Culpado ou Inocente?
Fúria de Justos é um filme imperdível, não só pelo tema, mas por ser um brilhante filme de tribunal
Segregação, discriminação, bullying são algumas das características da vida dos negros nos Estados Unidos nos anos 50. Neste contexto, para analisar a profundidade de Fúria dos Justos (1955) é preciso entender o que se passava na época. Basicamente, o circo explosivo do filme é armado mais pela etimologia e ideologia que pelo crime em si: um advogado defende um mexicano acusado de assassinar uma moça branca. Neste cenário, somam-se o promotor (comunista) e o juiz do caso, que é negro. Agora imaginem este tema, como estes elementos, em pleno 1955. Um negro sentenciando um branco? Um comunista do lado do Estado? Este é Fúria dos Justos, dirigido por Mark Robson, que era uma pessoa politizada (estudou ciência política e econômica na Universidade da Califórnia além de estudar direito na Universidade Pacific Coast). Robson, que era Canadense, partiu cedo (64 anos), de infarto, durante a pós produção do filme Pânico no Atlântico Express que, por infeliz coincidência, um dos protagonistas também morreu sem ver o filme pronto: Robert Shaw.
Voltando ao filme, como esquecer a bombástica cena do enterro, que um determinado cidadão defende a separação das raças, meio que como um Hitler, querendo a purificação racial. Cidadão que pertencia a nada menos que a Klu Klux Klan. Para se ter uma ideia do momento social, no ano que foi produzido o filme, em 1954, a Suprema Corte proibiu a segregação em escolas públicas. Em 1955 Rosa Parks, uma mulher negra, se negou a dar seu lugar num ônibus para uma mulher branca e foi presa. Os líderes negros da cidade organizaram um boicote aos ônibus de Montgomery para protestar contra a segregação racial em vigor no transporte. Durante a campanha de um ano e dezesseis dias, coliderada por Martin Luther King (que organizou e liderou marchas a fim de conseguir o direito ao voto, o fim da segregação, o fim das discriminações no trabalho e outros direitos civis básicos), muitas ameaças de morte foram feitas (foi preso e viu sua casa ser atacada inclusive). O boicote foi encerrado com a decisão da Suprema Corte Americana em tornar ilegal a discriminação racial em transporte público. Mas proibir não é mudar a mentalidade de ninguém (Martin foi assassinado, em 1968, momentos antes de uma marcha!!!).
A tentativa de enforcamento do mexicano, suposto criminoso, é na verdade uma forma de mostrar como pré julgamos as situações, muitas vezes baseadas em religião, orientação sexual e etnia. Até este momento no filme, discursos de ódio tomam conta, sem nunca pensarem na possibilidade do menino ser inocente. Na verdade, o rapaz (pelo menos até 1 hora de filme) é um reles figurante das inflamadas questões que o filme propõe.
Recentemente, uma moça foi espancada e morta (tem o vídeo no You Tube) por conta de um pré julgamento que fizeram dela, mostrando que pouca coisa mudou nestes anos.Ela, inclusive, era inocente.
Fúria de Justos é um filme imperdível, não só pelo tema, mas por ser um brilhante filme de tribunal. Vale o ingresso (afinal, cinema, pipoca e refri sai mais caro que adquirir o filme).
Ahh... já ia me esquecendo (sem spoiler). O que dizer do final triunfante? Não me refiro, evidentemente, ao veredito. Quem viu o filme sabe. Foi um tremendo tapa na cara da sociedade dominante... E o veredito?? Ele é culpado ou inocente? Bom... o filme deixa claro que não tem a menor importância, porque ele claramente era inocente do crime, mas a sociedade o culpou por ser "diferente".
Informações Técnicas
Título: A Fúria dos Justos
Elenco: Arthur Kennedy, Dorothy McGuire, Elisha Cook., Glenn Ford, John Hodiak, John Hoyt, Katy Jurado, Rafael Campos Juano Hernandez, Robert Middleton
Diretor: Mark Robson
País de produção: Estados Unidos
Duração: 109 minutos
Sobre o Colunista:
Marcus Pacheco
Marcus V. Pacheco é jornalista, formado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cinéfilo, Editor de site, Colecionador e Escritor. Marcus já realizou vários curtas metragens e um longa chamado "O último homem da terra (2001)", baseado no conto de Richard Matheson. Escreveu também 30 e-books sendo 29 sobre cinema e um de ficção que está em fase inicial para publicação. Criador e editor do site "Tudo sobre seu filme (http://www.tudosobreseufilme.com.br/)" onde publica críticas, listas, aulas de cinema e curiosidades do mundo da 7ª arte há 4 anos, além de realizar entrevistas com atores, diretores, críticos e colecionadores do mundo todo.