou a ser importante e provocar
brigas. Quando dois astros famosos faziam um filme juntos, discutiam
o tamanho das letras e qual o nome que viria antes, nos letreiros
e cartaz). Mas certamente nasce de urna alegoria onde a indústria
do cinema é um céu estrelado com diversas estrelas
de magnitudes diferentes. Uma metáfora que foi abraçada
pela própria Indústria (a Metro, o maior dos estúdios,
dizia que ela tinha mais estrelas que no céu).
Inicialmente
os produtores eram relutantes em identificar os atores de um
filme porque tinham certeza que se famosos, eles
pediriam mais dinheiro. Foi o público que passou a reconhecê los
e a chamar tal garota de tal produtora. A imprensa se encarregou
de identificá los ao público que os abraçou
como ídolos. Já se disse que como nos Estados Unidos
não existe realeza, os astros de cinema assumiram esse
papel na sociedade, como modelos de comportamento, moda, beleza,
perfeição etc. Criou se uma mitologia em que esses
atores famosos viviam numa espécie de Olimpo (a morada
dos deuses segundo a mitologia grega), como semi-deuses, diferente
dos meros mortais.
Eram
também como encarnação de mitos, como
Cinderelas modernos, uma pessoa desconhecida podia ser descoberta
tomando um sorvete (como diz a lenda, sucedeu com Lana Turner,
encontrada na Schwabbs, em Hollywood), contratada por um estúdio,
se tornando rica e famosa. Os primeiros grandes astros ajudaram
muito a formar esta mitologia, com Douglas Fairbanks (astro de
fitas de ação e capa-espada, na vida real um autêntico
atleta) e Mary Pickford (especializada em papéis de menina
ingênua). Casados na vida real, compraram uma mansão
chamada Pickfair (inicial dos nomes deles), onde recebiam príncipes,
nobres e chefes de estado do mundo inteiro. E numa época
onde a comunicação entre os povos era mais lenta,
figurinos serviam de modelo para a moda no mundo inteiro.
O
importante é que por causa dessas Estrelas criou-se
o chamado Star-System (O Sistema das Estrelas), Os produtores
se organizaram em estúdios que eram basicamente grandes
fábricas de fazer filmes. Tinham grandes galpões
para as filmagens (os estúdios propriamente ditos) protegidos
dos ruídos externos, com ar condicionado, grande altura
para se poder construir cenários gigantescos e tudo o
mais que fosse necessário. Por que filmar em estúdio?
Porque só assim se tem o controle absoluto do tempo, da
luz, das condições. Numa filmagem exterior o tempo
pode mudar a cada minuto (chove, faz sol, os rios mudam, a floresta
cresce), o que provoca perda de tempo e prejuízos, já que
não se pode ter continuidade (num plano o céu pode
estar sem nuvens no seguinte, que seria rodado alguns minutos
depois, carregado de nuvens). Assim, eles optaram por recriar
tudo em interiores, onde poderiam inventar o que desejassem.
Tinham também uma infra-estrutura para se construir cenários
(sets) impecáveis, com marcenaria, serralherias e serrarias
próprias. Além de um estoque de material (tudo
o que era utilizado num filme poderia ser reaproveitado em outro,
criando um acervo monumental).
Um
estúdio tinha como contratados toda uma equipe fundamental:
maquiadores, cabeleireiros, roteiristas, diretores, cenógrafos,
coreógrafos, músicos, compositores, cantores, bailarinos
etc. Todos ganhando semanalmente um salário (nos EUA é costume
o pagamento ser semanal) que poderias ser aumentado anualmente
ou a cada renovação. Mas era um sistema complicado
porque o estúdio tinha o direito de renovação.
Ou seja, um contratado não podia pedir demissão
ou aumento, o estúdio é quem decidia se queria
ficar ou não com o empregado. E esse contrato nunca tinha
menos de sete anos.
Só com o tempo é que se começou a ser contestado
nos tribunais a legalidade deste tipo de contrato, que mais parecia
uma prisão. Ainda mais porque quando alguém recusava
um trabalho (um roteiro que certamente seria fracasso) era suspenso
sem pagamentos e o tempo que ficou parado era acrescentado ao
contrato, o ampliando. Estrelas como Bette Davis e Olivia de
Havilland brigaram contra este tipo de coisa e acabaram ganhando.
