Amor Fora do Mundo

Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo, da diretora italiana Francesca Comencini: polêmicas e desafetos

22/08/2018 16:08 Por Bianca Zasso
Amor Fora do Mundo

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Esta que vos escreve está ciente de que o conteúdo das próximas linhas pode render polêmicas e desafetos. Mas pior do que encarar uma discussão é fingir que tudo está bem e forçar um sorriso para evitar incômodos. E é com base em um fingimento que já dura séculos que se constrói o longa Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo, da diretora italiana Francesca Comencini. A trama gira em torno de Claudia, personagem de Lucia Mascino, uma professora de literatura de 50 anos que está lidando com a separação. Se a premissa não é nenhuma novidade, talvez o diferencial esteja na apresentação da personagem.

Desde sua primeira aparição em cena, deitada na cama, olhar cansado e cercada por uma bagunça que denuncia que a vida não está lá muito nos eixos, Claudia se mostra uma obsessiva. A palavra parece forte, mas não há como classificá-la como apenas triste ou machucada. Óbvio que até a mais sensata das mulheres já mandou uma mensagem desesperada após um fora. Mas bastam algumas caixas de lenço para a coisa acalmar e a pessoa seguir em frente. Só que Claudia é um caso à parte. Uma adulta que se comporta como uma adolescente insegura vivendo as dores do primeiro fora. Há quem a defenda, afirmando que não existe idade para sofrer por amor. Ok, cada pessoa tem o seu tempo. Mas Claudia na parece ter nascido ontem ou ter tido poucos relacionamentos. Logo, alguma parte de uma fase chamada amadurecimento não deu certo para a moça. Ela insista na ideia que paira no mundo desde o tempo das nossas avós: a importância do casamento e o medo da solidão. Isso não é dito com todas as letras no filme, mas fica claro que Claudia une-se a Flavio mais pela imposição social de ser uma mulher comprometida do que pelo interesse em dividir a vida com ele.

Sua paixão por Flavio acontece durante um almoço, logo depois dos dois terem trocado farpas de maneira gratuita em um debate literário. Uma garfada no macarrão e em seguida ela sente que o ama. Difícil acreditar. E a antipatia pela protagonista só cresce ao longo da primeira parte do filme. É um ataque, de insegurança atrás do outro, crises que surgem de uma simples resposta negativa de Flavio. O auge, e talvez a cena mais estranha de História de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo, é o escândalo que Claudia arma ao descobrir que Flavio não quer ter filhos. Vê-la sair em disparada no meio da madrugada, aos prantos, faz pensar se devemos rir ou chorar pela situação.

Observamos o universo da produção sempre pelo olhar de Claudia e os coadjuvantes ficam renegados a meros ouvintes de suas lamentações, o que soa como se ela fosse o centro do universo e a perda de seu amor fosse o assunto que deve estar na mente de todos. Como assim não é importante enviar quase trinta mensagens para o celular de Flavio dizendo que o ama, mesmo que todas as respostas sejam, quase sempre, o completo silêncio? Da metade para o fim, o filme tira um pouco seu foco da protagonista e tenta nos apresentar Flavio como alguém ainda apaixonado por Claudia, mas que não pode mais suportar seus arroubos românticos. Mas já é tarde demais para o espectador, caso ele concorde com esta colunista e não veja motivos para defender a dita mocinha de Histórias de Amor Que Não Pertencem a Este Mundo que passa o filme todo defendendo que precisa de amor quando, na verdade, só vai conseguir amar em paz se admitir que precisa de um terapeuta. Claudia não pertence a este mundo. Ao menos não ao mundo dos adultos.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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