A HISTÓRIA DO CINEMA - PARTE 2

10 de setembro de 2003

HOLLYWOOD E SEU SISTEMA DE ESTÚDIOS

Hollywood era uma região de Los Angeles que acabou simbolizando toda a indústria do cinema americano. Originalmente é um tipo de madeira (o azevinho) e denominava um tipo de rancho que existia na região. A partir de 1912, os produtores de cinema começariam a se mudar para a Região Oeste dos EUA por várias razões, para escaparem as brigas pelas patentes, da censura imposta pelas autoridades de Nova York, mas principalmente por que naquele lugar chovia muito pouco e havia sol constante, paisagens diversas, o que possibilitava a rodagem das fitas sem ter que sair do Estado. O lugar também foi escolhido porque ficava perto da fronteira mexicana (para onde podiam fugir em caso de problemas). A paisagem permitia também que fosse rodados por ali os faroestes, de grande popularidade (com astros como Tom Mix, Bronco Billy, William Hart) e, nas cidades, as comédias de pastelão. O fato é que deu certo e Hollywood passou a englobar mais um estado de espírito do que um local.

Não se sabe quem foi o publicista que teve a idéia de criar o termo Star (Astro ou Estrela) para designar os atores de cinema que se tornam famosos (o símbolo de algum chegar ao status de Star, é quando o nome dele aparece antes dos letreiros do filme, o que passou a ser importante e provocar brigas. Quando dois astros famosos faziam um filme juntos, discutiam o tamanho das letras e qual o nome que viria antes, nos letreiros e cartaz). Mas certamente nasce de urna alegoria onde a indústria do cinema é um céu estrelado com diversas estrelas de magnitudes diferentes. Uma metáfora que foi abraçada pela própria Indústria (a Metro, o maior dos estúdios, dizia que ela tinha mais estrelas que no céu).

Inicialmente os produtores eram relutantes em identificar os atores de um filme porque tinham certeza que se famosos, eles pediriam mais dinheiro. Foi o público que passou a reconhecê los e a chamar tal garota de tal produtora. A imprensa se encarregou de identificá los ao público que os abraçou como ídolos. Já se disse que como nos Estados Unidos não existe realeza, os astros de cinema assumiram esse papel na sociedade, como modelos de comportamento, moda, beleza, perfeição etc. Criou se uma mitologia em que esses atores famosos viviam numa espécie de Olimpo (a morada dos deuses segundo a mitologia grega), como semi-deuses, diferente dos meros mortais.

Eram também como encarnação de mitos, como Cinderelas modernos, uma pessoa desconhecida podia ser descoberta tomando um sorvete (como diz a lenda, sucedeu com Lana Turner, encontrada na Schwabbs, em Hollywood), contratada por um estúdio, se tornando rica e famosa. Os primeiros grandes astros ajudaram muito a formar esta mitologia, com Douglas Fairbanks (astro de fitas de ação e capa-espada, na vida real um autêntico atleta) e Mary Pickford (especializada em papéis de menina ingênua). Casados na vida real, compraram uma mansão chamada Pickfair (inicial dos nomes deles), onde recebiam príncipes, nobres e chefes de estado do mundo inteiro. E numa época onde a comunicação entre os povos era mais lenta, figurinos serviam de modelo para a moda no mundo inteiro.

O importante é que por causa dessas Estrelas criou-se o chamado Star-System (O Sistema das Estrelas), Os produtores se organizaram em estúdios que eram basicamente grandes fábricas de fazer filmes. Tinham grandes galpões para as filmagens (os estúdios propriamente ditos) protegidos dos ruídos externos, com ar condicionado, grande altura para se poder construir cenários gigantescos e tudo o mais que fosse necessário. Por que filmar em estúdio? Porque só assim se tem o controle absoluto do tempo, da luz, das condições. Numa filmagem exterior o tempo pode mudar a cada minuto (chove, faz sol, os rios mudam, a floresta cresce), o que provoca perda de tempo e prejuízos, já que não se pode ter continuidade (num plano o céu pode estar sem nuvens no seguinte, que seria rodado alguns minutos depois, carregado de nuvens). Assim, eles optaram por recriar tudo em interiores, onde poderiam inventar o que desejassem. Tinham também uma infra-estrutura para se construir cenários (sets) impecáveis, com marcenaria, serralherias e serrarias próprias. Além de um estoque de material (tudo o que era utilizado num filme poderia ser reaproveitado em outro, criando um acervo monumental).

