Eco em Dois Livros

O italiano Umberto Eco é um dos mais festejados intelectuais contemporâneos

04/11/2018 21:56 Por Eron Duarte Fagundes
Eco em Dois Livros

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O italiano Umberto Eco é um dos mais festejados intelectuais contemporâneos. E sua riqueza muito italiana de linguagem e humor se comprova em seus livros, ensaios ou romances. A ilha do dia anterior (L’isola del giorno prima; 1994) dá ao leitor o prazer de seus torneios barrocos, navegando por mares linguísticos assombrosamente criativos; sempre se pensou em Eco como um eco europeu de certas coisas que, de maneira mais áspera, o escritor argentino Jorge Luis Borges depositou em seus escritos; mas no caso de A ilha do dia anterior a referência mais evidente é outro clássico argentino, Adolfo Bioy Casares e seu A invenção de Morel (1940); há climas e atmosferas e invenções que parecem ter sido captados por Eco desde Casares.

Passado em alto-mar, narrado por um náufrago que depara com uma espécie de navio-fantasma no deserto marítimo, A ilha do dia anterior desliza em suas aventuras verbais com um requinte que aqui e ali pode parecer circular no vazio mas é sempre poeticamente excitante.

Eco funde uma ficção histórica rigorosa, pesquisada e pensada, com o engenho de tramas policialescas que podem cativar o chamado grande público, ansioso da emoção em ação em O cemitério de Praga (Il cimitero di Praga; 2010), um de seus últimos romances, onde reafirma as virtudes e os possíveis limites do ficcionista Eco; a capacidade de Eco de se valer dentro do universo ficcional de seus conhecimentos de historiador e pensador europeu, a articulação de personagens que variam bastante passando estranhamente do cômico ao sombrio, mas também os excessos cerebrais dos detalhes estorvando a espontaneidade da desenvoltura narrativa.

Mesmo assim, O cemitério de Praga é um exercício literário extremamente provocativo, um olhar enviesadamente irônico sobre a história. A questão judaica está premente: e ancestralmente. Um terror jocosamente infantil perpassa algumas passagens da história contada por Eco. As oscilações dos meandros narrativos são típicas do narrador de Eco. E tudo se entrelaça com a classe a que o autor italiano acostumou seu leitor.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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