Florbela
A poetisa portuguesa Florbela Espanca se ve presa em um casamento de puro t?dio. Ela neo enxerga mais o marido com os mesmos olhos de quando o conheceu
Florbela (Idem). Portugal, 2012, 114 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Vicente Alves do Ó. Distribuição: Imovision
O cinema português é pouco apreciado no Brasil, talvez por não termos aqui uma distribuição das obras de forma efetiva. Lá na terrinha há cineastas de qualidade impressionante, sendo Manoel de Oliveira o maior representante, seguido de Miguel Gomes, João Cesar Monteiro, Teresa Villaverde e um que gosto especialmente, Miguel Gonçalves Mendes, com quem passei uma tarde quando estive em Lisboa no Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, o Festin, em 2013. E nessa lista incluo Vicente Alves do Ó, o diretor e roteirista de “Florbela” (2012), um filme poético, de beleza e textura admiráveis, inspirado na vida da escritora e poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894-1930).
Foi a produção mais vista nos cinemas de Portugal naquele ano, acredito que pelo fato de a poetisa exercer forte tradição na cultura popular do país. De narrativa lenta (próprio de um cult português), o longa se passa na década final de vida da escritora, 1920-1930, colocando a poetisa como uma mulher à frente de seu tempo. Entediada no casamento, cheia de inquietações, ela deixa o marido para seguir com o irmão (com quem é apegada) para Lisboa. Uma tragédia (que não vou contar, apesar de o fato ser notório na biografia da escritora) faz o mundo de Florbela ruir, então escrever se torna sua salvação, uma maneira de expurgar os sentimentos dolorosos e também de fugir da pressão da realidade.
Como disse, o roteiro não segue a biografia de cabo a rabo da personagem-título, muitos fatos da infância e meninice dela ficam nos diálogos e entrelinhas, como seu nascimento fruto de um casamento extraconjugal, e o abandono pelo pai, que não a reconheceu em vida.
É bom dizer que o filme é bem formal, de extremo rigor técnico, que beira o literário, e conta com locações bem cuidadas, dentro de uma fotografia iluminada – várias locações são da cidadezinha onde Florbela nasceu, Vila Viçosa, na região de Évora, além de externas em Lisboa.
Como muitos escritores por aí, Florbela só ficou conhecida em seu país depois de seu falecimento. No caso, foi uma morte prematura - ela era suicida, tentou a morte várias vezes, até que conseguiu aos 36 anos, por overdose de remédios. Sem sombra de dúvida permanece no topo das maiores escritoras de Portugal, ao lado de Mariana Alcoforado, Agustina Bessa-Luís e Maria Gabriela Llansol.
Ganhador de mais de 20 prêmios em festivais pelo mundo, o longa está disponível em DVD pela Imovison.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com