Um estúdio tinha como contratados toda uma equipe fundamental: maquiadores, cabeleireiros, roteiristas, diretores, cenógrafos, coreógrafos, músicos, compositores, cantores, bailarinos etc. Todos ganhando semanalmente um salário (nos EUA é costume o pagamento ser semanal) que poderias ser aumentado anualmente ou a cada renovação. Mas era um sistema complicado porque o estúdio tinha o direito de renovação. Ou seja, um contratado não podia pedir demissão ou aumento, o estúdio é quem decidia se queria ficar ou não com o empregado. E esse contrato nunca tinha menos de sete anos.

Só com o tempo é que se começou a ser contestado nos tribunais a legalidade deste tipo de contrato, que mais parecia uma prisão. Ainda mais porque quando alguém recusava um trabalho (um roteiro que certamente seria fracasso) era suspenso sem pagamentos e o tempo que ficou parado era acrescentado ao contrato, o ampliando. Estrelas como Bette Davis e Olivia de Havilland brigaram contra este tipo de coisa e acabaram ganhando. Mas só depois de muita luta. Esse contrato de sete anos era para todos, mas principalmente para os atores, que muitas vezes eram descobertos no palco ou mesmo através de fotografias, submetidos a testes e só contratados se aceitassem esse tipo de semi-pressão. O estúdio poderia obrigá-los a fazer o filme que desejava (os rebeldes podiam ser castigados com fitas inferiores que diminuiriam o seu prestígio). Em troca, o estúdio cuidava de tudo. Treinava o ator, dando-lhe aulas de equitação, esgrima, dança, canto, voz, arte dramática. Mandava regularmente fotografias deles à imprensa (de graça), que as publicava regularmente. Emprestava roupas, arrumava encontros publicitários, transformava um desconhecido num nome internacional. E, ainda por cima, abafavam algum escândalo que ele tivesse cometido.

Este sistema de estúdios vigorou desde meados dos anos vinte até o começo dos sessenta. Justamente a chamada “Idade de Ouro” de Hollywood.

 

OS ESTÚDIOS

Em 1917, a produtora Famous Players se uniu com a Paramount e nasce a primeira “Major”, o primeiro grande estúdio que leva o nome de Paramount e tem como chefe Adolf Zukor (1873 1976). A segunda seria a Metro Goldwyn Mayer formada a partir da Metro Pictures (do exibidor Marcus Loew) que se fundiu com a Goldwyn Pictures (de Samuel Goldwyn, 1888 1974, que logo depois saiu da sociedade e acabou se tornando um dos principais produtores independentes de Hollywood), chamando para dirigir o novo estúdio Louis B. Mayer (1885 1957), que seria o chefe de produção e responsável pelo estúdio até começo dos anos cinqüenta. Nasciam assim os primeiros dos grandes estúdios, cada um deles com características diferentes.

Metro Goldwyn Mayer (MGM)

