EM DVD: Climax
Uma festa termina em alucinacoes e mortes quando os jovens ali presentes, sem saber, s?o drogados com LSD?
Clímax (Idem). França/Bélgica, 2018, 97 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gaspar Noé. Distribuição: Imovision
Argentino radicado na França, o diretor e roteirista Gaspar Noé chocou o mundo com “Irreversível” (2002), um filme apoteótico e extremamente violento que conta com uma cena insuportável de estupro, que dura 10 minutos. Ele nunca foi um cineasta com obras fáceis. Quatro anos antes de “Irreversível” fez seu primeiro trabalho, o agressivo “Sozinho contra todos” (1998), depois veio o desconcertante “Enter the void: Viagem alucinante” (2009), em seguida mais um drama, “Love” (2015), com cenas de sexo explícito como se fosse um filme pornô, até chegar em “Clímax” (2018), não menos complexo que os anteriores. Deixo claro que é uma fita de arte difícil, violenta, que sobe o tom com o desenrolar da trama, que se passa durante um dia numa festa eletrônica em um internato isolado na floresta. Os jovens ali presentes cantam, bebem, dançam de forma frenética, até serem dopados com LSD na bebida, sem saber. A partir daí têm comportamentos estranhos, passam mal, e alucinados, brigam, gritam e se agridem, a ponto de cometer crimes.
A estética do filme é a cara do diretor: cores fortes (como o vermelho no chão e paredes), luzes de neon (que costuma estar nos créditos), música eletrônica sem cessar, longos planos-sequência, uso de plongée e movimentos malucos de câmera que chegam a rodar 360 graus. Até na inserção dos créditos ele subverte o natural: os nomes estão espalhados ao longo do filme em dois momentos, cheio de cor neon, e não há letreiros finais.
É uma viagem alucinante como fez em “Enter the void”, com cenas brutais de violência, sem contar os diálogos sobre sexo e curtições (classificação é de 18 anos, cuidado!).
Pode ser interminável para boa parte do público, mas não podemos negar a inventividade da obra e o domínio de cena do diretor, que soube controlar bem os atores em apenas um espaço, a pista de dança. Destaque para a atriz e modelo Sophie Boutella no papel central.
PS: Na abertura há longos trechos de entrevistas dos personagens que irão para a tal festa, e ao lado da TV, reparem nas fitas de VHS, que são filmes antigos, além de livros, que inspiraram o diretor e que de certo modo dialogam com “Clímax” – alguns dos filmes são “Possessão” (1981), “Suspiria” (1977), “Um cão andaluz” (1929) e “Querelle” (1982).
Venceu prêmio especial no Festival de Cannes em 2018. Pode ser visto nas plataformas online ou em DVD, pela Imovision.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com