OSCAR 2014: 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)
Este ainda continua a ser o favorito para vencer o Oscar® de melhor filme do ano
12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)
EUA, 13. Direção de Steve McQueen. 134 min. Com Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Brad Pitt, Quzevanné Wallis, Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Sarah Paulson, Lupita Nyongo, Alfre Woodard.Roteiro de John Ridley baseado em Livro de Solomon Northop.
Este ainda continua a ser o favorito para vencer o Oscar® de melhor filme do ano (embora Gravidade deva ganhar o de melhor diretor). Ao menos tem sido assim nos últimos meses. Realmente fica difícil a Academia deixar de lado, mesmo num ano rico em bons lançamentos (vários deles com temática negra, inclusive a vida de Nelson Mandela, que já não vai passar em nossos cinemas, sai direto em Home Video - o que hoje em dia significa muito pouco!). O problema dele é algo difícil de combater: todo mundo aprecia e elogia suas boas intenções, sua sinceridade, sua discrição e notáveis interpretações. Mas quando ficam sabendo do que trata a história não demonstram a menor intenção de assistir o filme. Dizendo que não querem ver sofrimento, ou historias tristes.
Além de não divulgar o orçamento, o filme rendeu no mercado americano até agora (já saiu das salas e esta para ser lançado em Blu-Ray) apenas 46 milhões de dólares (no mercado externo está por volta de 50!). Produzido por Brad Pitt (que faz papel pequeno para ajudar na comercialização), foi indicado para 9 Oscars®: filme, ator (o britânico de origem nigeriano Chiwetel), ator coadjuvante (o alemão/irlandês Michael Fassbender), atriz coadjuvante (Lupita Nyongo, nascida no México de pais do Quênia, formada em Harvard!), figurino, diretor, montagem, desenho de produção (ex-direção de arte) e roteiro.
Como a maior parte dos concorrentes deste ano, é baseado em fato real: por volta de 1853, antes de Guerra Civil americana, Solomon é um negro livre com família constituída que reside no estado de Nova York, mas que mesmo assim é sequestrado e vendido como escravo. Tenta se defender, mas é recebido com brutalidade por vários donos, em geral fazendeiros. Durante 12 anos, luta para se manter vivo passando por muitas tragédias e finalmente ajudado por um abolicionista canadense (Brad). O que narrou depois em livro.
McQueen não abdicou do estilo seco dos filmes anteriores (o mais famoso foi Shame). Filma quase tudo à distancia, com uma única câmera, num período muito rápido de 35 dias na Louisiana, fugindo de grandes emoções , sem nunca forçar o sentimental ou o suspense, ou enfatizar demais as cenas de tortura. Por outro lado o cinema norte-americano tem uma história curta de produções sobre o tema (a mais famosa foi feita para a TV, a minissérie Raizes/Roots, 77). Nunca encararam os fatos e as vergonhas e culpas que hoje só veem à tona por causa da presidência de Obama. E dessa forma este aparece como um divisor de águas, na sua honestidade e até mesmo coragem.
A revelação do filme não é tanto Chiwetel, conhecido já de outros trabalhos, mas a bela Lupita que tem chances de levar seu Oscar® apesar de estreante (já fez outro filme com Liam Neeson, Sem Escalas). O importante, como vários críticos acentuaram, é que evitam-se as lagrimas exageradas, prefere-se a racionalização. Solomon não é apenas uma pessoa, mas um povo subjugado e vilipendiado. De toda uma instituição, que custa a desaparecer em suas diferentes formas. Ainda que disfarçadas.
Acho que o cinema tem o dever e a obrigação de produzir filmes como este e a Academia em prestigiá-los. Ainda mais quando feitos com tamanho respeito e dignidade.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.
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