Umberto e as Orquídeas

Sete Orquídeas Manchadas de Sangue, lançado em 1972, segue a linha das histórias de assassinos de mulheres

24/10/2017 22:49 Por Bianca Zasso
Umberto e as Orquídeas

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Existem obras que precisam de um tempo para serem digeridas. Outras ainda, necessitam de outras obras para ganharem novos significados. A morte do diretor italiano Umberto Lenzi, ocorrida no dia 19 de outubro, fez com que, mesmo em meio a correria da vida, eu tirasse algumas horas para rever alguns de seus filmes. Eis que o exemplar que eu menos gostava de sua filmografia passou novamente diante dos meus olhos. E foi além: me fez reavivar a paixão pelo giallo.

Sete orquídeas manchadas de sangue, lançado em 1972, segue a linha das histórias de assassinos de mulheres. Lenzi é tão provocativo que em apenas quatro minutos de filme, já temos duas vítimas, ambas mortas com requintes de crueldade e que ganharam de “presente” do matador uma meia-lua de metal. Porém, uma moça, Giulia, escapa do ataque durante uma viagem de trem e resolve, junto com seu namorado Mario, embarcar na busca pelo criminoso. Não espere grandes atuações ou reviravoltas elaboradas. A magia do giallo está nos detalhes e Lenzi sabe aproveitá-los como poucos. Os pontos em vermelho nos cenários surgem nas flores, nas cortinas, na bebida. Se Mario Bava não economizava no verde, no rosa e no azul para iluminar suas personagens belas e mortas, seu companheiro de gênero gostava mesmo era de remeter ao sangue em gotas, embalado pela bela trilha de Riz Ortolani.

E por falar em Bava, há uma breve homenagem a ele. Lenzi faz a sua releitura da famosa cena da banheira de Seis mulheres para o assassino, de 1964, só que trocou a morena pela loira e optou por uma água cristalina. Mas os olhos arregalados de pavor estão lá. Aliás, estão por todo o filme. Se o delineador e o lápis preto eram moda na década de 70, Lenzi se valeu deles para deixar os olhos das mulheres de seus filmes ainda mais expressivos. É por ele que vemos a chegada da morte. É neles que moram o medo. E devem ser eles que dão prazer ao assassino quando consegue dar fim a mais uma moça. Uma orquídea a menos.

Umberto Lenzi carregou nas costas um peso chamado Cannibal Ferox, que está longe de ser um grande filme e que caiu na boca do povo por causa de suas cenas de crueldade e por ter sido proibido em mais de 30 países. Era esperado que a produção fosse a mais citada nas matérias dedicadas ao seu falecimento, perdendo apenas para Noite Maldita, filmado no Rio de Janeiro. Poucos foram os que lembraram que ele deu poesia para a violência policial em clássicos como Roma Armada e O império do crime. Parece ser o carma dos diretores do cinema de gênero. O que traz esperança é que Sete orquídeas manchadas de sangue podem ganhar novos espectadores, curiosos para saber o que mais fez aquele italianinho conhecido por filmes de canibais.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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