Já falamos de sua origem. Sob a direção de Louis B. Mayer, a Metro era a Globo de seu tempo. Tinha as estrelas mais famosas, as instalações mais luxuosas (hoje em dia, seus estúdios são ocupados em Hollywood pela Sony Columbia em Culver City), fazia os filmes de maior prestígio e empenho. Mayer gostava de filmes para a família que defendessem os bons valores e senso comum (como as fitas da família de Andy Hardy - Mickey Rooney - extraordinariamente populares nos anos quarenta). Ele gostava de aventura ingênua (era o estúdio do Tarzan feito por Johnny Weismuller e a Jane de Maureen O'Sullivan, sem esquecer da chimpanzé Chita), era anglófilo (gostava de tudo que era inglês, para isso contratando estrelas inglesas como Greer Garson e Deborah Kerr), adorava musicais (e a Metro fazia os melhores de sua época, alguns operísticos sob o controle de Joe Pasternak que lançou Jane Powell e Kathryn Grayson, outros pura opereta, com a popularíssima dupla Jeanette MacDonald e Nelson Eddy, outros para jovens com Rooney e Judy Garland e até os de balé aquático com Esther Williams. Mas o melhor produtor de musicais era Arthur Freed (1894 1973), que reuniu em tomo de si os maiores diretores, corno, Vincente Minnelli, Stanley Donen e Charles Walters, compositores, como Cole Porter e o próprio Fred, que é o autor da trilha de “Cantando na Chuva”, e principalmente atores-dançarinos cantores, como os geniais Fred Astaire e Gene Kelly, mais Judy Garland, Cyd Charisse, Debbie Reynolds, Howard Keel etc. Também na Metro se fazia comédia anárquica (Irmãos Marx , depois Red Skelton , O Gordo e o Magro/ Stan Laurel e Oliver Hardy), filmes românticos (Greta Garbo, a Divina, era exclusiva do estúdio), dramas femininos (Joan Crawford, Norma Shearer), comédias sofisticadas (como as da série Thin Man - no Brasil, os Acusados -, com William Powell e Myrna Loy). Era o estúdio do chamado Rei de Hollywood (Clark Gable, que adquiriu o título numa votação pública, mas o titulo pegou), da cachorra Lassie, de Elizabeth Taylor, Wallace Beery, da dupla Spencer Tracy e Katharine Hepburn, do astro do cinema mudo Lon Chaney. Curiosamente não produziram “E o Vento Levou”, apenas o distribuíram por causa da presença de Gable, o responsável pelo filme foi David O. Selznick. Seu símbolo celebre é o leão rosnando com o emblema Arts Gratia Artis/A Arte pela Arte. A partir de 50, caiu Mayer e entrou Moss Hart, mais intelectualizado que procurou temas mais difíceis. A concorrência com a televisão ficou forte demais em meados da década e eles foram forçados a dispensar seu elenco. Sobreviveram até o começo dos anos 70 quando foi comprado por Kirk Kerkorian, que teve a infeliz idéia de investir em hotéis em Las Vegas e liquidou seu acervo, vendendo em leilão o passado ilustre. Os filmes da Metro foram vendidos para Ted Turner que os relançou em vídeo e em seus canais a cabo (nos anos noventa eles passaram para a Warner como parte da fusão da Turner com a Warner). A Metro se fundiu com a falida United Artists e continua a produzir ainda que com menos regularidade e freqüência e sucesso. Mas a Metro de hoje nada tem a ver com seu passado.

Embora sua marca seja muito forte, a ponto da Disney tê-la comprado como franchising quando abriram um estúdio para turistas na Florida nos anos 80.

Na Metro, há que notar ainda a participação do produtor Irving S. Thalberg (1899 1936) que, apesar da vida breve, criou um padrão de excelência na produção de tal forma que o prêmio para produtores na Academia de Artes e Ciência de Hollywood hoje leva seu nome. Casado com a estrela Norma Shearer, ele supervisionava os filmes mais ambiciosos do estúdio até sua morte.

Paramount (Pictures Corporation)

O estúdio tem como símbolo a montanha gelada e hoje pertence ao conglomerado Viacom (do qual fazem parte também a MTV e as locadoras Blockbuster). Foi basicamente uma criação de Adolph Zukor, que começou com cinema de feira (nos chamados Nickelodeon, onde você via filmes por um nickel, dez centavos) que havia começado fotografando peças teatrais (inclusive com Sarah Bernhardt, a mais famosa das estrelas do palco). Sempre teve um ar europeu sofisticado, servindo de lar para emigrantes da Áustria e Alemanha, muitos deles judeus. Produzia entretenimento sofisticado, com ênfase em estrelas como Marlene Dietrich (que veio da Alemanha junto com seu mentor, o diretor Josef Von Stemberg, era para ser rival de Garbo mas virou um mito próprio numa série de fitas de grande beleza a partir de “O Anjo Azul”), Rodolfo Valentino (italiano de nascimento foi o primeiro grande ídolo romântico, o latin lover, amante latino, que morreu prematuramente em 1926 aos 31 anos), a dupla Bob Hope (comediante) e Bing Crosby (cantor ou “crooner”, altamente popular) que fizeram urna série de comédias chamada Road To (Estrada para...) trazendo sempre Dorothy Lamour famosa por seu tipo exótico e seus sarongs, Alan Ladd (loiro baixinho que fazia tipo durão em fitas policiais, em geral em dupla com Veronica Lake, que ficou famosa pela cabelo loiro caído na testa de um só lado que foi super popular nos anos 40), musicais com Maurice Chevalier e outras fitas sofisticadas dirigidas pelo mestre do gênero Ernst Lubitsch e depois por seu sucessor e aprendiz, Billy Wilder (na Paramount, este foi roteirista e depois fez clássicos como “Crepúsculo dos Deuses”/”Sunset Boulevard”). Também era a casa de Cecil B. De Mille, o mais eficiente realizador de super espetáculos, em geral bíblicos, de Claudette Colbert, Fred MacMurray, do começo dos Irmãos Marx etc. Comprado nos anos 60 pelo conglomerado Gulf/ Western conseguiu manter urna dose de filmes famosos (Os Chefões, “Love Story”, “Indiana Jones’ , “Grease”, “Top Gun”) como um dos estúdios mais estáveis de Hollywood.