Mas só depois de muita luta. Esse contrato de sete anos
era para todos, mas principalmente para os atores, que muitas
vezes eram descobertos no palco ou mesmo através de fotografias,
submetidos a testes e só contratados se aceitassem esse
tipo de semi-pressão. O estúdio poderia obrigá-los
a fazer o filme que desejava (os rebeldes podiam ser castigados
com fitas inferiores que diminuiriam o seu prestígio).
Em troca, o estúdio cuidava de tudo. Treinava o ator,
dando-lhe aulas de equitação, esgrima, dança,
canto, voz, arte dramática. Mandava regularmente fotografias
deles à imprensa (de graça), que as publicava regularmente.
Emprestava roupas, arrumava encontros publicitários, transformava
um desconhecido num nome internacional. E, ainda por cima, abafavam
algum escândalo que ele tivesse cometido.
Este
sistema de estúdios vigorou desde meados dos anos
vinte até o começo dos sessenta. Justamente a chamada “Idade
de Ouro” de Hollywood.
OS
ESTÚDIOS
Em
1917, a produtora Famous Players se uniu com a Paramount e nasce
a primeira “Major”, o primeiro grande estúdio
que leva o nome de Paramount e tem como chefe Adolf Zukor (1873
1976). A segunda seria a Metro Goldwyn Mayer formada a partir
da Metro Pictures (do exibidor Marcus Loew) que se fundiu com
a Goldwyn Pictures (de Samuel Goldwyn, 1888 1974, que logo depois
saiu da sociedade e acabou se tornando um dos principais produtores
independentes de Hollywood), chamando para dirigir o novo estúdio
Louis B. Mayer (1885 1957), que seria o chefe de produção
e responsável pelo estúdio até começo
dos anos cinqüenta. Nasciam assim os primeiros dos grandes
estúdios, cada um deles com características diferentes.
Metro
Goldwyn Mayer (MGM)
Já falamos
de sua origem. Sob a direção
de Louis B. Mayer, a Metro era a Globo de seu tempo. Tinha as
estrelas mais famosas, as instalações mais luxuosas
(hoje em dia, seus estúdios são ocupados em Hollywood
pela Sony Columbia em Culver City), fazia os filmes de maior
prestígio e empenho. Mayer gostava de filmes para a família
que defendessem os bons valores e senso comum (como as fitas
da família de Andy Hardy - Mickey Rooney - extraordinariamente
populares nos anos quarenta). Ele gostava de aventura ingênua
(era o estúdio do Tarzan feito por Johnny Weismuller e
a Jane de Maureen O'Sullivan, sem esquecer da chimpanzé Chita),
era anglófilo (gostava de tudo que era inglês, para
isso contratando estrelas inglesas como Greer Garson e Deborah
Kerr), adorava musicais (e a Metro fazia os melhores de sua época,
alguns operísticos sob o controle de Joe Pasternak que
lançou Jane Powell e Kathryn Grayson, outros pura opereta,
com a popularíssima dupla Jeanette MacDonald e Nelson
Eddy, outros para jovens com Rooney e Judy Garland e até os
de balé aquático com Esther Williams. Mas o melhor
produtor de musicais era Arthur Freed (1894 1973), que reuniu
em tomo de si os maiores diretores, corno, Vincente Minnelli,
Stanley Donen e Charles Walters, compositores, como Cole Porter
e o próprio Fred, que é o autor da trilha de “Cantando
na Chuva”, e principalmente atores-dançarinos cantores,
como os geniais Fred Astaire e Gene Kelly, mais Judy Garland,
Cyd Charisse, Debbie Reynolds, Howard Keel etc. Também
na Metro se fazia comédia anárquica (Irmãos
Marx , depois Red Skelton , O Gordo e o Magro/ Stan Laurel e
Oliver Hardy), filmes românticos (Greta Garbo, a Divina,
era exclusiva do estúdio), dramas femininos (Joan Crawford,
Norma Shearer), comédias sofisticadas (como as da série
Thin Man - no Brasil, os Acusados -, com William Powell e Myrna
Loy). Era o estúdio do chamado Rei de Hollywood (Clark
Gable, que adquiriu o título numa votação
pública, mas o titulo pegou), da cachorra Lassie, de Elizabeth
