RESENHA CRTICA: O Cl (El Clan)
Um filme slido, bem dirigido e interpretado, contando uma daquelas histrias que s mesmo vendo para crer que elas existiram de verdade
O Clã (El Clan)
Argentina, 15. 110 min. Direção de Pablo Trapero. Com Guillermo Francella, Peter Lanzani, Antonia Bengoechea, Gaston Cocchiarale, Stefania Koessi, Franco Masini, Fernando Miró, Giselle Motta, Lili Popovich.
Almodóvar é um dos produtores deste filme argentino que ganhou no Festival de Veneza, o prêmio de melhor diretor e menção honrosa em Toronto, além de ser indicado ao Oscar de filme estrangeiro pela Argentina. O diretor Trapero é velho conhecido do público brasileiro por bons filmes como Abutres, Elefante Branco, Família Rodante. E mais uma vez eles dão uma lição de como contar histórias reais do seu passado, da não tão distante época da ditadura, denunciando corrupção no mais alto grau (e nós só temos Tropa de Elite que até hoje fez isso). Num filme sólido, bem dirigido e interpretado, contando uma daquelas histórias que só mesmo vendo para crer que algo assim tenha realmente existido. Bom mas não excepcional.
Faço restrições ao protagonista que tem grandes olhos azuis mas não muda muito de expressão (Guillermo esteve bem O Segredo dos Seus olhos, estrelou aquela comédia ótima Coração de Leão e Um Namorado para Minha Esposa). Quando exagera fica esquisito , talvez porque esteja mais ligado a comédia do que o drama. E olha que não usa o bigode, sua marca registrada. Enfim, não chega a ser grave. A ação se passa nos anos 1980 durante o auge da Ditadura. Ele faz um homem comum, que controla sua família com a mão de ferro, tem o filho mais velho que é um campeão de Rubgy, outro que emigrou para a Austrália, um mais novo que foge de casa e duas filhas mulheres e uma esposa fiel, que controla com mão de ferro. Seu truque é que ele comanda uma quadrilha mancomunada com os policiais e gente do governo, que sequestra pessoas ricas em troca de um rico resgate (que depois é dividido). Em geral, liquida as vítimas para não ter dúvida e o mais estranho é que as esconde no porão de sua própria casa (ou seja, é impossível as pessoas não ouvirem tudo!). Só que a ditadura está acabando (começa com o discurso do novo presidente) e tudo muda de figura, já não se pode matar e roubar de forma tão evidente.
O filme basicamente é a trajetória desse clã (espere os letreiros finais que revelarão o destino de todos) com certo humor e não muita tensão. Ainda assim a pré estréia estava lotada, prova do prestigio dos argentinos ao menos em cinema.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.