United Artists (Corporation)

Formada em 1919 pela união de um diretor (Griffith), um comediante (Chaplin) e dois astros (Pickford e Fairbanks) como Artistas Unidos, com a intenção de distribuir seus próprios filmes e de outros independentes, como Samuel Goldwyn e David Selznick. Em meados dos anos vinte, Joe Schenck foi trazido para dirigir a companhia e com ele vieram outros atores (Valentino, o comediante Buster Keaton, Gloria Swanson) e produtores (como Howard Hughes, que fez “Scarface”, “Anjos do Inferno”). Teve problemas de produto nos anos trinta e quarenta mas se recuperou com o cinema independente dos anos cinqüenta, com a ajuda dos Irmãos Marx, abrigando cineastas e atores que desejavam maior liberdade, distribuindo filmes como “As Aventuras de Tom Jones”, “Sete Homens e um Destino”, “Um Estranho no Ninho”, “Rocky”, as fitas de James Bond etc. Mas o estúdio literalmente faliu e foi forçado a se unir à Metro, depois do fracasso de “O Portal do Paraíso” (Heaven's Gate, 80), um faroeste massacrado pela crítica. Era o único dos estúdios que não tinha uma linha ou característica própria, nem mesmo uma marca, um logotipo notável. Apenas abrigava produtores independentes em busca de liberdade, mais ou menos como acontece hoje em dia em quase todos os estúdios.

Universal Pictures

Fundado em 1912 por Carl Laemmle, um exibidor que virou produtor, teve prestígio como Universal City abrigando filmes famosos de Eric Von Stroheim, Valentino e Lon Chaney. Em 1920 produziu o vencedor do Oscar “Sem Novidade no Front” e depois ficou famosa como a “casa dos monstros” por ter feito os marcantes filmes de “Dracula” (com Bela Lugosi) e “Frankenstein” (com Boris Karloff), ambos no começo dos anos trinta (o estúdio registraria a maquiagem dos personagens e hoje ninguém pode usá la sem pagar à Universal). Mas Laemmle perdeu o poder e o estúdio empobreceu fazendo fitas de baixo custo estando sempre à beira da ruína. Foi salvo várias vezes pelos musicais operísticos da jovem Deanna Durbin, as comédias dos popularíssimos humoristas, vindos do rádio, a dupla Budd Abbott e Lou Costello, as comédias de Francis, o Mulo Falante com Donald O'Connor. No começo dos anos 50, o estúdio foi o primeiro a fazer acordos com astros dando-lhes participação na bilheteria e liberdade criativa, principalmente para James Stewart (junto com o diretor Anthony Mann). Ao mesmo tempo foi o primeiro a explorar o filão dos turistas abrindo seus sets, para a visitação deles, de tal forma que o negócio cresceu tanto que abriram filial na Florida (o estúdio realmente funciona normalmente em Los Angeles enquanto os turistas passeiam pelos sets antigos). Enquanto os outros estúdios venderam seus backlots, ou seja, o terreno que eles tinham nos fundos e onde filmavam as cenas externas ou de ação, a Universal transformou o lugar em parque de diversões com enorme êxito. Foi também o ultimo dos estúdios a largar o Sistema de Estrelas mantendo sob contrato jovens que treinava (e de onde saíram Harrison Ford e Clint Eastwood), muitos deles virando astros (como Tony Curtis e Rock Hudson). O produtor Ross Hunter atraiu estrelas como Lana Turner e Doris Day numa série de fitas para o público feminino nos anos cinqüenta e fez fitas para jovens com o ídolo Sandra Dee.
Foi na Universal que Spielberg aprendeu sua profissão, onde estreou na direção aos 21 anos e onde instalou sua produtora Amblin. Em 62, o estúdio fundiu se com a agencia MCA /Music Corporation of America, sendo depois vendida para os japoneses e hoje está nas mãos da Seagram's. Foi também o primeiro dos estúdios a produzir séries e telefilmes para a tevê com enorme êxito.

