A Carioquice Singela de Macedo: Registros de Epoca

Joaquim Manoel de Macedo tem um lado de cronista de seu tempo que poderia ter encaminhado sua literatura para um lugar superior aquele que lhe damos em nossos dias

17/02/2024 02:35 Por Eron Duarte Fagundes
A Carioquice Singela de Macedo: Registros de Epoca

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Famoso por romances sentimentaloides, escritos com as pompas hoje um pouco ridículas da linguagem da época, Joaquim Manoel de Macedo tem um lado de cronista de seu tempo que poderia ter encaminhado sua literatura para um lugar superior àquele que lhe damos em nossos dias. A leitura (ou releitura) de Memórias da rua do Ouvidor (1878) entremostra, às vezes com clareza, outras sob o disfarce de expressões que envelheceram, este lado de Macedo: tem um tom oral, um senso de observação do Rio do século XIX que se choca com o verbalismo rançoso de um romântico visceral como o escritor.

Ainda que o vaivém dispersivo das anedotas contadas nestas Memórias joguem o opúsculo para baixo, o leitor interessado em arqueologia literária pode topar aqui algum prazer em revisitar os cenários cariocas de antigamente pelas palavras de uma de suas personagens-testemunha. O centro do livrinho são histórias passadas na clássica Rua do Ouvidor, no centro do Rio, desde as modistas francesas até amores enviesados como o de um inglês com uma esnobe francesa. Macedo como que toma o leitor para o pé de si, e lhe joga o texto para o pé do ouvido. “A Rua do Ouvidor, a mais passeada e concorrida e mais leviana, indiscreta, bisbilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro, fala, ocupa-se de tudo; até hoje, porém, ainda não referiu a quem quer que fosse a sua própria história.” Macedo esforça-se por dar vida à rua: animiza-a, faz dela uma personagem. Os defeitos de Memórias da Rua do Ouvidor são imensos para o leitor de hoje; é preciso passar por muitas águas verborrágicas e ingenuidades narrativas para, chegando do fundo do mar, encontrar os peixes que podem interessar.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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