Pesadelo Divertido

Se dê o prazer de assistir em alto e bom som The Rocky Horror Picture Show

16/11/2016 13:59 Por Bianca Zasso
Pesadelo Divertido

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Dos palcos da Broadway para os sets de Hollywood. Muitas foram as histórias que percorreram este caminho. Hair, My fair lady, A noviça rebelde, West side story, isso só para citar os mais celebrados. E quando se fala em celebração, não podemos esquecer um dos objetos de culto mais imitados do cinema setentista. Se o prezado leitor nunca se deu ao prazer de assistir em alto e bom som The Rocky Horror Picture Show, prepare o batom vermelho e permita-se adentrar num universo de sangue, monstros, alienígenas, música de primeira e, é claro, sexo. Mas não espere o erotismo bobo de romances em tons de cinza nada excitantes ou sacanagem sem conteúdo. O desejo, contido ou assumido, quer garantir diversão acima de qualquer outra coisa no filme dirigido por Jim Sharman.

Lançado em 1975 e inspirado na peça de Richard O’Brien, que assina o roteiro e ainda está no elenco dando vida ao misterioso e perverso Riff Raff, The Rocky Horror Picture Show sofre de personalidade múltipla. Não é o primeiro nem será o último filme a ter esse sintoma, mas o que em algumas produções confunde o espectador, na obra de Sharman é puro charme. A história do casal adolescente, interpretados por Susan Sarandon (em seu primeiro sucesso na telona) e Barry Bostwick, que busca abrigo num castelo após furar o pneu do carro não é nem um pouco original. É a base da maioria dos roteiros slasher (aqueles filmes com jovens, assassinos em série e mocinhas indefesas e heroicas) e a saída de muitos produtores atuais quando a maré baixa nas bilheterias. No entanto, a atmosfera de The Rocky Horror Picture Show é única. Paralelo às homenagens aos monstros clássicos da Universal, como Drácula e Frankestein, o filme ainda faz uma ode à liberdade ao apresentar o vilão/protagonista Dr. Frank-N-Furter (numa interpretação magistral do inglês Tim Curry) como alguém sem amarras de gênero e muito seguro (e livre!) com sua sexualidade. É ela, aliás, quem guia suas criações, como Rocky que dá título ao filme e tem mais músculos que neurônios.

Sem julgamentos ou mesmo um personagem para servir de contraponto e trazer a “moral e os bons costumes” para dentro da trama, The Rocky Horror Picture Show foi feito para deixar o público feliz e plantar em suas memórias canções que ficam impossíveis de não serem cantaroladas logo no primeiro acorde. Esta que vos escreve odeia o termo “cult”, que batiza algumas produções de várias épocas, mas não há fuga neste caso: culto é a palavra que melhor define. Isso porque o filme permanece em cartaz até hoje em muitos cinemas menores e sessões com a plateia vestida à caráter e interagindo com as cenas são comuns. Basta lembrar de As vantagens de ser invisível, filme onde o trio principal apresenta o musical em um pequeno teatro. O tempo passa, mas The Rocky Horror Picture Show não perde o rebolado. Prova disso é a mais recente refilmagem, produzida para o canal Fox e que traz a maravilhosa Laverne Cox no papel principal.

Vivemos tempos difíceis, não há como negar. Mas o cinema é e sempre será uma máquina para fugir do mundo e também entendê-lo. Numa época onde uma parcela da população quer ver voltar um dos períodos mais sombrios da nossa história e há quem acredite que gays, lésbicas, transexuais, carecas, cabeludos, de vestido ou calça, ricos ou pobres, são pessoas menores ou com “problemas”, The Rocky Horror Picture Show continua dando o seu recado: não imagine, seja. Problema de verdade é não saber se divertir e respeitar os outros.

The Rocky Horror Picture Show
Ano:
1975
Direção:
Jim Sharman
Disponível em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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