20th Century Fox

Foi durante anos, até a chegada da Dreamworks, o mais novo dos estúdios e o único a ter com sua marca também uma famosa e eficiente fanfarra, ainda que seu nome fique marcado (seria a Fox do Século Vinte, com a virada do século ela não pensa em mudar). Foi formada em 1935 pela união da Twentieth Century Pictures de Joseph Schenck e a Fox de William Fox, ambos de longa carreira na exibição e produção (ele havia feito sucesso com as fitas da mulher fatal Theda Bara, sido pioneiro nos cinejornais falados). A nova companhia tinha como diretor geral Darryl F. Zanuck, que vinha da Warner e que manteve o cargo de 35 a 52, deixando depois no lugar o filho Richard Zanuck (que fez “Tubarão”, mas na Universal). Retornou ainda em 62 quando o estúdio entrou em crise com “Cleópatra”, salvando o da bancarrota com a fita “O Mais Longo dos Dias”, produzido pessoalmente por ele. Foi Zanuck quem impôs o estilo do estúdio, ele gostava de loiras (Alice Faye, Betty Grable, a mais popular garota para os pracinhas durante a Segunda Guerra, Marilyn Monroe), filmes em tecnicolor (o colorido do estúdio era considerado o melhor), muitas aventuras com Tyrone Power e Don Ameche. Havia também a atriz infantil mais popular de todos os tempos, Shirley Temple, que fez todos os grandes filmes de seu apogeu para o estúdio (embora Zanuck nunca tenha gostado dela). Depois da Segunda Guerra, o estúdio foi o primeiro a fazer os chamados filmes com problemas (Problem Pictures) abordando temas então proibidos como a loucura mental (“Na Cova das Serpentes”/”The Snake Pit”), linchamento (“Consciências Mortas”/’The Ox Bow Incident”), racismo (“O Que a Carne Herda”/”Pinky”, “A Luz é para Todos”/”Gentlemen's Agreement”), embora tivesse já ousado abordar a pobreza em “Vinhas da Ira” (Grapes of Wrath, 40), de John Ford. Diante da concorrência com a televisão, foi o primeiro estúdio a recorrer a tela grande produzindo todos seus filmes pelo sistema de Wide Screen chamado Cinemascope (desde “O Manto Sagrado”/”The Robe”, 53). Pertence hoje ao milionário australiano Rupert Murdoch, que tem investido em canais de tevê, mantendo boas ligações com George Lucas, distribuindo a série dele, “Guerra nas Estrelas”.

Warner Brothers Pictures Inc.

