RESENHA CRTICA: Cafarnaum
Nem preciso dizer que o filme muito humano e sensvel e que naturalmente preferia dar um Oscar para ele do que do mexicano Roma, que tem sido exageradamente consagrado
Cafarnaum
Líbano, EUA, 2018. 121min. Dureção: Nadine Labaik. Com Zain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole, Kawsar Al Haddad, Fadi Yousef, Nadine Labaki.
Simultaneamente com a Europa, está sendo apresentado este impressionante novo trabalho da diretora de origem árabe mais importante da década, Nadine Labaik (que já veio ao Brasil, aliás, uma bela mulher, boa atriz e que cada vez mais vem se dedicando a filmes mais dramáticos e sérios). Ao lado de Zaina Arra, Fela Green, Yordenos Smifera.
Indicado ao Oscar de filme estrangeiro, me deixou extremamente abalado e sensibilizado. Não há dúvida de principalmente no final há uma certa delicadeza, concessão a atos de juízes e governos e principalmente vida familiar. Fica evidente que tudo é muito mais grave, pior, mais triste na vida cotidiana do povo, mas foi o máximo que a diretora conseguiu denunciar com a ajuda de um grupo de atores que parecem amadores (ela presente) e com a presença de um garoto que é um notável e inesperado ator amador, muito bonito, com olhos claros, não faz trejeitos ou truques. Começa tudo num tribunal onde o menino tenta negociar toda sua absurda e irresponsável família (não sei se tal fato seria viável no mundo árabe!). Basicamente ele não sabe quantos anos sequer tem porque a família nunca registrou nada, e sua querida irmã um pouco mais velha é vendida para desconhecidos no que eventualmente será sua morte! Revoltado ele faz tudo para fugir, para denunciar os abusos (e os parentes são cada vez mais abusados) e quando consegue fugir passa a proteger uma criança pequena negra, cuja mãe também está no país sem licença (a criança novinha é igualmente encantadora!). A viagem pela pobreza, pelos vagamente conhecidos, pela prisão onde irá prosseguir sua luta, tudo isso torna o filme extremamente tocante e digno de choro (a diretora para deixar tudo menos pesado ou mais ainda triste obriga o garoto a evitar o choro e ser forçado num amplo sorriso... acha coração para segurar tal instante!!!).
Nem é preciso dizer que o filme é muito humano e sensível e que naturalmente preferia dar um Oscar para ele do que do mexicano Roma, que tem sido exageradamente consagrado.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.