O Cinema do Coletivo
A narrativa de Vermelhos e brancos esta ambientada na Hungria nos momentos que se seguiram a Revolucao Russa de 1917
Miklos Jancso foi o primeiro cineasta a dar visibilidade internacional ao cinema húngaro, embora hoje passe quase despercebido pela informação do público. A recuperação da visibilidade de seu cinema deu-se com o lançamento em dvd de Vermelhos e brancos (Csillagosok Katonák; 1967), um dos filmes responsáveis por sua fama de diretor rigoroso e distanciado.
A narrativa de Vermelhos e brancos está ambientada na Hungria nos momentos que se seguiram à Revolução Russa de 1917 e assim vai tergiversando, cinematograficamente, sobre os conflitos ideológicos da época, nunca usando a figura individual da personagem senão como arquétipo histórico ou político. A crueza das ações humanas (um lado e outro não se pejando de justiçar friamente os adversários em desolados campos húngaros) é seguida implacavelmente pela câmara de Jancso; Jancso cria uma estranheza do plano cinematográfico, alternando um enquadramento rígido, longo e hierático com alguns planos-sequência que se valem de movimentos de câmara quase irreais em suas alternativas: uma orquestra aparece no bosque, a câmara se mexe para a direita, depois torna para a esquerda, a orquestra penetra entre as árvores, o movimento da câmara com ser lateral parece estar incrustando-se hieraticamente na vegetação que é um pouco devoradora do plano-sequência utilizado.
Execuções despidas de senso trágico e algumas camponesas nuas são imagens célebres de Vermelhos e brancos. Considerando-se somente este filme, à falta de outros para a constatação, pode-se dizer que Jancso vai cinematograficamente mais longe que Istavn Szabo ou Pal Gabor, dois outros realizadores húngaros conhecidos por aqui. Em seus noventa minutos de duração, Vermelhos e brancos dá uma aula de cinema que pensa uma narrativa do coletivo e revela-se imune à passagem dos anos.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br