RESENHA CRTICA: Victor Frankenstein (Idem)
Ser que algum ainda est disposto a ver mais um filme de Frankenstein? Eu confesso que no
Victor Frankenstein (Idem)
Inglaterra, 15. 109 min. Direção de Paul McGuigan. Roteiro de Max Landis. Com Daniel Radcliffe, James McAvoy, Jessica Brown Findlay, Andrew Scott, Callum Turner, Bronson Webb, Charles Dance.
Será que alguém ainda está disposto a ver mais um filme de Frankenstein? Eu confesso que não e os primeiros indícios da bilheteria americana também parecem indicar que o filme, que estreia simultaneamente, não vai bem de bilheteria por lá. Mas Landis (que escreveu Poder sem Limites e American Ultra, que estreou aqui também esta semana), o roteirista chega a creditar a autora original Mary Shelley mas a toma muitas liberdades . O diretor McGuigan ficou conhecido com um Cult de festivais, inclusive aqui chamado Acid House e depois insistiu em policiais como Os Gângsteres (2000, Gangster Number One, com Malcolm McDowell), Um crime de Paixão (Reckoning, 02 com Dafoe e Bettany), o fraco Paixão a Flor da Pele (Wicker Park, 04, com Josh Hartnett, Dianne Kruger), Xeque Mate (Lucky Number Slevin, 06, com a mesma dupla acima), Heróis (Push, 09, com Camilla Belle). E muitos episódios de séries de TV. Ou seja, nada memorável. Mas o filme tem uma excelente direção de arte, muito feliz construindo em detalhes a casa do Victor e depois um castelo medieval onde acontece o clímax. E continuo admirador do ator escocês James MacAvoy (o jovem Xavier em X Men, dá um show no inédito Filth, revelou-se em O Procurado e como Mr. Turmnus em Nárnia). Ele faz o cientista/médico desequilibrado de maneira muito mais vibrante e convincente de que os anteriores (seja como o barão Frankenstein, ou variações disso, já foi vivido no cinema e TV ao menos 110 vezes! Entre outros por Peter Cushing, John Carradine, Joseph Cotten, Sting , Rossano Brazzi, Raul Julia, Benedict Cumberbatch e o único melhor que ele foi Gene Wilder em O Jovem Frankenstein de Mel Brooks).
Outra figura marcante é o Harry Potter, digo Radcliffe, que faz o corcunda Igor (que afinal de contas não é um corcunda o filme mostra), com seus profundos olhos azuis e a pequena estatura parecendo confuso em assumir logo que é um gênio ou deficiente, mas nunca conseguindo convencer como galã que conquista a mocinha que caiu do trapézio (ou coisa que o valha). Na verdade, o roteiro do filme tem um numero incrível de furos e besteiras sem explicação. Eis algumas: a heroína Jessica Brown - que fez antes Lady Sybill em Dowtown Abbey e Um Conto do Destino - faz Lorelei, que cai no circo e quase morre sendo salva por Igor, que mais tarde irá ajudá-la num hospital. De repente, a moça já esta na alta sociedade aparentemente caso de um gay rico que some e Lorelei sabe-se lá que é na vida, talvez prostituta, mas dali em diante o romance será aberto e sem problemas, além dela aparecer sempre o ajudando (a ceninha final dela? Como foi parar no alto do castelo??).
Temos mais: Igor é gênio mesmo e deve ter aprendido a escalar montanhas já que chega ao castelo ascendo rapidamente pelo terror íngreme e tempo inclemente.
Mais, não demora muito para Victor se revelar um psicopata tresloucado mas não fica muito claro também quem diabos era o irmão dele, revelado pelo relógio e de repente virando monstro. Melhor fazer de conta que entendeu. Para não falar de dois outros vilões, o Inspector Turbin é outro demente que invade a casa do Victor e depois é castigo porque não tinha mandado de busca (será que isso já existia na Inglaterra vitoriano, duvido muito! Enfim, o personagem é outro destrambelhado feito pelo hoje famoso Andrew Scott famoso pelo C do atual Spectre e o Moriarty do atual Sherlock Holmes (que por sinal não me convence).
Outro problema foi que assisti o filme no Cinemark em versão dublada. O som estava baixo e a voz de Igor tinha um irritante sotaque carioca cheio de chiados. Não era mal dublado, simplesmente é tudo meio tom, completamente inferior as interpretações originais. Imagino como deve ficar quando eles censuram os palavrões. Enfim, já vi piores Frankenstein e ninguém tirou ainda o lugar do lendário (Boris) Karlff como o monstro original (que aqui não tem identidade clara).
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.