O Primeiro Acorde

Sing Street passou longe dos cinemas brasileiros, mas chegou ao conhecimento do público pela plataforma Netflix

12/01/2017 20:26 Por Bianca Zasso
O Primeiro Acorde

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De quem vamos lembrar lá na frente, quando já tivermos bagagem suficiente para ter mais lembranças que planos? Parece uma pergunta pessimista, mas no fundo só nos aventuramos com o objetivo de termos boas lembranças para rirmos sozinhos ou dividir com os netos. Entre os muitos retalhos que vamos guardar, estarão algumas frases, livros, músicas e, é claro, filmes. Se você está lendo esta coluna é porque, no mínimo, se interessa por cinema e o trata com respeito, fazendo dele mais que uma diversão para tardes chuvosas. Aliás, é uma sugestão para elas o verdadeiro tema deste texto. Digo mais, é uma lembrança para guardar com carinho.

O diretor John Carney, que já brindou o público com duas das melhores comédias-românticas-musicais dos últimos tempos (para quem não lembra, Apenas uma vez e Mesmo se nada der certo) volta seu olhar para aquela fase da vida que sempre rende, mesmo quando não foi um mar de rosas (e isso lá existe?), a escabrosa adolescência. Sing Street passou longe dos cinemas brasileiros, mas chegou ao conhecimento do público pela plataforma Netflix, que tem melhorado seu acervo e tentado um equilíbrio entre clássicos e novidades. A trama acompanha Conor, um garoto de 15 anos como eu e você(?)um dia já fomos: sem internet ou Mp3. Sing Street se passa em 1985, na cidade de Dublin, em plena crise financeira, responsável pela mudança de escola de Conor. No novo ambiente, hostil como todo colégio católico, ele vê seus problemas dobrarem de tamanho. Se em casa os pais brigam sem parar, não será nos bancos escolares que ele irá encontrar paz. Só que na saída havia uma garota. Linda. Mais velha. Misteriosa. Com a coragem que só o excesso de hormônios é capaz de nos dar, Conor inventa que tem uma banda e convida a tal moça para participar do clipe. Daquelas coisas de filme, ela aceita. Ou seja, Conor precisa de uma banda. E consegue.

Com um elenco jovem talentoso, com destaque para o protagonista Ferdia Walsh-Peelo, Sing Street é um filho direto das ótimas produções do saudoso diretor John Hughes, não só por ser ambientado nos anos 80, mas por sua ternura inteligente. O romance entre Conor e a garota misteriosa é apenas um pretexto para Carney filmar as mudanças típicas da juventude, necessárias para que possamos encontrar nosso caminho. Os experimentos de Conor e sua turma acontecem em meio a discos do Duran, Joy Division e The Cure. Garotos que vão da androginia (Bowie ficaria orgulhoso!) às declarações de amor sem um pingo de vergonha. Tudo isso guiado e observado por Brendan, irmão mais velho de Conor e dono de uma coleção de discos invejável. É no quarto dele que acontecem as “aulas” musicais, lembrando um novo clássico também dotado de bom gosto, o Quase Famosos de Cameron Crowe. É a parte fraterna do filme. Afinal, nem só de garotas são feitas as lembranças.

Como já era de se esperar, a trilha sonora conquista até os mal-humorados de plantão que podem não gostar do filme. Composições ao gosto do melhor do pop oitentista e letras que, com certeza, tocariam nas rádios. Mas estamos na ficção e as estações do mundo real atualmente não costumam apresentar aos menores de idade nada de muito talento. Tristes tempos, compensados por filmes como Sing Street.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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