RESENHA CRTICA: Elvis & Nixon (Idem)
Embora haja personagens como alvio cmico, o curioso que tanto Elvis quanto Nixon so absolutamente levados a srio, sem qualquer caricatura
Elvis & Nixon (Idem)
EUA, 16. 86 min. Direção de Liza Johnson. Com Kevin Spacey (como Nixon), Michael Shannon (como Elvis, assina como co-produtor), Alex Pettyfer, Colin Hanks, Johnny Knoxville, Evan Peters, Sky Ferreira, Tracy Letts, Tate Donovan. Co-produção da Amazon com Sony (para o Brasil).
Este é um filme curto (mas que ainda assim parece esticado já que a história é realmente pequena) que narra o encontro entre o astro Elvis Presley (1935-77) e o presidente Richard Nixon (1913-94 ) na Casa Branca, o que não leva mais do que meia hora da trama. A situação é lembrada (mas nunca apareceu em filme ou TV antes) porque a foto que eles tiraram juntos acabou se tornando a foto mais requisitada do National Archives! E tudo é contado com bastante fidelidade (o encontro foi apenas semanas antes de Nixon começar a gravar tudo que sucedia em sua sala, infelizmente o que é dito então baseia-se em lembranças mais do que provas!).
Enfim, parece ser fato que Elvis naquela época já com sua carreira no cinema terminada, mas ainda casado com Priscilla e tendo uma filha de dois anos, estava horrorizado com o que vinha acontecendo nos EUA com os protestos contra a Guerra do Vietnã, o uso de drogas por parte dos jovens e outras atitudes que considerava absurdas e até mesmo comunistas (no começo do filme ele da tiros na TV, inclusive no filme de Kubrick que está passando Doutor Fantástico!). Chegou a acusar os Beatles de serem comunistas e portanto antiamericanos, mas a razão maior para a visita a Casa Branca, sem ser convidado mas aparecendo por lá num dos portões desejando encontrar o presidente (noutro momento, também tenta encontrar o chefe do Serviço Secreto!). Sua intenção é conseguir uma credencial de agente secreto que trabalhe em segredo (cargo que não existia antes) para assim poder conseguir informações sobre os ditos rebeldes (na autobiografia de Priscilla ela afirma que Elvis só queria a credencial para poder entrar e sair de toda parte com o porte de arma liberado! O fato é que ele nunca usou oficialmente a credencial e o distintivo!).
A direção do filme é de Liza Johnson que fez antes Amores Inversos (Hateship/Loveship, um drama interessante para Kristen Wiig e Guy Pearce), além do desconhecido Return, 12, com Linda Cardellini. O projeto foi antes do ator Cary Elwes (que ainda assim como coprodutor) e roteiro do roteirista Joey Sagal (escreveu com sua mulher Hanala) e faz uma ponta como o imitador de Elvis que encontrar com ele no aeroporto. Embora haja personagens como alívio cômico (basicamente os assistentes do presidente), o curioso é que tanto Elvis quanto Nixon são absolutamente levados a sério, sem qualquer caricatura (e mesmo tendo cenas que são ridículas!).
Não é o melhor trabalho de Kevin Spacey fazendo uma caracterização de gente famosa (ate como Bobby Darin saiu-se melhor e como Nixon ninguém superou ainda Anthony Hopkins em Nixon, de Oliver Stone). Se ele está apagado, é mais grave o caso de Michael Shannon como Elvis. Atualmente ele é o grande vilão do cinema americano, revelado em Boardwalk Empire e agora está em tudo que é filme (indicado ao Oscar por Foi Tudo um Sonho e Globo de Ouro no recente 99 Homes). Tem porém um olhar pesado, aparência de bandido e em nenhum momento passa a juventude (ainda) e ingenuidade de Elvis! Um equívoco que os óculos escuros escondem um pouco, mas que determina com certeza o fracasso do filme nos EUA (onde chegou a rende apenas por volta de um milhão de dólares, o que para produções modestas não é tão ruim assim).
No elenco, porém. temos figuras positivas, como a surpreendente aparição do inglês Alex Pettyfer, que faz o melhor amigo de Elvis, que teve sucessão de desastres e chegou a ser despedido de filmes por sua rebeldia e uso de drogas (Magic Mike. Aliás depois deste trabalho não tem nenhum outro filme anunciado). E o filho de Tom Hanks, Colin, é outro que se salva. Um destaque para uma brasileira no elenco que se chama Sky Tonia Ferreira. Que faz o papel de Charlotte. Ela também é cantora e diz a Wikipedia que em 2014 veio ao Brasil divulgar seu álbum de estreia intitulado '''Night Time, My Time''' e se apresentou no Cine Joia, em São Paulo, dentro de um evento do Club NME no dia 11 de junho.
Ou seja, um filme modesto e irregular, mas em que ao menos as cenas entre os dois excêntricos funciona bem. E até justifica assisti-lo.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.