Divaldo - O Mensageiro da Paz
O filme consegue fugir de uma aura de prega?ao como normalmente associado a filmes de tematica religiosa
Figuras proeminentes do espiritismo ganharam recentemente ótimas adaptações para o cinema como “Kardec” (2019) e “Chico Xavier” (2010), além do excelente “Nosso Lar” (2010) de Wagner de Assis, então porque não uma cinebiografia de um dos maiores médiuns ainda vivos, o baiano Divaldo Pereira Franco de 92 anos. Definido pelo seu diretor Clovis Mello não como uma mera cinebiografia, mas como uma mensagem de fé, caridade e sobretudo amor ao próximo; “Divaldo – O Mensageiro da Paz” chega às telas em um hiato entre sucessivos blockbusters lançados nas telas. Uma boa opção para o público que busca não só entretenimento, mas um conteúdo reflexivo, e isso que o filme entrega.
Longe de canonizar o biografado, o diretor e roteirista mostra um processo de transformação na vida de um homem que nasce com um dom, o de ver espíritos, o de se conectar com o outro lado da existência, mas que passa por provações e negações de seu destino. Para isso, algumas passagens são criadas como efeito de dramatização, mas o essencial e factual na história de vida de Divaldo está lá: Sua infância em Feira de Santana, segunda cidade mais populosa do estado da Bahia, a rejeição sofrida pelos colegas e pelo próprio pai (Caco Monteiro), a juventude em Salvador, a ligação com o espírito de Joanna de Ângelis (Regiane Alves) e a criação da Casa do Caminho, uma mansão que abriga e auxilia milhares de pessoas.
O filme consegue fugir de uma aura de pregação como normalmente associado a filmes de temática religiosa. Clovis esmerou-se em recriar nas telas o caminho de humanização e iluminação percorrido por Divaldo, chegando a viajar para a Itália para visitar o túmulo de Santa Clara, última encarnação de Joanna. Esta é onipresente no filme, uma força serena nas feições mas de palavras moralizantes, interpretada por Regiane Alves, de 41 anos. Da mesma forma como ela encarna a serenidade e a tolerância, o filme traz Marcos Veras como um espírito obsessor que atormenta Divaldo em suas visões. Dicotomia entre a luz e a escuridão que ilustra a narrativa , não como provocação gratuita mas de forma a ressaltar o caminho da caridade como uma opção, uma escolha entre as imperfeições humanas que nos definem.
O protagonista surge em cena em três momentos de sua vida, vivido por João Bravo (infância), Guilherme Lobo (jovem) e Bruno Garcia (adulto), em uma transição de tempo e espaço bem desenvolvida para conduzir o espectador. O grande triunfo do filme é conseguir ser didático sem soar forçado, ser reflexivo sem se preocupar em ser dono da verdade.
Co-produção da Fox, CINE e Estação Luz Filmes, o filme ganha uma forte aura de autenticidade não só pelas orientações que o biografado deu para o diretor como pelas passagens extraídas do livro de Ana Landi “Trajetória de um dos Maiores Mediuns de Todos os Tempos”. O que se sobressai no filme não são os clichês habituais do gênero, embora estes sejam percebidos, mas o trabalho de um humanista que alcançou projeção internacional como palestrante de conferências, autor de diversos livros, uma figura capaz de nos oferecer uma percepção diferente do ser humano, sem negar suas idiossincrasias, suas contradições, mas sobretudo vivendo com elas e apesar delas.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com