Taylor, Wallace Beery, da dupla Spencer Tracy e Katharine Hepburn,
do astro do cinema mudo Lon Chaney. Curiosamente não produziram “E
o Vento Levou”, apenas o distribuíram por causa
da presença de Gable, o responsável pelo filme
foi David O. Selznick. Seu símbolo celebre é o
leão rosnando com o emblema Arts Gratia Artis/A Arte pela
Arte. A partir de 50, caiu Mayer e entrou Moss Hart, mais intelectualizado
que procurou temas mais difíceis. A concorrência
com a televisão ficou forte demais em meados da década
e eles foram forçados a dispensar seu elenco. Sobreviveram
até o começo dos anos 70 quando foi comprado por
Kirk Kerkorian, que teve a infeliz idéia de investir em
hotéis em Las Vegas e liquidou seu acervo, vendendo em
leilão o passado ilustre. Os filmes da Metro foram vendidos
para Ted Turner que os relançou em vídeo e em seus
canais a cabo (nos anos noventa eles passaram para a Warner como
parte da fusão da Turner com a Warner). A Metro se fundiu
com a falida United Artists e continua a produzir ainda que com
menos regularidade e freqüência e sucesso. Mas a Metro
de hoje nada tem a ver com seu passado.
Embora
sua marca seja muito forte, a ponto da Disney tê-la
comprado como franchising quando abriram um estúdio para
turistas na Florida nos anos 80.
Na
Metro, há que notar ainda a participação
do produtor Irving S. Thalberg (1899 1936) que, apesar da vida
breve, criou um padrão de excelência na produção
de tal forma que o prêmio para produtores na Academia de
Artes e Ciência de Hollywood hoje leva seu nome. Casado
com a estrela Norma Shearer, ele supervisionava os filmes mais
ambiciosos do estúdio até sua morte.
Paramount
(Pictures Corporation)
O estúdio
tem como símbolo a montanha gelada e
hoje pertence ao conglomerado Viacom (do qual fazem parte também
a MTV e as locadoras Blockbuster). Foi basicamente uma criação
de Adolph Zukor, que começou com cinema de feira (nos
chamados Nickelodeon, onde você via filmes por um nickel,
dez centavos) que havia começado fotografando peças
teatrais (inclusive com Sarah Bernhardt, a mais famosa das estrelas
do palco). Sempre teve um ar europeu sofisticado, servindo de
lar para emigrantes da Áustria e Alemanha, muitos deles
judeus. Produzia entretenimento sofisticado, com ênfase
em estrelas como Marlene Dietrich (que veio da Alemanha junto
com seu mentor, o diretor Josef Von Stemberg, era para ser rival
de Garbo mas virou um mito próprio numa série de
fitas de grande beleza a partir de “O Anjo Azul”),
Rodolfo Valentino (italiano de nascimento foi o primeiro grande ídolo
romântico, o latin lover, amante latino, que morreu prematuramente
em 1926 aos 31 anos), a dupla Bob Hope (comediante) e Bing Crosby
(cantor ou “crooner”, altamente popular) que fizeram
urna série de comédias chamada Road To (Estrada
para...) trazendo sempre Dorothy Lamour famosa por seu tipo exótico
e seus sarongs, Alan Ladd (loiro baixinho que fazia tipo durão
em fitas policiais, em geral em dupla com Veronica Lake, que
ficou famosa pela cabelo loiro caído na testa de um só lado
que foi super popular nos anos 40), musicais com Maurice Chevalier
e outras fitas sofisticadas dirigidas pelo mestre do gênero
Ernst Lubitsch e depois por seu sucessor e aprendiz, Billy Wilder
(na Paramount, este foi roteirista e depois fez clássicos
como “Crepúsculo dos Deuses”/”Sunset
Boulevard”). Também era a casa de Cecil B. De Mille,
o mais eficiente realizador de super espetáculos, em geral
bíblicos, de Claudette Colbert, Fred MacMurray, do começo
dos Irmãos Marx etc. Comprado nos anos 60 pelo conglomerado
Gulf/ Western conseguiu manter urna dose de filmes famosos (Os
Chefões, “Love Story”, “Indiana Jones’ , “Grease”, “Top
Gun”) como um dos estúdios mais estáveis
de Hollywood.
