A Espionagem na Literatura e no Cinema

Conheça a história dos filmes de espionagem

04/03/2015 14:27 Por Adilson de Carvalho Santos
A Espionagem na Literatura e no Cinema

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Que ninguém duvide que a figura de um espião ainda é extremamente atraente ao imaginário popular. Além da estreia de “Kingsman – O Serviço Secreto”, em breve chegará às telas “Hitman – Agente 47”, a adaptação do antigo seriado “O Agente da Uncle” e para fechar com chave de ouro a nova aventura de Bond “007 Contra Spectre”. Mas há uma grande diferença retratada nessas produções e seus similares literários.

O escritor norte americano James Finemore Cooper (1789-1851) – autor do clássico “O Último dos Moicanos – foi um dos primeiros a criar uma história de intriga política nos romances “O Espião” (1821) e “O Bravo” (1831), precursores de um gênero que só seria reconhecido no século XX. A lendária agência de detetives Pinkerton, além de ter tido participação na captura de notórios fora-da-lei, conseguiu evitar um atentado ao Presidente Abraham Linconl através de ações de vigilância que comprovam a máxima de Sun Tzu, autor de “A Arte da Guerra”, que fala sobre “ser extremamente sutil, tão sutil que ninguém possa achar qualquer rastro”. Se sutileza e mistério são essência da espionagem, a elas se juntou uma arma ainda mais eficaz: a sedução. Com ela a exótica Margaretha Gestruida Zelle (1876-1917) ganhou a eternidade como Mata Hari, que durante a Primeira Guerra (1914-1918) trabalhou para alemães e franceses, sendo por isso executada. Dançarina e cortesã, Mata Hari foi como Milady de Winter na trama dos “Três Mosqueteiros”, tendo sido vivida no cinema por Greta Garbo em 1931, Jeanne Moreau em 1964 e Sylvia Kristel em 1985.

O estouro de duas Guerras Mundiais e as intrigas advindas dos interesses políticos instigaram a necessidade de agir de forma vigilante e preventiva contra inimigos em potencial, comprovando que “a supremacia da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”, como no tratado de Sun Tzu. O cinema mostrou isso em filmes como “Agente Secreto” (1936), “O Homem que Sabia Demais” (1934 e refilmado depois em 1954) , “O Sabotador” (1940) e “Intriga Internacional” (1959), todos do mestre Alfred Hitchcock e que deixaram bem claro a importância no mercado negro das informações confidenciais para atentados, insurreições e conspirações que podem abalar o equilíbrio de forças no mundo. O mundo bipolarizado do pós-guerra fez nascer a guerra fria. Mais do que nunca se via a importância de se controlar o fluxo de informações e evitar que o lado inimigo ganhasse qualquer vantagem. Manter vigilância constante significava se proteger. Nas palavras de Sun Tzu o lado vencedor de um conflito precisava de vidência, não de espíritos ou deuses, mas de homens que conheçam o inimigo. Assim as atividades de contra-espionagem ganharam importância absoluta.

O gênero, contudo, ganhou a cultura pop com a chegada de Bond, James Bond, publicado pela primeira vez no romance “Cassino Royale”, de Ian Fleming, em 1953, e transposto para as telas nove anos depois em “007 Contra o Satânico Dr.No” com Sean Connery, o primeiro de seis atores que, desde então, viveram o agente favorito de sua majestade, e do público. Bond nunca teve um rival a altura, em termos de popularidade e longevidade nas telas, mas teve vários imitadores. Em 1966, James Coburn viveu o agente Derek Flint em “Flint Contra o Gênio do Mal” e , no ano seguinte, em “Flint : Perigo Supremo”.  Na mesma ocasião Matt Helm, o espião criado nos livros de Donald Hamilton, ganhou o ar cool de Dean Martin em 4 filmes: “O Agente Secreto Matt Helm”, “Matt Helm Contra o Mundo do Crime”, “Emboscada para Matt Helm” e “Arma Secreta Para Matt Helm”. Diferente dos livros, o tom dos filmes é de paródia com Dean Martin explorando sua própria persona: um bon-vivant, cercado de belíssimas mulheres e que, por acaso salvava o mundo. Os anos 60 fizeram da figura do agente secreto parte da cultura pop, tornando-o quase um super-herói, mas se distanciaram dos elementos literários onde o trabalho de inteligência é descrito de forma mais fria, destituído de qualquer glamour. Mais próxima dessa abordagem são os filmes em que Michael Caine interpretou o agente Harry Palmer, criado pelo autor britânico Len Deighton. Enquanto que nos livros, o agente de Deighton é um narrador anônimo que apenas tem o primeiro nome mencionado uma vez, nos filmes produzidos por Harry Saltzman o personagem ganha uma identidade com a qual o público possa se relacionar, mas mantém o ar desglamourizado de um mero operário do governo. Os filmes “Ipcress: Arquivo Confidencial” (1965), “Funeral em Berlin” (1966) e “O Cérebro de Um Bilhão de Dolares” (1967) ajudaram a reforçar no imaginário popular a figura do espião como o salvador da democracia e da liberdade contra as forças do mal. O escritor britânico John Le Carré se concentrou em aprofundar nesse lado frio e sem encantos da espionagem, não uma brincadeira, mas um braço forte do jogo de poder das nações. Entre seus livros estão “O Espião que Saiu do frio” (1963), “A Garota do Tambor” (1983), “A Casa da Rússia” (1989), “O Espião que Sabia Demais” (1974) e “O Homem Mais Procurado” (2008) são best sellers frequentemente adaptados para o cinema, sendo esses dois últimos as mais recentes visitações de Hollywood com excelentes atuações, respectivamente, de Gary Oldman e Philip Seymour Hoffman.

Igualmente importantes no gênero são os autores Robert Ludlum e Tom Clancy. O primeiro é o pai do espião Jason Bourne. Uma arma humana treinada pelo governo para matar e que acaba por se tornar um embaraço e uma ameaça para o sistema quando perde sua memória. Sua história foi mostrada em “A Identidade Bourne” (1980), “A Supremacia Bourne” (1986) e “O Ultimato Bourne” (1990), adaptados para o cinema a partir de 2002 com Matt Damon no papel de Bourne. Já Clancy mostrou-se hábil em retratar os bastidores do Serviço de Inteligência Americano, e o uso de novas tecnologias com seu agente Jack Ryan. O autor foi elogiado pelo então presidente norte-americano Ronald Reagan na ocasião da publicação de “A Caçada ao Outubro Vermelho”. A ele se seguiram outros livros, todos adaptados para o cinema e vivido por 4 atores diferentes: Alec Baldwin, Harrison Ford (Jogos Patrióticos & Perigo Real e Imediato), Ben Affleck (A Soma de Todos os Medos) e, mais recentemente, Chris Pine no reboot “Operação Sombra:Jack Ryan”.

Casos como o do analista de sistemas Edward Snowden (retratado no oscarizado documentário “Citizenfour”) que denunciou a máquina de espionagem e invasão de privacidade mostra que a vida real imita a arte, sem os requintes e o lado fantasioso de Hollywood, mas com o rigor de saber que há séculos vigilância e dissimulação fazem parte dos jogos de poder, e que muitas guerras são travadas em meio às sombras que se estendem muito além do alcance dos olhos, pois na prática só se vive uma vez. (por Adilson de Carvalho Santos)

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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