Quando criança eu assistia a três belas detetives que usavam charme e inteligência para elucidar crimes que a polícia não conseguia solucionar. O trio, composto por Sabrina (Kate Jackson), Jill (Farrah Fawcett) e Kelly (Jaclyn Smith), era originalmente chamado de “Os Anjos de Charlie”, mas aqui no Brasil fomos mais criativos e as batizamos de “As Panteras”. O conceito que gerou essas três super heroínas volta às nossas telas repaginado para a era do “GIRL POWER”.

O roteiro e a direção dessa nova geração de super agentes ficou com Elizabeth Banks (A Escolha Perfeita 2), que o público lembrará melhor como a secretária de J.Jonah Jameson na trilogia de Homem Aranha de Sam Raimi. Coube a Banks recriar o trio que já teve uma adaptação para o cinema em 2000 com Lucy Liu, Cameron Diaz e Drew Barrymoore, esta ainda aparecendo como uma das produtoras. A nova aventura é anunciada não como um reboot ou remake, mas uma continuação tanto da série de Tv quanto dos dois filmes estrelados por Barrymoore. Assim o foco é ampliado com a agência de Charlie Townsend, que ganha âmbito internacional, pressupondo que vários times de “panteras” são enviados a missões em qualquer parte do globo, auxiliadas por vários Bosleys (Patrick Stewart, Djimoun Houson e a própria Elizabeth Banks), que passa a ser um codinome apoiando a equipe liderada por Kristen Stewart. A atriz, de 29 anos, foi escalada pela própria diretora apostando em seu apelo com o público jovem, com quem está marcada como a Bella Swam da franquia “Crepúsculo”. A responsabilidade da missão de renovar as panteras de Charlie é dividida com Naomi Scott, a Princesa Jasmine do live-action de “Aladim”, e a desconhecida Ella Balinska, primeira afro descendente a fazer parte do time de heroínas que foi criado em 1976 por Ivan Goff, Ben Roberts, Leonard Goldberg e Aaron Spelling.

O clima investigativo centrado em figuras femininas já era projeto de Spelling desde que criou a agente Honey West em 1965, mas a série teve vida curta. Foi com Kate Jackson, Farrah Fawcett e Jaclyn Smith que as mulheres foram representadas com uma atitude independente e ousada, invadindo o horário nobre da Tv americana em uma época em que séries policiais preenchiam os espaços das redes de Tv. O sucesso foi fulminante e a série chegou ao Brasil pela Rede Globo, popularizando a imagem de Farrah Fawcett com seu sorriso largo e cabelo esvoaçante, ícone sensual da década. A atriz, no entanto, rompeu seu contrato de cinco anos prematuramente ao final da primeira temporada, sendo substituída por Cheryl Ladd. Depois de três temporadas de sucesso, a série começou a cair no interesse do público. Kate Jackson deixou a série quando foi impedida de aceitar o convite para contracenar com Dustin Hoffman em “Kramer Vs Kramer” (1979), no papel que veio a ser interpretado por Meryl Streap, e pelo qual esta foi oscarizada. Shelley Hack, e depois Tanya Roberts, fizeram as temporadas seguintes mas os índices da audiência despencaram drasticamente decretando o fim da série em 1981, depois de 5 anos ouvindo a voz do misterioso Charlie Townsend, voz de John Forsythe que nunca apareceu fisicamente, nem nunca gravou nenhuma cena, sendo conhecido apenas por sua voz anunciando as missões no alto falante, no final das histórias ou na clássica abertura contando “era uma vez, três panterinhas...”. Forsythe também usou sua voz nos filmes de 2000 (As Panteras) e 2003 (As Panteras Detonando) em ritmo de videoclipe seguindo os mesmos passos de Tom Cruise na franquia “Missão : Impossível” com direito a disfarces, máscaras e sequências de luta emulando os golpes a la Matrix.

Nesse sentido, o novo “As Panteras” não é diferente, mas o novo time não dispensa o uso de armas para atacar ou se defender. O ritmo é de veloz e furiosa intensidade com explosões e tiros, com cada uma delas apresentando uma personalidade e uma especialidade em sua missão de salvar o mundo de uma perigosa tecnologia que deveria gerar uma nova fonte de energia sustentável, mas está sendo usado para criar uma arma de destruição. A ação leva o time para várias partes do globo incluindo Istambul, Alemanha e até Rio de Janeiro, onde se desenrola o movimentado prólogo. O ritmo pop está presente na trilha sonora que inclui Ariana Grande, Miley Cyrus e até mesmo uma faixa cantada pela brasileira Anitta.

Com humor mais contido que a versão de Drew Barrymoore, e um trio de protagonistas bem à vontade com seu papel de heroína, que se leva a sério e não precisa necessariamente se apoiar em suas habilidades femininas para executar sua missão. O novo time está lá por sua capacidade, seu conhecimento, e sobretudo para mostrar que o mundo precisa dessas meninas super poderosas para salvar o dia, sem compromisso; e mesmo que tenha suas falhas e previsibilidades, revitalizam uma franquia que pode render melhores frutos ainda.