A Italiana Revoltada
Com sede no Armazém da Utopia, o Armazém 6, no Cais do Porto, o Festival de Cinema do Rio 2014 trouxe mais de trezentos filmes para a disposição dos cinemaníacos cariocas e de outras plagas que aportassem ali
Rio, 04.10.14, Sábado
Chiara Cavalazzi, realizadora que esteve presente diante dum interessado público no pequeno e desglamurizado Cine Joia, em Copacabana, para apresentar seu documentário Revolução ao contrário (Revolution in reverse; 2014). Seu objetivo: mostrar mundo afora os protestos de indivíduos insatisfeitos com o que são as sociedades de hoje no planeta. Cavalazzi revelou que, como a abrangência do tema naturalmente se alastra, foi necessário transformar o projeto numa trilogia. Revolution in reverse – debito e lavoro: il nuovo colonialismo é uma espécie de primeiro episódio desta trilogia, uma visão aguda e inconformismo das possibilidades de transformar o mundo cantando com os indivíduos e desprezando as corporações. A cineasta revelou que uma de suas grandes revoltas foi observar a situação da Guiné, um país africano de formação francesa, e o conformismo da opinião internacional sobre a pobreza e a fome neste país. Um dos pontos altos de seu filme se dá justamente quando um analista se pergunta por que um país pequeno e infrutífero e populoso como a Bélgica tem uma população satisfeita e a Guiné, com mais possibilidades de crescimento econômico, é miserável? Voltamos, então, à questão do racismo internacional, desde os mecanismos das grandes instituições financeiras combatidas com extrema violência verbal pelos manifestantes de Occupy Wall Street, em Nova Iorque. A imoralidade da dívida e o recurso pacífico à desobediência civil perpassam certamente o documentário. O inglês não deixa de ser ainda o idioma majoritário, mas o francês da Guiné e o italiano em Milão não deixam a língua de Shakespeare cantar sozinha. Uma devassa internacional como somente uma italiana, baixinha e atrevida, saberia fazê-lo.
A tela branca como equivalente da página branca de Mallarmé:
deve ser preenchida por filmes num Festival de Cinema,
como este do Rio, em 2014. Foto: de Marilene Fagundes da Silva.
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br