Dheepan - O Refugio (Dheepan)
Embora interessante e bem dirigido, não há muita justificativa para este filme Francês ganhar a Palma de Ouro
Dheepan - O Refugio (Dheepan)
França, 15. 119 min. Direção de Jacques Audiard. Com Jesuthasan Anthonytasan, Kaliesawan Srinivasan, Vincent Rothiers, Claudine Vinasithabin.
Embora interessante e bem dirigido, não há muita justificativa para este filme Francês ganhar a Palma de Ouro - o prêmio maior - no último e ainda recente Festival de Cannes. Foi parcialmente rodado no que seria o Siri Lanka (na verdade foi gravado na Índia, e depois França) e é falado em sua maior parte no idioma Tamil (o primeiro a ser feito nessa língua). O ator que faz o papel principal Jesuthasan já havia feito um pequeno papel num filme indiano Sengadal (11).Também escritor e engajado politicamente. E quando mais jovem realmente lutou no grupo rebelde chamado de Tamil Tigers! Também dizem ser estreante a jovem fotografo Éponine Momenceau e o músico chileno famoso por seus EP´s de dança Nicolas Jaar são estreantes em longa.
No fundo, porém Cannes achou que esse era o momento de premiar o diretor Jacques Audiard, que é filho do grande dialoguista e diretor Michel Audiard (1920-85) e que tem tido até agora uma carreira brilhante como diretor, começando com Um Herói Muito Discreto, 96, seguido pelos famosos De Tanto Bater meu coração parou, 05 e o consagrado O Profeta ,09 (grande premio do Júri em Cannes, Bafta, indicado para filme estrangeiro) e ainda o forte Ferrugem e Osso com Marion Cottilad. E de fato ele se confirma como um grande diretor, sempre mantendo o interesse numa narrativa que neste mundo com falta de memória, não é difícil descobrir que se trata de um filme inspirado em Grand Torino, 08. Afinal tem uma trama semelhante (no caso do filme de Clint Eastwood ele é um veterano que cansado de aceitar a tirania de uma gang de jovens em seu bairro no final da história sai atrás deles derrotando-os).
Aqui é quase a mesma coisa. O herói chamado com o titulo do filme, é um guerrilheiro do Siri Lanka que cansado de lutar e constatando que a maior parte dos colegas foi morta , procura fugir dali e como quando se trata de uma família é mais fácil encontrar asilo político inclusive, uma jovem improvisa essa família e a miséria é tanto que ela agarra uma menina e juntos, mal se conhecem , conseguem emigrar para a França. E Dheepan vai morar num bairro distante, de apartamentos populares na periferia (a famosa Banlieu) onde passa a trabalhar como zelador. A vida caminha mas o grande problema é justamente o fato de que uma grande gang de traficantes de drogas muito jovens controla o espaço e a vida deles, completamente acima da lei. Até quando o herói acaba a dando uma de Clint Eastwood levando para um final que me pareceu feliz demais.
Apesar de Audiard dirigir bem seus atores inexperientes, de saber criar clima e segurança narrativa, não é um filme excepcional, ou nem mesmo tão importante. O que acho mais importante é que o cinema Francês de 30,40 anos atrás era fixado em seu próprio umbigo gostando apenas dos movimentos libertários em outros países sem coragem de criticar sua própria sociedade. Isso felizmente mudou e voltam a fazer filmes políticos que sempre deveria ser sua vocação.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.