United
Artists (Corporation)
Formada
em 1919 pela união de um diretor (Griffith),
um comediante (Chaplin) e dois astros (Pickford e Fairbanks)
como Artistas Unidos, com a intenção de distribuir
seus próprios filmes e de outros independentes, como Samuel
Goldwyn e David Selznick. Em meados dos anos vinte, Joe Schenck
foi trazido para dirigir a companhia e com ele vieram outros
atores (Valentino, o comediante Buster Keaton, Gloria Swanson)
e produtores (como Howard Hughes, que fez “Scarface”, “Anjos
do Inferno”). Teve problemas de produto nos anos trinta
e quarenta mas se recuperou com o cinema independente dos anos
cinqüenta, com a ajuda dos Irmãos Marx, abrigando
cineastas e atores que desejavam maior liberdade, distribuindo
filmes como “As Aventuras de Tom Jones”, “Sete
Homens e um Destino”, “Um
Estranho no Ninho”, “Rocky”,
as fitas de James Bond etc. Mas o estúdio literalmente
faliu e foi forçado a se unir à Metro, depois do
fracasso de “O Portal do Paraíso” (Heaven's
Gate, 80), um faroeste massacrado pela crítica. Era o único
dos estúdios que não tinha uma linha ou característica
própria, nem mesmo uma marca, um logotipo notável.
Apenas abrigava produtores independentes em busca de liberdade,
mais ou menos como acontece hoje em dia em quase todos os estúdios.
Universal
Pictures
Fundado
em 1912 por Carl Laemmle, um exibidor que virou produtor, teve
prestígio como Universal City abrigando filmes famosos
de Eric Von Stroheim, Valentino e Lon Chaney. Em 1920 produziu
o vencedor do Oscar “Sem Novidade no Front” e depois
ficou famosa como a “casa dos monstros” por ter feito
os marcantes filmes de “Dracula” (com Bela Lugosi)
e “Frankenstein” (com Boris Karloff), ambos no começo
dos anos trinta (o estúdio registraria a maquiagem dos
personagens e hoje ninguém pode usá la sem pagar à Universal).
Mas Laemmle perdeu o poder e o estúdio empobreceu fazendo
fitas de baixo custo estando sempre à beira da ruína.
Foi salvo várias vezes pelos musicais operísticos
da jovem Deanna Durbin, as comédias dos popularíssimos
humoristas, vindos do rádio, a dupla Budd Abbott e Lou
Costello, as comédias de Francis, o Mulo Falante com Donald
O'Connor. No começo dos anos 50, o estúdio foi
o primeiro a fazer acordos com astros dando-lhes participação
na bilheteria e liberdade criativa, principalmente para James
Stewart (junto com o diretor Anthony Mann). Ao mesmo tempo foi
o primeiro a explorar o filão dos turistas abrindo seus
sets, para a visitação deles, de tal forma que
o negócio cresceu tanto que abriram filial na Florida
(o estúdio realmente funciona normalmente em Los Angeles
enquanto os turistas passeiam pelos sets antigos). Enquanto os
outros estúdios venderam seus backlots, ou seja, o terreno
que eles tinham nos fundos e onde filmavam as cenas externas
ou de ação, a Universal transformou o lugar em
parque de diversões com enorme êxito. Foi também
o ultimo dos estúdios a largar o Sistema de Estrelas mantendo
sob contrato jovens que treinava (e de onde saíram Harrison
Ford e Clint Eastwood), muitos deles virando astros (como Tony
Curtis e Rock Hudson). O produtor Ross Hunter atraiu estrelas
como Lana Turner e Doris Day numa série de fitas para
o público feminino nos anos cinqüenta e fez fitas
para jovens com o ídolo Sandra Dee.
Foi na Universal que Spielberg aprendeu sua profissão,
onde estreou na direção aos 21 anos e onde instalou
sua produtora Amblin. Em 62, o estúdio fundiu se com a
agencia MCA /Music Corporation of America, sendo depois vendida
para os japoneses e hoje está nas mãos da Seagram's.
