45 anos (45 years)
Temo que o filme seja frio e nada sentimental, o que deve atrapalhar sua carreira
45 anos (45 years)
Inglaterra, 15. 95 min. Direção de Andrew Haigh. Roteiro de Haigh baseado em conto de David Constantine. Com Charlotte Rampling, Tom Courtenay, Dolly Wells, Geraldine James, Richard Cunningham.
Este foi o vencedor do prêmio duplo no Festival de Berlim deste ano, melhor ator e melhor atriz. Respectivamente para dois ilustres veteranos, Courtenay (nascido em 1937), foi indicado duas vezes ao Oscar por Doutor Jivago, 65 e O Fiel Camareiro, 83. Estrelou também filmes importantes como O Mundo Fabuloso de Billy Liar, 63, The loneliness of the Long Distance Runner, de Tony Richardson, 62 e Pelo Rei e Pela Praia de Losey, 64. Rampling também inglesa nasceu em 46, começou no seu país natal com Georgy, a Feiticeira com Lynn Redgrave , 66, depois fora para a Itália onde estrelou Os Deuses Malditos, de Visconti, 69, Giordano Bruno, 73, e O Porteiro da Noite,74 , o proibido aqui Addio Fratello Crudele, 71, Foi casada durante anos com o musico Frances Jean Michael Jarre e por isso fez grande de sua carreira naquele país. Mas também por Hollywood com Woody Allen (Memórias) e Paul Newman (O Veredito).
Ambos são interpretes discretos, nada melodramáticos e encontraram um diretor ainda mais austero do que eles, o irlandês Haigh (que dirigiu o inteligente romance gay Weekend, 11, o documentário também gay Greek Pete, 09 e a série de TV da HBO Looking. Curiosamente este filme é endereçado ao público de terceira idade (também deu prêmio para Charlotte em Valladolid e em Ediburgh, ganhou melhor filme britânico e melhor atriz britânica). Charlotte está sendo apontada como possível finalista do Oscar deste ano nessa categoria.
Temo porém que o filme seja frio e nada sentimental, o que deve atrapalhar sua carreira. Vejam só: Georf/Courtenay tem na festa de 45 anos de seu casamento um longo discurso em que a câmera não se move nunca, está o tempo todo parada observando ele. Logo depois é a vez de fazer a mesma coisa com Kate/Charlotte e por fim acompanha o casal que vai dançar a canção de sua juventude, de quando se conheceram Smoke Gets in Your Eyes com os The Platters. Adivinha? A câmera não se move nem quando o salão fica cheio e terminará ainda nessa mesma tomada.
Outro detalhe interessante, mas que também deixa o frio o resultado: a história é contada na passagem dos dias mas se prestarem bem atenção, a cada mudança da folhinha, a paisagem esta diferente, como se mudassem as estações ! Não há trilha musical, nada , nenhuma orquestra. Há apenas o que chamam de música Incidental, Charlotte tocando piano, ouvindo rádio, cantarolando, música numa festa, ruído de rua. Mas nada que facilite o que público em particular feminino espera, a emoção, a lágrima. As filmagens foram numas cidades do interior do país, Norwich e Norfolk Broads.
Nada a reclamar naturalmente do casal central, ambos mestres do detalhe e da discrição. Eles vivem há 45 anos juntos, se falam pouco mas tem uma vida boa no interior, num pequeno chalé, basicamente esperando a morte. Tudo corre pacatamente até o momento em que ele recebe uma carta em alemão que vem trazer inquietude para o casal, em especial para Kate, que terá dificuldade em enfrentar a situação. Não vou contar o que obviamente.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.