Depois da Metro, era o maior dos estúdios. Só que se a Metro fazia filmes para a família, a Warner se endereçava para a classe trabalhadora, realizando fitas sobre as manchetes do dia a dia (gangsters, FBI, emancipação feminina) realizadas com muito claro/escuro, narrativa rápida e direta (e por isso que resistiram tão bem ao tempo). Era uma firma de família fundada em 1923 pelos quatro irmãos Warner, que estavam no negócio de exibição. Não tinham grande importância até quando resolveram arriscar numa novidade chamada cinema sonoro (com “Don Juan”, em 1926) e depois com o primeiro filme falado, o ruim mas inovador “O Cantor de Jazz” (The Jazz Singer, 27) em que Al Jolson não apenas canta mas também diz algumas palavras improvisadas. O sucesso foi tão espetacular que revolucionou toda a indústria, que foi obrigada a se adaptar, adequando se as salas e os sets de filmagens (que precisaram ser blindados contra os ruídos). A Warner estava em cima disso fazendo musicais com Jolson e depois com o fantástico criador de coreografias Busby Berkeley. Para falar diálogos precisaram de atores da Broadway e foi assim que conseguiram um elenco que exploravam ao máximo (o estúdio era o menos glarmurizado de todos, todos trabalhavam duro como numa fabrica chegando a fazer sete filmes por ano). Produziam filmes de gangsters com James Cagney, Humphrey Bogart, Edward G. Robinson, George Raft, John Garfield (quando o governo reclamou do crime ser mostrado favoravelmente, eles passaram os atores para fazer homens do governo, os chamados G. Men), dramas que mostravam a ascensão das mulheres no lugar de trabalho (com Ann Sheridan, apelidada a Oomph Girl, Bette Davis, a maior estrela do estúdio, depois sua rival Joan Crawford, vinda da Metro, Barbara Stanwyck que era mais free lancer). Mas o estúdio era variado, tinha o cachorro Rin Tin Tin, os capa espadas e aventuras de Errol Flynn (em geral em parceria com Olivia de Havilland), dramas biográficos e foi o primeiro estúdio a ter coragem de denunciar o nazismo fazendo fitas contra eles numa época em que os americanos preferiam ficar neutros.
Foi na Warner que realizaram seu filme símbolo, “Casablanca”, um típico produto da Hollywood da época. Dirigido pessoalmente por Jack Warner (que ficou no estúdio até meados dos anos 60, tendo feito musicais como “My Fair Lady” e “Camelot” no fim de carreira). Vendido depois para Seven Arts, em 89 foi absorvido pela Time (que virou Time Warner), que manteve desde então uma administração estável e bem sucedida. Seu símbolo sempre foi um escudo com as letras WB, mas sofreu diversas modificações para retomar novamente às origens a tempo da festa dos 75 anos em 98.

Columbia Pictures

Junto com a Universal, era considerado o mais pobre e menos importante dos grandes estúdios. Fundado em 1914 por Harry Cohn, que o dirigiu até sua morte, era um estúdio de praticamente um único diretor (Frank Capra, que fez todos seus melhores filmes para o estúdio até os anos quarenta) e uma única grande estrela (Rita Hayworth, a Deusa, e depois sua sucessora Kim Novak). Chamado de Poverty Row pelos inimigos, o estúdio abrigava Os Três Patetas, as produções independentes de Stanley Kramer, as comédias para Judy Holliday. Não tinha um estilo mas de vez em quando ganhava Oscars (“A um Passo da Eternidade”) até com os filmes de David Lean (“Lawrence da Arábia”, “A Ponte do Rio Kwai”). Através da produtora Screen Gems, foi das primeiras a produzir para a tevê, principalmente séries (inclusive no Brasil foi pioneira em dublar filmes). Em 1990, foi comprada pela firma japonesa Sony, que pagou 3.4 bilhões pela Companhia. Seu símbolo e logotipo sempre foi a tradicional mulher segurando a tocha. Tem um estúdio irmão dos mesmos donos, A Tri Star (com o cavalo alado correndo como logotipo), que acabou tendo sua direção unificada nos anos noventa.

R.K.O. Pictures

Foi o primeiro dos grandes estúdios a fechar. Começou em 1921 com a união das empresas Radio Corporation of America, com o circuito de exibição chamado Keith Orpheum. Seu símbolo era uma grande antena de rádio soltando sinais. Foi o mais liberal dos estúdios, ao dar liberdade de criação para os diretores de tal forma que foi lá que Orson Welles produziu aquele que é considerado o melhor filme de todos os tempos (“Cidadão Kane”, 41). Famoso também por melodramas românticos com Irene Dunne, os nove musicais que Ginger Rogers e Fred Astaire co estrelariam no estúdio (em geral com cenários todos brancos e canções compostas por Porter, Gerswhin, Berlin), os filmes de terror estilizado do produtor Val Lewton. Katharine Hepbum foi sua maior estrela no começo dos anos trinta, mas também teve “King Kong”, filmes de John Ford (“Fort Apache”), Hitchcock (“Suspeita”), Cary Grant. Distribuía nos EUA os filmes da Disney, Selznick e Goldwyn. Em 1948 foi comprado pelo milionário Howard Hughes que o foi destruindo aos poucos (mais ainda fazia filmes para seus favoritos como Robert Michum, Jane Russell, Faith Domergue). Em 53, foi vendido para a Desilu, a firma de Desi Arnaz e Lucille Ball (que faziam na tevê o seriado “I Love Lucy”). O irônico é que Lucille foi contratada do estúdio e despedida por eles, dando a volta por cima. Seu acervo pertence à Ted Turner, ou seja, Warner.

