O Encanto Hollywoodiano de um Vienense
Pode-se dizer que A Vênus loira teve uma influência decisiva na sétima arte
Josef Von Sternberg não foi o único austríaco que trouxe traços vienenses para a capital da indústria do cinema. Erich Von Stroheim e, mais decisivamente, Billy Wilder o fizeram. No entanto, Von Sternberg foi o que mais soube trazer à tela os encantos hollywoodianos genuínos.
A Vênus loira (Blonde Venus; 1932), filme posterior ao marco de sua filmografia O anjo azul (1930), usa de todos os trunfos visuais muito americanos para impor-se ao espectador. Seu senso plástico é a Hollywood em seu cume: poucas vezes se pôde ver uma estrela, no caso a magnífica alemã Marlene Dietrich (que também interpreta O anjo azul), desenlaçar-se tão bem nos cenários, entre a família e o cabaré, dizendo diálogos ora remidos, ora maliciosos, e também cantando, uma destas vezes Marlene está em Paris, exercitando seu francês numa canção (Marlene viveu seus últimos anos na cidade-luz, onde morreu em 1992).
Pode-se dizer que A Vênus loira teve uma influência decisiva na sétima arte. Ao jogar com a duplicidade moral do humano, utilizando o cabaré e a família como signos das duas faces duma personagem, Von Sternberg veio a ter no espanhol Luis Buñuel e igualmente no polonês Krysztof Kieslowski (as sinuosidades metafísicas da Verônica deste cineasta remetem à matriz Helen, de Von Sternberg/Dietrich). E a performance de Marlene em A Vênus loira, mostrando uma personagem que no gozo da vida topa suas próprias inquietações de ética sexual (uma espécie de remorso que marca seus passos mesmo no esplendor do prazer), foi refeita depois pela própria Marlene e por Billy Wilder em A mundana (1948).
Sob qualquer ângulo que se tomar, A Vênus loira permanece um filme pioneiro, aonde as sombras do envelhecimento pouco têm que fazer.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br