Foi também o primeiro dos estúdios a produzir séries
e telefilmes para a tevê com enorme êxito.
20th
Century Fox
Foi
durante anos, até a chegada da Dreamworks, o mais
novo dos estúdios e o único a ter com sua marca
também uma famosa e eficiente fanfarra, ainda que seu
nome fique marcado (seria a Fox do Século Vinte, com a
virada do século ela não pensa em mudar). Foi formada
em 1935 pela união da Twentieth Century Pictures de Joseph
Schenck e a Fox de William Fox, ambos de longa carreira na exibição
e produção (ele havia feito sucesso com as fitas
da mulher fatal Theda Bara, sido pioneiro nos cinejornais falados).
A nova companhia tinha como diretor geral Darryl F. Zanuck, que
vinha da Warner e que manteve o cargo de 35 a 52, deixando depois
no lugar o filho Richard Zanuck (que fez “Tubarão”,
mas na Universal). Retornou ainda em 62 quando o estúdio
entrou em crise com “Cleópatra”, salvando
o da bancarrota com a fita “O Mais Longo dos Dias”,
produzido pessoalmente por ele. Foi Zanuck quem impôs o
estilo do estúdio, ele gostava de loiras (Alice Faye,
Betty Grable, a mais popular garota para os pracinhas durante
a Segunda Guerra, Marilyn Monroe), filmes em tecnicolor (o colorido
do estúdio era considerado o melhor), muitas aventuras
com Tyrone Power e Don Ameche. Havia também a atriz infantil
mais popular de todos os tempos, Shirley Temple, que fez todos
os grandes filmes de seu apogeu para o estúdio (embora
Zanuck nunca tenha gostado dela). Depois da Segunda Guerra, o
estúdio foi o primeiro a fazer os chamados filmes com
problemas (Problem Pictures) abordando temas então proibidos
como a loucura mental (“Na Cova das Serpentes”/”The
Snake Pit”), linchamento (“Consciências Mortas”/’The
Ox Bow Incident”), racismo (“O Que a Carne Herda”/”Pinky”, “A
Luz é para Todos”/”Gentlemen's Agreement”),
embora tivesse já ousado abordar a pobreza em “Vinhas
da Ira” (Grapes of Wrath, 40), de John Ford. Diante da
concorrência com a televisão, foi o primeiro estúdio
a recorrer a tela grande produzindo todos seus filmes pelo sistema
de Wide Screen chamado Cinemascope (desde “O Manto Sagrado”/”The
Robe”, 53). Pertence hoje ao milionário australiano
Rupert Murdoch, que tem investido em canais de tevê, mantendo
boas ligações com George Lucas, distribuindo a
série dele, “Guerra nas Estrelas”.
Warner
Brothers Pictures Inc.
Depois
da Metro, era o maior dos estúdios. Só que
se a Metro fazia filmes para a família, a Warner se endereçava
para a classe trabalhadora, realizando fitas sobre as manchetes
do dia a dia (gangsters, FBI, emancipação feminina)
realizadas com muito claro/escuro, narrativa rápida e
direta (e por isso que resistiram tão bem ao tempo). Era
uma firma de família fundada em 1923 pelos quatro irmãos
Warner, que estavam no negócio de exibição.
Não tinham grande importância até quando
resolveram arriscar numa novidade chamada cinema sonoro (com “Don
Juan”, em 1926) e depois com o primeiro filme falado, o
ruim mas inovador “O Cantor de Jazz” (The Jazz Singer,
27) em que Al Jolson não apenas canta mas também
diz algumas palavras improvisadas. O sucesso foi tão espetacular
que revolucionou toda a indústria, que foi obrigada a
se adaptar, adequando se as salas e os sets de filmagens (que
precisaram ser blindados contra os ruídos). A Warner estava
em cima disso fazendo musicais com Jolson e depois com o fantástico
criador de coreografias Busby Berkeley. Para falar diálogos
precisaram de atores da Broadway e foi assim que conseguiram
um elenco que exploravam ao máximo (o estúdio era
o menos glarmurizado de todos, todos trabalhavam duro como numa
fabrica chegando a fazer sete filmes por ano). Produziam filmes
de gangsters com James Cagney, Humphrey Bogart, Edward G. Robinson,
George Raft, John Garfield (quando o governo reclamou do crime
ser mostrado favoravelmente, eles passaram os atores para fazer
homens do governo, os chamados G. Men), dramas que mostravam
a ascensão das mulheres no lugar de trabalho (com Ann
Sheridan, apelidada a Oomph Girl, Bette Davis, a maior estrela
do estúdio, depois sua rival Joan Crawford, vinda da Metro,
Barbara Stanwyck que era mais free lancer). Mas o estúdio
era variado, tinha o cachorro Rin Tin Tin, os capa espadas e
aventuras de Errol Flynn (em geral em parceria com Olivia de
Havilland), dramas biográficos e foi o primeiro estúdio
a ter coragem de denunciar o nazismo fazendo fitas contra eles
numa época em que os americanos preferiam ficar neutros.