Disney

Nunca foi considerado estúdio porque se dedicava exclusivamente aos desenhos animados curtos e longas, que eram raros e ocasionais. No começo dos anos cinqüenta começou a produzir também filmes com atores e programas para a televisão. Tinha a distribuidora própria chamada Buena Vista mas só depois da morte de Walt Disney em 66 (ele tinha se dedicado mais a criação de parques como a Disneylândia e a Disneyworld). É que se diversificaram criando outras marcas subsidiárias, a Touchstone (para filmes mais adultos), a Hollywood e comprando a distribuidora e produtora independente Miramax. Hoje é das mais bem sucedidas produtoras de Hollywood, enquanto continua a produzir desenhos até chegarem à meta de um novo a cada ano.

Samuel Goldwyn (1882-1974)

Famoso produtor independente que começou em 1910 e sempre fez questão de manter liberdade trabalhando com projetos especiais para seus atores contratados com exclusividade, Gary Cooper, Miriam Hopkins, David Niven, Merle Oberon, Danny Kaye, Virginia Mayo, Teresa Wright, Farley Granger, Ann Sten (que ele tentou em vão transformar em estrela). Também contratou exclusivamente o diretor William Wyler, que fez seus filmes mais famosos como “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, “O Morro dos Ventos Uivantes” e “Pérfida” (“The Little Foxes”). Famoso por suas frases e sofismas, faleceu em 74 depois de se dedicar no fim da carreira à musicais (“Porgy e Bess”, “Guys and Dolls”). O filho Jr. também se tomou produtor.

David O Selznick (1902-65)

Responsável por “E o Vento Levou”, também famoso por descobrir e manter em contrato emprestando para os estúdios e assim fazendo dinheiro sua mulher Jennifer Jones (a quem roubou do marido Robert Walker), Louis Jourdan, Alida Valli, o diretor Alfired Hitchcock, Joan Fontaine, Gregory Peck. Trabalhou para a RKO de 31 a 33, depois Metro, fundando sua firma em 36 onde fez fitas clássicas como “Rebecca a Mulher Inesquecível”, “Quando fala o Coração”, ambas de Hitchcock. Além de muitas para a mulher Jennifer (“O Retrato de Jennie”) e o clássico “O Terceiro Homem”.

Dreamworks

Desde a criação da Fox que ninguém tentava em Hollywood abrir uma novo estúdio, produtoras independentes tentaram produzir regularmente (como a Orion, Cinergi, etc.) mas sempre falharam. Mas em 1994, Steven Spielberg, certamente o cineasta mais bem sucedido de todos os tempos, anunciou a criação de um estúdio, inclusive com instalações próprias (ainda que não no velho sistema de contratos). Ele se associou ao milionário David Geffen (que fez fortuna com música e produziu antes cinema para a Warner) e a Jeffrey Katzenberg (que era chefe de produção na Disney), capitalizando o estúdio em 4,5 bilhões de dólares. Usando com logotipo o menino pescando e a meia lua, o novo estúdio começou mal com “O Pacificador” (“The Peacemaker”, 97) de Mimi Leder e a co produção com a Paramount, “Impacto Profundo” (“Deep Impact”), da mesma diretora. Até Spielberg errou com “Amistad” (Idem, 97), que segundo eles, foi o único a perder dinheiro realmente. Mas em 98 o estúdio começou a acertar com uma série de tevê de êxito (“Spin City”, com Michael J Fox) e o sucesso do desenho animado (“Formiguinhaz”/”Antz”) e de “O Resgate do Soldado Ryan” (“Private Ryan”), de Spielberg. Seus filmes são distribuídos internacionalmente pela UIP (consórcio da Paramount, Universal e MGM UA).

(continua...)

 

Por Rubens Ewald Filho