O Grande Truque

Estratégias de divulgação à parte, A Lista de Adrian Messenger continua uma boa diversão, mesmo tendo passado décadas de sua chegada às telonas

20/06/2018 00:05 Por Bianca Zasso
O Grande Truque

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Existem filmes que envelhecem mal, seja pelos efeitos visuais datados ou mesmo pelo conteúdo do roteiro. Muito da receptividade de uma produção tem a ver com o período no qual ela é lançada. A Lista de Adrian Messenger não causou grande abalo nas bilheterias em 1963, apesar de conter ingredientes de sobra para ser um sucesso. Deem uma olhada no elenco: Kirk Douglas, Tony Curtis, Burt Lancaster, Robert Mitchum e Frank Sinatra. Na direção, John Huston, que circulava pelos mais variados gêneros com um talento ímpar. Mas então, o que foi que deu errado? O fato de que quase nenhum dos astros citados acima aparece na tela.

A Lista de Adrian Messenger tinha como objetivo ser um suspense que subverte a fórmula do “quem matou?”. Desde o início sabemos que é o personagem de Kirk Douglas o responsável pela série de mortes insólitas, cujas vítimas estão listadas em um papel deixado pelo Adrian Messenger do título ao seu amigo e ex-detetive Anthony Gethryn, pouco antes de morrer em um suposto desastre de avião. E por falar em Gethryn, é ele o grande trunfo deste filme que teve como estratégia de marketing a presença de grandes astros que aparecem sob pesadas máscaras de látex e muita maquiagem.

Já que o assassino é conhecido desde os créditos iniciais, alguma surpresa era necessária para atrair o espectador. O problema é que muitos desses atores sequer participaram das filmagens, sendo substituídos por dublês, e só deram as caras no divertido final do longa-metragem. Ou seja, por mais que as apostas para descobrir quem é quem embaixo do disfarce seja motivadora, não passa de algo inútil. Porém, muitos foram os que gastaram neurônios tentando descobrir onde estava Sinatra e Lancaster naquele mar de personagens.

Estratégias de divulgação à parte, A Lista de Adrian Messenger continua uma boa diversão, mesmo tendo passado décadas de sua chegada às telonas. O humor inteligente contido nos diálogos, escritos pelo roteirista Anthony Veiller (do ótimo A Noite da Iguana, também de Huston) e os enquadramentos criativos do diretor conseguem agradar até quem não é chegado nas tramas da turma de Agatha Christie. Mas o que brilha mesmo dentro da trama é a atuação de George C. Scott como Gethryn. Diferente de outros detetives do cinema, sempre com a resposta na ponta da língua, Scott constrói todo um clima antes de apontar suas conclusões. O espectador acredita que aquele homem está mesmo pensando qual a próxima estratégia do matador misterioso. Sim, porque apenas nós sabemos quem ele é. Somos os donos da verdade. Pelo menos até o capítulo final, onde uma surpresa faz com que a gente prenda a respiração.

É um tanto frustrante saber que até o próprio Kirk Douglas não está presente em algumas cenas (substituído pelo ator Jan Merlin), mas se abstrairmos deste detalhes sobre os bastidores, com certeza teremos uma sessão deliciosa. Afinal, se levarmos tudo tão à sério, inclusive as histórias absurdas que existem aos montes no cinema, a vida real perde a graça. E nunca se precisou tanto de sonhos e sorrisos como nos nossos tempos.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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