Mundo Blue

O documentário Janis ? Little Girl Blue consegue apresentar a mulher por trás da potência roqueira que dominava um palco como poucas

23/12/2016 13:22 Por Bianca Zasso
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Há quem descubra um talento ainda na infância. Músicos costumam ter como brinquedos preferidos tamborzinhos e guitarrinhas, os possíveis cantores transformam escovas de cabelo em microfone. Mas temos uma exceção chamada Janis Joplin. Quando era mais uma adolescente em Port Arthur, no conservador estado do Texas, Janis se preparava para ser professora e levar uma vida comum e com muitas chances de ser sem graça. Foi só aos 17 anos que uma luz acendeu: ela cantou e todos pararam para ouvir. O que aconteceu depois muitos sabem, já que sua trajetória ganhou força junto com a ascensão do rock’n’roll dos anos 70. O documentário Janis – Little Girl Blue retrata tudo isso e ainda consegue outro feito: apresentar a mulher por trás da potência roqueira que dominava um palco como poucas.

Dirigido por Amy Berg, o filme intercala depoimentos de amigos e familiares, imagens de arquivo e trechos de cartas escritas por Janis ao longo de sua curta vida, lidas pela cantora e compositora Cat Power, uma fã declarada da cantora. E são justamente estas cartas que trazem alma para Little Girl Blue. São nas linhas endereçadas à família que Janis mostra o que há por trás da artista que cantava sem medo. No começo, é quase um paradoxo ouvir os pedidos de desculpas de Janis para a mãe, logo ela que foi um dos símbolos de uma época libertadora. A masculinização das atitudes para ser aceita entre os músicos, as letras autobiográficas como terapia e a eterna procura por um abraço sincero ficam evidentes e são endossadas pelo depoimento de David Niehaus, com quem ela se relacionou durante sua passagem pelo Brasil. No Rio de Janeiro, Janis resolveu dar um tempo nas drogas a pedido do “novo amor”, um viajante convicto que seguiu seu caminho enquanto Janis voltava para a América e para a heroína. Um telegrama de David estava próximo ao corpo de Janis quando ela foi encontrada morta, aos 27 anos, num quarto de hotel em Hollywood. Os timbres desesperados saiam de uma romântica. Não que Janis acreditasse na idiotice milenar de que toda mulher precisa de um homem para ser feliz, longe disso. Como todo ser humano, Janis queria ser amada, aceita do jeito que era, despir-se do personagem que, por mais que tivesse muito dela, foi criado para amenizar seus verdadeiros desejos.

Janis – Little Girl Blue, como era de se esperar, tem várias canções imortais na trilha sonora e o processo criativo de sua protagonista não foi deixado de lado. O respeito conquistado por ela no meio musical está no depoimento de Kris Kristofferson e na cara de admiração de Mama Cass, do The Mamas and the papas, ouvindo-a cantar no festival de Monterey. Saímos do filme com uma vontade imensa de devorar todos os álbuns de Janis, agora com novo significado. Ela continua brilhante, mas saber que havia uma garota como nós, confusa, errante e nem sempre confiante, faz a vida seguir mais fácil.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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