Foi na Warner que realizaram seu filme símbolo, “Casablanca”,
um típico produto da Hollywood da época. Dirigido
pessoalmente por Jack Warner (que ficou no estúdio até meados
dos anos 60, tendo feito musicais como “My
Fair Lady” e “Camelot” no
fim de carreira). Vendido depois para Seven Arts, em 89 foi absorvido
pela Time (que virou Time Warner), que manteve desde então
uma administração estável e bem sucedida.
Seu símbolo sempre foi um escudo com as letras WB, mas
sofreu diversas modificações para retomar novamente às
origens a tempo da festa dos 75 anos em 98.
Columbia
Pictures
Junto
com a Universal, era considerado o mais pobre e menos importante
dos grandes estúdios. Fundado em 1914 por Harry
Cohn, que o dirigiu até sua morte, era um estúdio
de praticamente um único diretor (Frank Capra, que fez
todos seus melhores filmes para o estúdio até os
anos quarenta) e uma única grande estrela (Rita Hayworth,
a Deusa, e depois sua sucessora Kim Novak). Chamado de Poverty
Row pelos inimigos, o estúdio abrigava Os Três Patetas,
as produções independentes de Stanley Kramer, as
comédias para Judy Holliday. Não tinha um estilo
mas de vez em quando ganhava Oscars (“A um Passo da Eternidade”)
até com os filmes de David Lean (“Lawrence
da Arábia”, “A
Ponte do Rio Kwai”). Através da produtora Screen
Gems, foi das primeiras a produzir para a tevê, principalmente
séries (inclusive no Brasil foi pioneira em dublar filmes).
Em 1990, foi comprada pela firma japonesa Sony, que pagou 3.4
bilhões pela Companhia.
Seu símbolo e logotipo sempre foi a tradicional mulher
segurando a tocha. Tem um estúdio irmão dos mesmos
donos, A Tri Star (com o cavalo alado correndo como logotipo),
que acabou tendo sua direção unificada nos anos
noventa.
R.K.O.
Pictures
Foi
o primeiro dos grandes estúdios a fechar. Começou
em 1921 com a união das empresas Radio Corporation of
America, com o circuito de exibição chamado Keith
Orpheum. Seu símbolo era uma grande antena de rádio
soltando sinais. Foi o mais liberal dos estúdios, ao dar
liberdade de criação para os diretores de tal forma
que foi lá que Orson Welles produziu aquele que é considerado
o melhor filme de todos os tempos (“Cidadão Kane”,
41). Famoso também por melodramas românticos com
Irene Dunne, os nove musicais que Ginger Rogers e Fred Astaire
co estrelariam no estúdio (em geral com cenários
todos brancos e canções compostas por Porter, Gerswhin,
Berlin), os filmes de terror estilizado do produtor Val Lewton.
Katharine Hepbum foi sua maior estrela no começo dos anos
trinta, mas também teve “King Kong”, filmes
de John Ford (“Fort Apache”), Hitchcock (“Suspeita”),
Cary Grant. Distribuía nos EUA os filmes da Disney, Selznick
e Goldwyn. Em 1948 foi comprado pelo milionário Howard
Hughes que o foi destruindo aos poucos (mais ainda fazia filmes
para seus favoritos como Robert Michum, Jane Russell, Faith Domergue).
