Um Close em Garbo

É de se pensar se a maior diva das telas de todos os tempos se daria bem nestes nossos tempos

12/09/2017 08:43 Por Bianca Zasso
Um Close em Garbo

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Uma mulher à frente do seu tempo. Quantas atrizes, em Hollywood especialmente, carregaram este título ao longo de suas carreiras. Pioneiras em usarem a própria imagem para chamarem a atenção para problemas sociais ou mesmo enfrentando de frente os chefões dos estúdios dos quais eram contratadas, as divas foram extintas junto com o star system. Os defensores de Meryl Streep e até de nomes ainda em início de carreira que me perdoem. Temos boas atrizes em atividades, divas não mais. Assessores e paparazzi não permitem que a aura de estrela seja mantida a todo custo. A ideia de aparecer sem maquiagem e realizando coisas banais, como ir ao supermercado, tornou-se uma forma de aproximar estas mulheres do seu público.

É de se pensar se a maior diva das telas de todos os tempos, com sua personalidade ímpar e sem tempo para sorrisos falsos se daria bem nestes nossos tempos. Greta Garbo, que se retirou muito cedo das telas e teve uma vida cercada de mistério, é um dos elementos que tornam Rainha Christina um filme ainda impressionante, mesmo tendo sido realizado em 1933. Dirigido por Rouben Mamoulian, que mesmo sendo um diretor contratado sempre imprimiu estilo próprio aos seus filmes, a história trágica de Christina, que ainda criança assumiu o trono deixado por seu pai. Ela mal tinha sido alfabetizada, mas já tinha reuniões de gente grande e o título de rainha da Suécia.

O filme, que não tem tanta preocupação com a veracidade dos fatos, mas sim em utilizar o olhar expressivo de Garbo para hipnotizar o público, apresenta uma mulher que sabe a importância de seu cargo e da responsabilidade que tem com seus súditos. O diferencial fica por conta do estereótipo da “menina criada pelo pai”. A falta da figura materna é a desculpa para justificar as calças e botas do figurino da rainha e também sua paixão por literatura. Seria esperança demais crer que a busca por roupas mais confortáveis e práticas e interesse por arte fosse algo natural da detentora da coroa em plena década de 30.

Preconceitos à parte, Rainha Christina tem humor e muito duplo sentido nos diálogos, uma das marcas mais lembradas da direção de Mamoulian. O encontro de Christina com seu futuro grande amor, Antonio, um emissário espanhol interpretado por John Gilbert, se dá em uma taberna durante uma nevasca. Confundida com um rapaz devido ao seu jeito de vestir, Christina assume a mentira e acaba dividindo o quarto com Antonio. É o início de um romance que a rainha quer transformar em coisa séria, mesmo que para isso precise abrir mão de seu reino, de seu país e de sua religião.

Amores proibidos, boas sequências onde Garbo galopa sem medo pelos bosques que circundam seu castelo e piadas na medida fazem de Rainha Christina uma diversão saudável e com ares saudosistas. Num mundo de blockbuster onde reis, rainhas e afins precisam de grandes cenários e muitos efeitos especiais para serem dignos de serem chamados de grandes filmes, temos uma produção que se vira com o que tem e não se importa de trocar qualquer duelo por um close em Garbo, sempre iluminada de modo que sua beleza fosse realçada. Há quem chame isso de excesso de vaidade, mas Garbo podia. Era boa atriz e o timbre de sua voz era perfeito para personagens imponentes. Mocinhas bobas não entravam em seu currículo. Que mal há em querer o seu melhor ângulo, custe o que custar? 

Quem ainda tiver dúvidas sobre o poder de Garbo, deve aguardar com paciência a cena final de Rainha Christina, onde a protagonista vê uma nova vida nada fácil surgir diante de seus olhos intensos, com os quais ela observa o mar escorada na proa do barco que vai leva-la para longe de sua terra natal. Essa descrição não é um spoiler. Só assistindo para captar a força da interpretação de Garbo, linda, sensual e triste, como só ela sabia ser.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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