M3gan

Ideias originais são escassas em Hollywood, mas em uma indústria tão voraz por altas bilheterias posso pontuar que a capacidade de uma boa reciclagem de ideias vale a pena. A princípio, M3gan parece uma mistura de A.I Inteligência Artificial (2001) com o boneco Chucky, mas acredite M3gan é muito melhor que o boneco assassino criado por Don Mancini. A história de James Wan (Invocação do Mal, Annabelle), roteirizada por Akeela Cooper (Star Trek Strange New Worlds) , consegue encontrar espaço em meio aos momentos de jump scare para questionar o entrelaçamento cada vez maior de jovens com a tecnologia e o comodismo de pais que delegam à internet ou a brinquedos cada vez mais sofisticados a educação de filhos. Em vários momentos, o filme dirigido por Gerard Johnstone (em seu segundo longa) insere diálogos bem costurados que ressaltam dilemas de um mundo cada vez mais tecnológico, e menos humano. Na história, Gemma (Allison Williams) é uma robótica brilhante que dá a sua jovem sobrinha, a pequena Cady (Violet McGraw), que perdeu os pais recentemente, o protótipo de M3GAN, boneca realista equipada com inteligência artificial e programada para ser um misto de melhor amiga, mãe e babá, mas a máquina logo se torna violenta e cruel, ameaçando a vida de todos. O ponto fraco do roteiro é que a virada de M3gan de maravilha tecnológica para moderno Frankenstein ganha explicação rasa demais, e mesmo que o corporativismo sangrento da indústria de brinquedos seja um vilão visível, M3gan poderia aprofundar mais essas questões à medida que a contagem de corpos aumenta. Mas, afinal de contas, estamos falando de um filme de terror científico, aquele que o homem cria um grande mal que foge de seu controle e só percebe tarde demais, puro clichê mas bem conduzido e sem o mau gosto de outros de seu gênero. Claro que já temos garantia de sequência, e esse é o desafio, fazer um segundo filme interessante que não transforme M3gan em uma variação sem graça de Chucky, e Annabelle.