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Cinco Dedos é inspirado no livro Operação Cícero, escrito pelo adido comercial da Embaixada Alemã L.C. Moyzisch

07/12/2016 23:02 Por Bianca Zasso
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Basta uma pesquisa rápida em livros e sites especializados no assunto para descobrir que a carreira de espião não é das mais fáceis. Em tempos de guerra, houve quem se aventurasse a descobrir e passar informações para o lado inimigo e nem todos tiveram um final feliz. Porém, Hollywood pouco se importa com a realidade e fez dos filmes de espionagem um subgênero que gerou boas produções. Uma das mais subestimadas, apesar de ter tido duas indicações ao Oscar, foi conduzido por um dos diretores mais impecáveis do período de protagonismo dos grandes estúdios. Joseph L. Mankiewicz, que costuma ter seu nome associado a superprodução Cleópatra, responsável por quase levar a Fox à falência, tinha uma elegância ao dirigir que era transmitida em cada cena que levava sua assinatura. Ao contar uma história de espionagem, não seria diferente.

Cinco dedos é inspirado no livro Operação Cícero, escrito pelo adido comercial da Embaixada Alemã L.C. Moyzisch que, durante a Segunda Guerra Mundial, acompanhou a trajetória do albanês Elyeza Bazna, um dos maiores espiões do conflito. Em Cinco dedos (uma referência as luvas usadas pelo protagonista), Bazna é rebatizado de Ulysses Diello e interpretado com o charme peculiar de James Manson, que se vale de sua natural discrição inglesa para dar vida a um humilde camareiro da Embaixada Britânica na Turquia que enxerga na espionagem o caminho para fazer fortuna e realizar o sonho de morar com conforto no Rio de Janeiro. Sonho esse que, pelo que aprece ser uma paixonite mal resolvida, o aproxima da antiga patroa, a condessa Staviska, interpretada por Danielle Darrieux, que passa a ser sua cúmplice e amante. Sim, há romance entre a pilha de documentos secretos. Afinal, estamos em Hollywood e beijos são sempre bem-vindos na tela grande. No entanto, ele surge como detalhe, já que o que faz de Cinco dedos um grande filme é mesmo a construção do roteiro e da trajetória brilhante de Diello, que, por vezes, parece ter saído da cabeça de um escritor e não das investigações policiais.

Os diálogos, sempre com um humor inteligente e sutil, tornam Cinco dedos mais que uma experiência de investigação para o espectador. Isso porque pouco se sabe do passado do protagonista além da origem humilde. Acompanhamos sua capacidade de tornar-se invisível para o Embaixador e também sempre disponível para fazer suas malas ou ajeitar seu smoking. Com a mesma habilidade com que serve o brandy, Diello aciona sua câmera e fotografa documentos secretos sobre os próximos passos da Inglaterra dentro da guerra. Cenas simples e bem filmadas, como a troca da lâmpada do abajur da casa do Embaixador, que permite que Diello fotografe com mais qualidade, deixam claro que estamos diante de um exemplar Mankiewicz. A câmera permanece tranquila, mesmo quando o conteúdo da cena envolve suspense, como se cada porta pudesse ser aberta a qualquer momento, revelando o verdadeiro talento de Diello para as pessoas que mais confiam nele. O ápice se dá na fuga do espião pelas ruas de Istambul, embalada pela trilha de Bernard Herrmann.

Discreto e certeiro seria uma boa definição para Cinco dedos. Assim como os bons espiões, o filme une entretenimento, uma leve aula de história e aquele sorriso que nos acompanha após os créditos finais, quando ficamos imaginando que realmente alguém topou a parada de ajudar os adoradores de Hitler e enriquecer com o tal serviço. Óbvio que a realidade não deve ter tido o brilho mostrado em Cinco Dedos. Mas uma coisa é certe: Mankiewicz deve ter espionado para saber o que encanta o espectador. Suas vítimas agradecem.

 

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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