RESENHA CRTICA: Afterimage (Afterimage/Powidoki)

Um filme que se enquadra entre os grandes da obra de Andrzej Wajda

17/08/2017 11:39 Da Redação
RESENHA CRÍTICA: Afterimage (Afterimage/Powidoki)

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Afterimage (Afterimage/Powidoki)

Polonia,16. 1h38min. Direção de Andrzej Wajda (1916-9 de outubro de 2016). Com Boguslaw Linda, Aleksandra Justa, Bronislawa Zamachowska, Zofia Sichlacz, Marius Bonaszewski, Krzysztof Pieczynski. Tomasz Wlosok.

Dentre os grandes cineastas de todos os tempos eu deixo um lugar especial reservado para o maior da Polônia, recém falecido já aos 90 anos, que não apenas deixou uma carreira excepcional de filmes políticos importantes como também teve participação fundamental na libertação de seu país ao apoiar o fim do regime comunista, mas em particular apoiando a resistência do líder Lech Walesa. Na verdade, sua história se confunde com a da própria Polônia, que veio de um trágico passado sob domínio nazista que ele revelou  tralhando desde 1950, numa série de filmes que anteciparam  o movimento francês da Nouvelle Vague (Generation, Kanal, Cinzas e Diamantes).Basta dizer que em nenhum momento ele fugiu a luta chegando a descrever mais de 60 anos de História (por exemplo, foi com Katyn, que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro, que se revelou que os oficiais mais competentes do país foram trucidados pelos nazistas a sangue frio e os chefes ocidentais ingleses e americanos esconderam essa barbaridade por décadas!).

Apesar de ser sim um engajado nas lutas de seu país, Wajda era também um grande cineasta e neste seu novo filme demonstra isso em pelo menos duas grandes cenas. Logo no começo quando a sala onde o pintor está fazendo seu trabalho fica coberta de sangue... na verdade, é uma grande bandeira vermelha que encobre a janela da casa, no que é um retrato de Stalin que passa a ocupar a Polônia, numa sucessão de desastres. Outra já no final do filme, o protagonista o pintor perto da morte tenta trabalhar numa loja tentando dar vida a manequins, e cai morto noutra cena inesquecível.

Passamos a seguir desde 1948, o protagonista Wladyslaw Stzreminki, que faz o pintor Boguslaw Linda, já sem braço e sem uma perna, ele leciona arte na famosa Escola de Artes Visuais de Lodz, serão anos de sofrimentos e perseguições, por vezes por questões banais, quase sempre estúpidas que afetam também os estudantes que tentam ajudá-lo. Mas a perseguição irá se repetir, inclusive numa exposição famosa que se chamava Neo Plastic Room.

Não é preciso dizer qual é o final, e em momento nenhum Wajda faz discursos ou lança pedras no governo, prefere contar a vida triste e arruinada (há outro momento que eu achei incrível, o artista não quer comer uma sopa, a senhora que por gentileza trata dele, vai embora irritada, ele arrependido e com fome, lambe o prato com a língua...). Um incrível cineasta que continuou fiel a si mesmo na sua despedida. Um filme que se enquadra entre os grandes de sua obra.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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