Em 53, foi vendido para a Desilu, a firma de Desi Arnaz e Lucille
Ball (que faziam na tevê o seriado “I Love Lucy”).
O irônico é que Lucille foi contratada do estúdio
e despedida por eles, dando a volta por cima. Seu acervo pertence à Ted
Turner, ou seja, Warner.
Disney
Nunca
foi considerado estúdio porque se dedicava exclusivamente
aos desenhos animados curtos e longas, que eram raros e ocasionais.
No começo dos anos cinqüenta começou a produzir
também filmes com atores e programas para a televisão.
Tinha a distribuidora própria chamada Buena Vista mas
só depois da morte de Walt Disney em 66 (ele tinha se
dedicado mais a criação de parques como a Disneylândia
e a Disneyworld). É que se diversificaram criando outras
marcas subsidiárias, a Touchstone (para filmes mais adultos),
a Hollywood e comprando a distribuidora e produtora independente
Miramax. Hoje é das mais bem sucedidas produtoras de Hollywood,
enquanto continua a produzir desenhos até chegarem à meta
de um novo a cada ano.
Samuel
Goldwyn (1882-1974)
Famoso
produtor independente que começou em 1910 e sempre
fez questão de manter liberdade trabalhando com projetos
especiais para seus atores contratados com exclusividade, Gary
Cooper, Miriam Hopkins, David Niven, Merle Oberon, Danny Kaye,
Virginia Mayo, Teresa Wright, Farley Granger, Ann Sten (que ele
tentou em vão transformar em estrela). Também contratou
exclusivamente o diretor William Wyler, que fez seus filmes mais
famosos como “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, “O
Morro dos Ventos Uivantes” e “Pérfida” (“The
Little Foxes”). Famoso por suas frases e sofismas, faleceu
em 74 depois de se dedicar no fim da carreira à musicais
(“Porgy e Bess”, “Guys and Dolls”). O
filho Jr. também se tomou produtor.
David
O Selznick (1902-65)
Responsável
por “E o Vento
Levou”, também
famoso por descobrir e manter em contrato emprestando para os
estúdios e assim fazendo dinheiro sua mulher Jennifer
Jones (a quem roubou do marido Robert Walker), Louis Jourdan,
Alida Valli, o diretor Alfired Hitchcock, Joan Fontaine, Gregory
Peck. Trabalhou para a RKO de 31 a 33, depois Metro, fundando
sua firma em 36 onde fez fitas clássicas como “Rebecca
a Mulher Inesquecível”, “Quando fala o Coração”,
ambas de Hitchcock. Além de muitas para a mulher Jennifer
(“O Retrato de Jennie”) e o clássico “O
Terceiro Homem”.
Dreamworks
Desde
a criação da Fox que ninguém tentava
em Hollywood abrir uma novo estúdio, produtoras independentes
tentaram produzir regularmente (como a Orion, Cinergi, etc.)
mas sempre falharam. Mas em 1994, Steven Spielberg, certamente
o cineasta mais bem sucedido de todos os tempos, anunciou a criação
de um estúdio, inclusive com instalações
próprias (ainda que não no velho sistema de contratos).
Ele se associou ao milionário David Geffen (que fez fortuna
com música e produziu antes cinema para a Warner) e a
Jeffrey Katzenberg (que era chefe de produção na
Disney), capitalizando o estúdio em 4,5 bilhões
de dólares. Usando com logotipo o menino pescando e a
meia lua, o novo estúdio começou mal com “O
Pacificador” (“The Peacemaker”, 97) de Mimi
Leder e a co produção com a Paramount, “Impacto
Profundo” (“Deep Impact”), da mesma diretora.
Até Spielberg errou com “Amistad” (Idem, 97),
que segundo eles, foi o único a perder dinheiro realmente.
Mas em 98 o estúdio começou a acertar com uma série
de tevê de êxito (“Spin City”, com Michael
J Fox) e o sucesso do desenho animado (“Formiguinhaz”/”Antz”)
e de “O Resgate do Soldado Ryan” (“Private
Ryan”), de Spielberg. Seus filmes são distribuídos
internacionalmente pela UIP (consórcio da Paramount, Universal
e MGM UA).
(continua...)
Por Rubens Ewald Filho
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