RESENHA CRTICA: Elle (Idem)
Muito hbil, por vezes intenso, comandando pela soberba Huppert um dos raros filmes atuais que foge da rotina e nos impacta
Elle (Idem)
França, 16. 130 min. Direção de Paul Verhoeven. Com Isabelle Huppert, Charles Berling, Laurent Lafitte, Anne Consigny, Virginie Efira, Judith Magre, Julien Berkel, Jonas Bloquet.
Estreando em Cannes já no fim do Festival deste ano, acabou sendo uma das melhores surpresas deste ano, o que se confirmou também na ótima recepção na Mostra de são Paulo. E se há justiça no Oscar, não poderão esquecer da interpretação de Isabelle Huppert, que há anos vem tendo trabalhos incríveis e certamente hoje é a maior atriz da Europa. Ninguém tão corajosa, tão completa, quanto ela.
Ainda mais numa história polêmica por natureza ao girar basicamente na história de Michele Leblanc, uma liberal e bem sucedida dona de empresa, que vive num bairro luxuoso nos arredores de Paris, mas que um dia, sem entender, é atacada por um mascarado que a domina e estupra. Numa sequência violenta, mas que em momento nenhum procura o erotismo. Humilhada ela tenta reconstruir sua vida na esperança que tenha sido apenas uma vez. Mas ele volta a atacar.
A história é baseada em livro de Philippe Dijan, que não se pode esquecer é o autor do clássico inesquecível Betty Blue (86) e do menos famoso O Amor é um Crime Perfeito (com Mathieu Almaric, 13). Dentre outros não exibidos por aqui. Também é importante que o filme representa o retorno de um cineasta que os brasileiros descobriram antes de muitos, que é Paul Verhoeven, holandês que revelou o ator Rutger Hauer em Louca Paixão, 73, Soldado de Laranja ,77. Aqui no Brasil se tornou Cult o talentoso O Quarto Homem. Depois foi com o ator para o cinema americano (Conquista Sangrenta, 85). Realizou ainda o primeiro Robocop, O Vingador do Futuro com Schwarzenegger, e o mega sucesso Instinto Selvagem que revelou Sharon Stone.
Mas veio a fase ruim, o lamentável Tropas Estelares e Showgirls, hoje um clássico kitsch. Ele retornou a Europa onde dirigiu ainda o médio A Espiã (06), mas só agora conseguiu se reabilitar sem fugir da polêmica (ele nasceu em 1938, mas o filme ainda é ágil, ardente e atrevido como era seu estilo!). Porque o filme sabiamente vira um thriller quase policial sem esquecer de estabelecer um personagem de mulher forte, poucas vezes mostrado pelo cinema atual. Muito hábil, por vezes intenso, comandando pela soberba Huppert (que tem o hábito de fazer e ou 4 filmes por ano!), é um dos raros filmes atuais que foge da rotina e nos impacta.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.